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Diretor da Precisa se cala na CPI e tem sigilos quebrados

24 de setembro de 2021

Danilo Trento negou ter participado de negociações da Covaxin, mas usou direito de ficar em silêncio na maior parte do depoimento. CPI apura se ele viajou com Flávio Bolsonaro a Las Vegas. Comissão convoca Luciano Hang.

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O empresário Danilo Trento em depoimento à CPI da Pandemia
"O senhor participou da morte de Getúlio Vargas?", ironizou presidente da CPI, irritado com silêncio de Danilo Trento (foto)Foto: Antonio Molina/Fotoarena/imago images

O empresário Danilo Trento, diretor institucional da Precisa Medicamentos, usou seu direito de ficar em silêncio para evitar responder à maior parte das perguntas dos senadores na CPI da Pandemia, durante seu depoimento nesta quinta-feira (23/09).

"Senhor senador, com o devido respeito, irei permanecer em silêncio", repetiu o empresário dezenas de vezes ao longo da sessão, amparado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em meio às repetidas recusas, a CPI decidiu quebrar os sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático do depoente e do irmão dele, Gustavo Berndt Trento.

Nas poucas perguntas a que respondeu, Trento confirmou ser diretor da Precisa, mas negou ter participado de qualquer negociação da empresa junto ao Ministério da Saúde sobre a compra da vacina indiana Covaxin contra a covid-19, um dos principais alvos da CPI no Senado.

A Precisa Medicamentos era a representante do laboratório indiano Bharat Biotech, que produz a Covaxin, nas tratativas com o Ministério da Saúde, apesar de não possuir vínculo formal com a empresa. O contrato acabou suspenso após denúncias de irregularidades.

Trento, contudo, foi vago sobre a função que desempenhava na Precisa e sobre as operações da empresa. Ainda se negou a responder se é remunerado pela companhia e se é sócio do empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa, em alguma outra empresa. Questionado sobre sua relação com Maximiano, ele disse ser seu "amigo pessoal".

Lavagem de dinheiro

A CPI suspeita que Danilo Trento lavava dinheiro para a Precisa, usando sua própria empresa, a Primarcial, para repassar recursos a outras. O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), apontou que o colegiado tem provas de movimentações financeiras entre empresas ligadas a Maximiano e a Trento, indicando possível lavagem de dinheiro nos negócios.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), listou algumas transferências suspeitas feitas pela Primarcial, como um repasse de R$ 78 mil a uma joalheria. Trento silenciou e não quis comentar o caso.

Segundo Raldolfe, a Primarcial ainda teria feito negócios com uma empresa chamada Elite Participações, que por sua vez fez transferências de altas quantias para padarias, incluindo uma de R$ 9 milhões. Trento novamente se calou.

O vice-presidente da comissão também mencionou repasses feitos para a empresa Barão Turismo, cujos valores teriam aumentado em novembro de 2020, época em que se iniciaram as negociações da Covaxin, e tido um salto em fevereiro deste ano, quando o contrato com o governo foi assinado.

"A Barão Turismo é a lavadora de dinheiro. É a lavadora de dinheiro, e o salto das transferências é no mês de fevereiro, mês da assinatura de contrato", afirmou Randolfe.

Trento se calou sobre o caso, mas, no início de seu depoimento, ele havia afirmado que a Barão Turismo é uma empresa de Rafael Barão que presta serviços para a Precisa.

Viagem com Flávio Bolsonaro

O depoimento de Danilo Trento ainda colocou na mira da CPI uma possível viagem dele para Las Vegas, nos Estados Unidos, com uma comitiva de senadores brasileiros.

Questionado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) se já havia ido a Las Vegas, o empresário respondeu que acredita ter ido uma única vez. Mas usou seu direito de ficar em silêncio quando perguntado se viajou acompanhado de algum senador, recusando-se a dar nomes.

A CPI agora apura se Trento viajou junto a uma comitiva de senadores que esteve na cidade americana entre 18 e 24 de janeiro de 2020 e que incluiu o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro.

Em requerimento na época, Flávio afirmou que a viagem visava "acompanhar a comitiva do Instituto Brasileiro de Turismo – Embratur em reuniões institucionais com o Carnival Group e a Royal Caribbean International, em Miami, e com o presidente e CEO do Las Vegas Sand Corporation, Sheldon Adelson, em Las Vegas".

Durante o depoimento, Trento disse que conhece Flávio de "eventos institucionais" – embora inicialmente tivesse afirmado que não responderia a questões sobre seu relacionamento com a família Bolsonaro.

Getúlio Vargas

O silêncio de Danilo Trento – que rejeitou seu direito a 15 minutos de pronunciamento inicial e não prestou o compromisso de dizer a verdade durante o depoimento – irritou os senadores.

Em certo momento, diante das repetidas declarações do empresário de que iria "permanecer em silêncio", o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu testar se ele manteria a mesma resposta e perguntou se o empresário participou da morte do ex-presidente Getúlio Vargas. Trento respondeu apenas que "não".

Antes, Aziz já havia ironizado a postura do empresário ao pedir que a mesa diretora da CPI conseguisse um gravador para evitar que Trento se cansasse de responder sempre a mesma frase.

Os senadores entenderam que o depoente não estava colaborando com as investigações e aprovaram um requerimento para a quebra de seus sigilos fiscal, bancário, telefônico e telemático.

CPI convoca Luciano Hang e advogada

Também na sessão desta quinta-feira, os senadores aprovaram a convocação do empresário bolsonarista Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan.

Ele é apontado como membro do chamado "gabinete paralelo", suspeito de influenciar políticas do Ministério da Saúde e de assessorar o presidente Bolsonaro na promoção de tratamentos ineficazes contra a covid-19. O grupo incluía figuras como a oncologista Nise Yamaguchi e o deputado Osmar Terra (MDB-RS), um dos principais ideólogos do negacionismo junto ao Planalto.

Em fevereiro, a mãe de Hang morreu de covid-19 em um hospital da rede Prevent Senior, um dos alvos da comissão. Após a morte, o empresário afirmou em redes sociais que a mãe poderia ter sobrevivido se tivesse feito o "tratamento precoce". Contudo, documentos médicos obtidos pela CPI apontam que Regina Hang foi, sim, tratada com medicamentos do chamado "kit covid".

O depoimento de Luciano Hang à comissão foi marcado para a próxima quarta-feira, 29 de setembro. Em comunicado, o empresário disse que "será um prazer estar presente e falar de todo o trabalho que nós fizemos, visando ajudar no enfrentamento da pandemia".

A CPI aprovou também nesta quinta-feira a convocação da advogada Bruna Morato, que representa os médicos que denunciaram irregularidades na Prevent Senior.

Morato ajudou os profissionais a elaborarem um dossiê, em poder da CPI, que afirma que os hospitais da rede foram usados como laboratório para pesquisas com medicamentos do "kit covid". Pacientes com suspeita ou diagnóstico de covid-19 teriam recebido cloroquina, azitromicina, ivermectina e outros remédios ineficazes sem serem informados.

ek (ots)