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Eleição presidencial nunca teve virada no segundo turno

24 de outubro de 2022

Histórico de eleições desde a redemocratização é desfavorável para candidatos como Bolsonaro, que terminou 1° turno em segundo lugar. Nas disputas para governador, reviravoltas ocorreram em menos de um terço dos casos.

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Lula e Bolsonaro
Lula e Bolsonaro. Presidente terminou primeiro turno com uma desvantagem de seis milhões de votosFoto: Marcelo Chello/AP/picture alliance

O presidente Jair Bolsonaro (PL) terminou o primeiro turno da eleição presidencial de 2022 com uma desvantagem de 6 milhões de votos em relação a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ou 5,23 pontos percentuais.

O ocupante de extrema direita do Planalto surpreendeu, contrariando pesquisas que chegaram a apontar que ele estava até dez pontos atrás de Lula. E no segundo turno, o presidente registrou uma oscilação positiva no último Datafolha, aparecendo com 45% das intenções de votos, contra 49% do seu rival social-democrata Lula.

Apesar de o Planalto estar usando em peso a máquina pública com programas e medidas eleitoreiras e investindo numa pesada campanha de ataques ao PT para tentar reverter a desvantagem, o histórico das eleições presidenciais desde a redemocratização não é favorável para quem acaba o primeiro turno na segunda colocação.

Desde 1989, quando o Brasil voltou a ter eleições presidenciais diretas – e estreou o mecanismo de segundo turno –, nunca houve uma reviravolta na corrida ao Planalto entre um turno e outro. Essa foi a regra em todas as seis disputas presidenciais que tiveram segundo turno entre 1989 e 2018. Mesmo em disputas estaduais o histórico é desfavorável (leia mais abaixo).

Em pouco mais de 30 anos, o próprio PT fracassou duas vezes em tentar forçar uma reviravolta na disputa presidencial. No primeiro turno de 1989, Lula ficou 13,3 pontos atrás do rival Fernando Collor. Entre os dois turnos, Lula conseguiu crescer 29,8 pontos percentuais, mas ainda assim acabou perdendo a votação final para Collor por seis pontos de desvantagem.

Em 2018, foi a vez de Fernando Haddad passar pela mesma dificuldade. O petista, que substituiu Lula pouco menos de um mês antes do primeiro turno, terminou 16,75 pontos atrás de Bolsonaro na primeira rodada. No segundo turno, Haddad cresceu, mas ainda assim terminou pouco mais de dez pontos atrás do atual presidente.

Lula na campanha de 1989
Lula na campanha de 1989. Petista recebeu apoios de candidatos derrotados no primeiro turno, mas não conseguiu forçar reviravolta e perdeu para CollorFoto: picture-alliance/dpa/R. Gostoli

O candidato em desvantagem que mais chegou perto de conseguir virar uma eleição foi Aécio Neves (PSDB) em 2014.

À época, graças a um forte impulso nos dias que precederam o primeiro turno, ele chegou a segunda rodada oito pontos atrás de Dilma Rousseff (PT), que concorria à reeleição. Em uma campanha acirrada no segundo turno, que foi marcada pela interferência da Lava Jato, Aécio conseguiu diminuir significativamente a desvantagem, mas ainda assim acabou derrotado por Dilma por uma diferença de apenas 3,2 pontos, no que é até hoje o pleito presidencial mais acirrado desde a redemocratização.

Os candidatos José Serra em 2002 e 2010 e Geraldo Alckmin em 2006 perderam no segundo turno por diferenças superiores a 11 pontos. Alckmin, por sua vez, conseguiu em 2006 um feito negativo que até hoje não foi repetido: perder votos entre o primeiro e o segundo turno.

Por outro lado, desde 1998, quando passou a ser aplicado o mecanismo da reeleição, nunca um presidente incumbente que tentava assegurar mais um mandato perdeu o pleito. No entanto, mesmo antes do fim da eleição, Bolsonaro já assegurou um recorde negativo nessa esfera: ele já se tornou o primeiro presidente em busca da reeleição da história brasileira que terminou o primeiro turno na segunda colocação.

Aécio Neves e Dilma Rousseff em 2014
Aécio Neves e Dilma Rousseff em 2014. Tucano foi o que mais chegou perto de conseguir uma virada num segundo turnoFoto: Reuters/P. Whitaker

Histórico de reviravoltas nos estados também não é favorável

Reviravoltas em disputas para os governos estaduais, embora não sejam inéditas, também apresentam histórico desfavorável para quem termina o primeiro turno na segunda colocação.

Desde 1990, quando as eleições para governador passaram a contar com mecanismo de segundo turno, o Brasil foi palco de 108 eleições estaduais que tiveram uma rodada extra de votação, após nenhum candidato superar a marca de 50% dos votos válidos no primeiro turno.

Em todas essas 108 eleições estaduais com segundo turno entre 1990 e 2018 só houve registro de reviravolta em 31 disputas – ou 29% do total.

Algumas dessas disputas se tornaram famosas. Em 1994, Eduardo Azeredo (PSDB) terminou o primeiro turno da disputa pelo governo de Minas Gerais 21,1 pontos atrás de Hélio Costa (PP). No segundo turno, com apoio decisivo do então governador Hélio Garcia (PTB) e embalado pelo sucesso do Plano Real, que turbinou candidaturas tucanas país afora, Azeredo virou a eleição. Costa até conseguiu aumentar timidamente sua votação, mas acabou ficando 17,5 pontos atrás de Azeredo na segunda rodada.

Em 1990, Paulo Maluf (PDS) terminou o primeiro turno em São Paulo com 43,5% dos votos e uma vantagem de 15,3 pontos sobre o segundo colocado, Luiz Antônio Fleury (PMDB). No entanto, no segundo turno, Fleury explorou a alta rejeição registrada por Maluf e recebeu os votos do eleitorado de candidatos antimalufistas que haviam sido derrotados na primeira rodada. Fleury acabou praticamente dobrando sua votação entre um turno e outro, derrotando Maluf por 3,6 pontos de vantagem.

Porém, mais da metade das reviravoltas de segundo turno estaduais aconteceram nos anos 1990. Foram 16 entre 1990 e 1998.

O pleito de 2014 foi o último com um número significativo de viradas em disputas estaduais: foram cinco no total em 14 votações de segundo turno. No entanto, nenhuma delas registrou viradas que ultrapassaram mais de dez pontos de desvantagem, como havia ocorrido algumas vezes nos anos 1990. Em quatro delas, a diferença entre os dois candidatos na primeira rodada ficou entre 0,2 e 3,8 pontos. Em apenas uma houve registro de um candidato que superou uma desvantagem superior a cinco pontos.

Já a eleição seguinte, em 2018, teve novamente 14 disputas estaduais com segundo turno. Mas apenas duas registraram viradas: em Rondônia e Santa Catarina.

Naquela eleição, as reviravoltas receberam um empurrão da onda de direita que varreu o pleito de 2018.

Em Santa Catarina, Comandante Moisés (então no PSL), praticamente um desconhecido antes da eleição, terminou o primeiro turno com 1,4 ponto de desvantagem. No segundo turno, associando fortemente sua imagem a Bolsonaro, acabou virando a disputa, vencendo com uma vantagem espantosa da 42,2 pontos sobre seu rival, Gelson Merísio (PSD), que havia sido o primeiro colocado na primeira etapa.

Em Rondônia, outro bolsonarista, Marcos Rocha (então no PSL), ficou 7,6 pontos atrás de Expedito Jr. (PSDB) na primeira rodada. No segundo turno, virou o pleito, vencendo com 32,6 pontos de vantagem.

Mas, quatro anos depois, os dois candidatos demonstraram menos poder de influência sobre o eleitorado. O catarinense Moisés acabou sendo derrotado ainda no primeiro turno quando buscou a reeleição. Já em Rondônia, Marcos Rocha (agora no União Brasil), terminou o primeiro turno do pleito de 2022 com 38,88% dos votos, apenas 1,83 ponto acima do seu rival na segunda rodada, Marcos Rogério (PL), que também se declara apoiador de Bolsonaro. Na última pesquisa Ipec no estado, os dois apareceram empatados, registrando 45% das intenções de votos cada um.