Embaixada pede desculpas à família de Dom Phillips por erro
15 de junho de 2022O embaixador brasileiro no Reino Unido, Fred Arruda, pediu desculpas nesta terça-feira (14/06) à família de Dom Phillips por a embaixada ter informado incorretamente que o corpo do jornalista britânico havia sido encontrado na Amazônia, juntamente com o do indigenista Bruno Pereira. Os dois estão desaparecidos há nove dias em uma região remota da floresta, palco de conflitos entre indígenas e invasores de terras.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, do qual Phillips é colaborador, na manhã de segunda-feira, um funcionário da embaixada brasileira ligou para a irmã e o cunhado do jornalista, informando que os corpos dele e de Pereira haviam sido encontrados amarrados a uma árvore.
A informação foi repassada à imprensa pela mulher do jornalista, Alessandra Sampaio, e divulgada por vários veículos de comunicação do Brasil e do mundo. Logo depois, a Polícia Federal e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) negaram que os corpos tivessem sido encontrados e afirmaram que as buscas pela dupla prosseguiam.
Nesta terça-feira, Arruda escreveu à família de Phillips para pedir desculpas. "Lamentamos profundamente que a embaixada tenha passado à família ontem informações que não se mostraram corretas", disse.
De acordo com o diplomata brasileiro, uma equipe multiagências criada na embaixada em Londres para lidar com o caso havia sido "enganada" por informações recebidas de "investigadores".
"Pensando bem, houve precipitação por parte da equipe multiagências, pelo que peço desculpa de todo o coração", acrescentou Arruda. Segundo o diplomata, "a operação de busca vai continuar, sem poupar esforços".
"Nossos pensamentos permanecem com Dom, Bruno, vocês e os outros membros de ambas as famílias", escreveu o embaixador.
Desaparecidos há nove dias
Dom Phillips e Bruno Pereira foram vistos pela última vez no dia 5 de junho, enquanto viajavam pelo Vale do Javari, uma região remota do estado do Amazonas. Segundo informações da Univaja, da qual Pereira fazia parte, o indigenista era alvo de ameaças constantes de madeireiros, garimpeiros e pescadores da região. Desde então, membros das forças de segurança e voluntários indígenas passaram a vasculhar a área.
Na última sexta-feira, a Polícia Federal no Amazonas informou que equipes de busca chegaram a encontrar material orgânico "aparentemente humano" em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte. O material ainda está sendo periciado.
No domingo, a Polícia Federal também divulgou que foram encontrados objetos pessoais pertencentes aos desaparecidos: um cartão de saúde em nome de Bruno Pereira; uma calça, um chinelo e botas pertencentes ao indigenista; botas e uma mochila pertencentes a Dom Phillips contendo roupas.
Principal suspeito
Segundo o coordenador da equipe dos Bombeiros em Atalaia do Norte (AM), Barbosa Amorim, citado pelo portal G1, os objetos foram achados próximo à casa de Amarildo Costa de Oliveira, que está preso e é o principal suspeito pelo desaparecimento. A mochila estava amarrada a uma árvore em uma área de igapó, região alagada da Floresta Amazônica, de acordo com mergulhadores dos bombeiros. Em abril deste ano, Costa de Oliveira foi denunciado por invasão de terra indígena e pesca ilegal pela Univaja. Pereira foi um dos autores da denúncia.
Costa de Oliveira afirmou em depoimento à Polícia Federal que viu Pereira no dia 5 passando de barco em frente à Comunidade São Gabriel, onde mora. No entanto, ele negou ter saído de casa durante todo o dia e disse que conhecia Pereira "apenas de vista" e que nunca havia conversado com ele.
Quem são os desaparecidos
Bruno Araújo Pereira
Pereira é um dos funcionários mais experientes da Funai que atua na região do Vale do Javari. Ele supervisionou o escritório regional da entidade antes de sair em licença.
Pereira também foi o responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai até outubro de 2019, quando foi exonerado por pressão política, já no governo Bolsonaro e quando a Funai estava sob a jurisdição do então ministro da Justiça Sergio Moro. Em seu lugar, foi indicado um delegado da Polícia Federal, apoiado pela bancada ruralista.
Segundo entidades, ele era alvo constante de ameaças de pescadores e caçadores ilegais.
"A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, o Ministério Público Federal em Tabatinga, o Conselho Nacional de Direitos Humanos e o Indigenous Peoples Rights International", disse a Univaja em nota.
Dom Phillips
Jornalista veterano e colaborador do The Guardian, Phillips, de 57 anos, vive no Brasil há 15 anos. Ao longo da sua carreira, ele também escreveu para vários outros veículos internacionais, incluindo Financial Times, New York Times e Washington Post, além de ter produzido reportagens para o serviço em inglês da Deutsche Welle (DW).
Antes de desaparecer, Phillips trabalhava num livro sobre preservação da Amazônia, com apoio da Fundação Alicia Patterson, que lhe concedeu uma bolsa de um ano para reportagens ambientais, que durou até janeiro.
"Ele é um jornalista cauteloso, com um conhecimento impressionante das complexidades da crise ambiental brasileira", escreveu Margaret Engel, diretora executiva da Fundação Alicia Patterson, em um e-mail.
Atualmente, Phillips reside em Salvador com sua esposa.
le (ots)