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Música eletrônica

Carlos Albuquerque9 de março de 2007

Considerado uma revelação da música eletrônica pela imprensa especializada alemã, o DJ paulista Gui Boratto acaba de lançar seu primeiro álbum completo na Alemanha. DW-WORLD conversou com o DJ de sucesso.

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Gui Boratto acha que a cena eletrônica no Brasil só tende a aumentarFoto: kompakt

Festejado pela imprensa especializada alemã, o DJ paulista Gui Boratto acaba de lançar seu primeiro álbum completo pela gravadora alemã Kompakt. Seu disco Atol Remixes foi considerado o disco do mês, em fevereiro último, pela revista Raveline, uma das principais referências em tecno, house e cultura de clube da Alemanha. Para saber mais sobre seu trabalho e sobre a música eletrônica, a DW-WORLD conversou com o DJ de sucesso.

DW-WORLD: Você é considerado, hoje, uma revelação da música eletrônica pela imprensa especializada alemã. Para você, o que significa música eletrônica e que tipo de música eletrônica você faz?

Gui Boratto: Música eletrônica pode ser a música executada plasticamente com elementos eletrônicos ou pode ser a música executada com a tecnologia que normalmente se usa na música eletrônica, usando-a como ferramenta para se obterem novos recursos, como grandes artistas do pop e do rock o fazem. No meu caso, eu uso essas ferramentas pela questão plástica, mas eu as utilizo no universo do tecno mesmo. Acho que meu som se enquadraria em um tecno lento alternativo.

Você concorda que se escuta a influência latino-americana na música eletrônica que você faz?

Não, não concordo. Acho, porém, que todo mundo que produz e faz música, acaba colocando, direta ou indiretamente, suas influências no trabalho. Pelo fato de eu não usar bongôs, congas, atabaques, cuícas – instrumentos de percussão tipicamente brasileiros – nas minhas produções, as pessoas até ficam surpresas quando descobrem que sou brasileiro. Como escutei muita bossa nova, muito Chico, muita música brasileira, acho que, aí sim, pode haver alguma influência, não na produção de percussão, mas nas harmonias, nas melodias.

Na Alemanha, a gravadora Kompakt lançou mundialmente, na semana passada, o seu primeiro álbum completo em CD, o Chromophobia. A revista alemã Raveline elegeu seu disco Atol (Remixes), do selo Harthouse, como o melhor disco do mês, em fevereiro. Como nasceu sua ligação com a Alemanha?

De repente, resolvi mandar um CD para a Kompakt com duas faixas, "Arquipélago" e "Simetria". Assim que o Michael Meyer da Kompakt as escutou, ele falou que adorou e que queria lançá-las. O nosso single de estréia se tornou o mais vendido da gravadora em 2006 e foi para várias compilações.

Já no caso da Harthouse, eu havia lançado dois singles, em 2004, pela Plastic City e pela Circle, selos que fazem parte da mesma companhia da Harthouse. O Atol Remixes, que saiu como disco do mês pela Raveline, é uma versão nova que a gente fez nos últimos meses. E é isso, meu primeiro contato com a Kompakt foi pelo correio mesmo, através de um CD, como acontece com outras mil pessoas que mandam música para um label.

Você acha que a Alemanha é atualmente a maior referência para música eletrônica? Existe um desejo de DJs brasileiros virem para Alemanha?

Plattencover Gui Boratto: Chromophobia
Primeiro CD de Gui Boratto, lançado pela Kompakt alemãFoto: Kompakt

Eu tenho certeza. Acho que a Inglaterra ditou, durante anos, a tendência na música, monopolizando assim o mercado. Os ingleses ficaram muito ligados ao rock, o que acabou abrindo espaço para o tecno. Mas o tecno que se estava fazendo, até cinco anos atrás, estagnou e o som que os alemães sempre fizeram acabou se tornando um som muito mais interessante e, hoje, é claro que a referência maior é a Alemanha. Entre dez produtores de música eletrônica, de tecno principalmente, oito são alemães.

Concordo com a sua afirmação de que os alemães são a grande referência atual da música eletrônica e acho que, atualmente, um artista brasileiro preferiria um label alemão para lançar seu trabalho, com certeza.

Como está a situação da música eletrônica no Brasil?

Aqui no Brasil, em termos de números e mercado, ainda está engatinhando. A realidade brasileira é outra. Nas rádios, o que o povo escuta e o que se vende é outro estilo: samba, axé e até poprock, principalmente entre os mais jovens.

Apesar de tudo isso, a cena aqui é fortíssima. A gente tem clubes que fazem festas de segunda a segunda, recebendo DJs internacionais toda semana. Há grandes clubes, principalmente no sul do país, para três, cinco mil pessoas, que recebem DJs de uma linha mais comercial. Em São Paulo, você tem clubes menores, para 300, 400 pessoas, onde tocam DJs mais conceituais e alternativos como DJ Hell, Michael Meyer, Phonique. Neste universo de house e tecno, você tem público para todo tipo de música no Brasil, desde os mais comerciais até os mais conceituais. É uma cena com muito potencial e a tendência é aumentar

Como muitos músicos, você estudou arquitetura, continuando a longa tradição do relacionamento entre a arquitetura e música. Se você fosse comparar o tecno minimalista a um arquiteto ou edifício, a quem você compararia?

Nationalkongress
Niemeyer: concreto e minimalismoFoto: Marcel Gautherot/Insituto Moreira Salles

Eu compararia à obra do Oscar Niemeyer. Apesar de eu não enxergar a música minimalista desta forma. Acho que o movimento minimalista dos anos de 1950 e 1960 tem uma outra conotação. Se você observar artistas minimalistas reais, tipo o Philip Glass e as pessoas dos anos de 50 e 60, eles têm uma questão orgânica de instrumentos muito percussivos, instrumentos indianos.O tecno minimal alemão não tem nada de orgânico.

Ele é feito por máquinas, por sintetizadores. Raramente, você escuta essa coisa orgânica percussiva que você escuta no house, que tem muito mais relação com os anos 50 e 60. Se eu escuto, hoje, o tecno alemão e imagino a obra de um arquiteto, acho que é a obra do Niemeyer. O Museu de Arte de Niterói; o Memorial da América Latina, aqui em São Paulo; Brasília tem alguns pontos; Belo Horizonte também tem obras do Niemeyer que me remetem ao som da Alemanha de hoje.

Após ter participado da trilha sonora de Cidade de Deus e de outras coletâneas aqui na Alemanha, você lança, com muito sucesso, seu primeiro álbum completo pela Kompakt. Quais são seus planos para 2007 e para os próximos anos?

Vou viajar bastante promovendo meu álbum e vou continuar fazendo remixes, lançando novos singles. Mas não quero pensar em disco novo, agora. A gente mal lançou o primeiro e eu estou muito contente com o barulho que está fazendo. A partir de meados de março, vou tocar bastante na Alemanha, na Suécia, na Rússia, na Áustria. Adoro tocar na Europa, principalmente na Alemanha. Em maio, vou para os EUA com o Michael Meyer. Vai ser uma correria.

Devo voltar para Europa, no meio do ano, para as closing parties do início de setembro, em Berlim possivelmente, onde eu adorei tocar. Toquei no Panorama Bar. Foi uma noite muito legal. O povo de Berlim é muito parecido com os brasileiros. É um povo que grita mesmo e não tem vergonha de pular. É um povo que não tem nada de frio.