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Deterioração em Mariupol marca o 27º dia da guerra

23 de março de 2022

Cidade portuária vive situação humanitária catastrófica, sitiada por tropas russas. Zelenski acusa russos de sequestrarem membros de comboio humanitário. Veja os principais destaques desta terça-feira sobre o conflito.

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Foto mostra veículos militares em ruas quase desertas. A rua está destruída
Dezenas de milhares de pessoas estão sitiadas em MariupolFoto: Nikolai Trishin/ITAR-TASS/IMAGO

A situação em Mariupol e em outras cidades ucranianas se deteriorou ainda mais nesta terça-feira (22/03), 27º dia da guerra na Ucrânia. O dia também foi marcado pelo apelo do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, para que o papa Francisco medie o conflito com a Rússia e pela homenagem da Alemanha a um sobrevivente do Holocausto morto em um bombardeio russo na Ucrânia.

Nesta terça-feira, após semanas de bombardeios pelas forças russas, Zelenski disse, em discurso ao Parlamento italiano, que "não resta mais nada" da cidade portuária de Mariupol, no sul do país. Ele voltou a apelar à Rússia que permita a saída de dezenas de milhares de pessoas que ainda permanecem na cidade.

Enquanto Zelenski discursava, autoridades ucranianas disseram que a Rússia lançou duas grandes bombas em Mariupol. A cidade está cercada por tropas russas há vários dias, que também impedem a saída de civis e a chegada de ajuda humanitária. As pessoas estão sem água, energia, telefone e comida. Vários derretem neve para terem o que beber. Diversas tentativas de corredores humanitários foram frustradas, com Rússia e Ucrânia se culpando mutuamente.

Mariupol foi palco de cenas avassaladoras da guerra, como um bombardeio a uma maternidade e a um teatro onde estavam abrigadas centenas de pessoas.

De acordo com a ONG Human Rights Watch, mais de 200 mil pessoas estão presas na cidade. O jornal britânico The Guardian noticiou que a ONG descreveu a situação na cidade como uma "paisagem infernal congelante repleta de cadáveres e prédios destruídos".

 Zelenski acusou tropas russas de bombardearem uma rota de fuga de Mariupol. Quatro crianças ficaram feridas, disse o presidente ucraniano em uma mensagem de vídeo. O bombardeio ocorreu na região de Zaporínjia, destino de muitos moradores de Mariupol em busca de segurança.

Comboio sequestrado

À noite, Kiev informou que separatistas pró-Rússia prenderam um comboio de ajuda que se dirigia a Mariupol. Combatentes da autoproclamada República Popular de Donetsk fizeram vários funcionários da defesa civil ucraniana reféns em Manhush, 10 quilômetros a oeste de Mariupol, informou a vice-primeira-ministra, Iryna Vereschuk. A informação não pôde ser verificada de forma independente pela DW.

As pessoas feitas reféns dirigiam ônibus nos quais civis deveriam ser retirados de Mariupol, disse Vereshchuk. A rota de fuga havia sido acordada com a Cruz Vermelha Internacional.

Segundo Zelenski, apesar de todas as dificuldades, mais de sete mil pessoas foram retiradas de Mariupol nesta terça-feira. "Nossos representantes estão tentando organizar corredores humanitários nas regiões de Kiev, Kharkiv, Zaporínjia e Luhansk", disse Zelenski.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou o conflito como "absurdo". "Mesmo que Mariupol caia, a Ucrânia não pode ser conquistada cidade por cidade, rua por rua, casa por casa", disse Guterres.

Ele acrescentou que "o único resultado" é "mais sofrimento, mais destruição e mais horror até onde os olhos podem ver".

Segundo fontes ucranianas, além de Mariupol, o exército russo atacou várias cidades do país nesta terça, incluindo Kiev, Kharkiv, Odessa e Mykolaiv.

Situação crítica em Kherson

Além de Mariupol, a cidade de Kherson também está vivendo uma tragédia humanitária. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia disse que 300 mil pessoas em Kherson, ocupada pela Rússia, estão ficando sem comida e suprimentos médicos. Kiev também afirmou que a Rússia está impedindo a retirada de civis para locais seguros.

"Os 300 mil cidadãos de Kherson enfrentam uma catástrofe humanitária devido ao bloqueio do exército russo", disse o porta-voz Oleg Nikolenko.

Barricada feita de sacos. Ao fundo, uma bandeira da Ucrânia.
Militares ucranianos disseram que tropas expulsaram as forças russas de MakarivFoto: Rodrigo Abd/ASSOCIATED PRESS/picture alliance

Por outro lado, os militares ucranianos disseram que suas tropas expulsaram as forças russas de Makariv, cerca de 60 quilômetros a oeste de Kiev. 

A cidade estrategicamente importante foi palco de uma batalha feroz e sofreu danos significativos de bombardeios russos, disse o Ministério da Defesa ucraniano, acrescentando que sua recaptura impede que as forças russas cerquem a capital pelo noroeste. 

"A bandeira da Ucrânia foi hasteada sobre a cidade de Makariv", escreveu o ministério em um post no Facebook. A DW não pôde confirmar a alegação das forças da Ucrânia.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos informou que que 953 pessoas foram mortas, entre elas 78 crianças, e 1.557 ficaram feridas desde o início da invasão russa na Ucrânia.

Por sua vez, a agência de refugiados da ONU disse que mais de 3,3 milhões de refugiados ucranianos chegaram a países vizinhos desde o começo da ofensiva russa, em 24 de fevereiro. A grande maioria, mais de 2 milhões, cruzou a fronteira para a Polônia, disse a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

Telefonema com o Papa

Zelenski, afirmou nesta terça-feira que, em telefonema com o papa Francisco, "falou com Sua Santidade sobre a difícil situação humanitária e o bloqueio dos corredores de resgate pelas tropas russas", bem como sobre a resistência do povo ucraniano, "que se tornou exército quando viu o mal".

"O papel mediador da Santa Sé para pôr um fim ao sofrimento humano seria bem-vindo. Agradeci-lhe por suas orações pela paz e pela Ucrânia", escreveu Zelenski no Twitter após a ligação.

Francisco, por sua vez, declarou ao presidente ucraniano que está "rezando e fazendo todo o possível para acabar com a guerra", escreveu no Twitter o embaixador ucraniano na Santa Sé, Andrii Yuash.

Plenário italiano. A foto é aérea e mostra muitos parlamentares sentados, Um telão à direita e um à esquerda mostram imagens de Zelenski.
Cerca de mil parlamentares italianos aplaudiram ZelenskiFoto: Remo Casilli/REUTERS

Discurso ao Parlamento italiano

Zelenski também falou nesta terça ao Parlamento italiano. Aos legisladores, ele cobrou maiores sanções e pressões à Rússia e alertou que a guerra é o caminho do presidente russo, Vladimir Putin, para chegar à Europa.

"A invasão já dura 27 dias, um mês, e precisamos de outras sanções e outras pressões para que a Rússia não possa se abastecer de reservas militares na Líbia ou Síria, e para que volte a paz", afirmou Zelenski, que foi recebido de pé e com muitos aplausos pelos parlamentares italianos.

O presidente ucraniano ainda advertiu que o objetivo da Rússia é "influenciar a Europa" e "destruir seus valores, sua democracia e seus direitos humanos". "A Ucrânia é a porta para o exército russo, porque querem entrar na Europa", completou.

Zelenski também afirmou que o exército russo tomou as regiões costeiras, o que "representa um perigo para todos os países vizinhos". Ele ponderou ainda que a guerra foi financiada nos últimos dez anos com a exportação de gás e petróleo da Rússia.

O líder ucraniano ainda agradeceu à Itália pelo acolhimento de mais de 70 mil ucranianos que chegaram ao país fugindo da guerra, entre os quais 25 mil crianças.

Tentativa de assassinato de Zelenski

A mídia ucraniana noticiou nesta terça-feira que a contra-inteligência do país impediu um possível atentado contra a vida de Zelenski.

A agência de notícias Unian informou que um homem pertencente a um grupo de sabotadores russos foi preso em Uzhhorod, no extremo oeste do país. O grupo de até 25 homens planejava fingir ser membro das forças armadas ucranianas em uma tentativa de chegar a Kiev.

Foto de  Romantschenko já idoso, vestindo o uniforme listrados dos presos em campos de concentração. Ele também veste um gorro.
Boris Romantschenko havia sobrevivido a quatro campos de concentraçãoFoto: photo2000/IMAGO

Alemanha lembra sobrevivente do Holocausto morto na Ucrânia

O Bundestag (Parlamento alemão) prestou homenagem nesta terça-feira a Boris Romanchenko, um sobrevivente do Holocausto e de quatro campos de concentração nazistas morto em sua cidade natal de Kharkiv, na Ucrânia, por um bombardeio russo.

O ministro alemão das Finanças, Christian Linder, disse que o destino de Romanchenko, morto aos 96 anos, "mostra tanto o caráter criminoso da política russa como o motivo de a Alemanha estar demonstrando solidariedade à Ucrânia".

Nascido em 1926 em uma vila próxima à cidade ucraniana de Sumy, Romanchenko foi feito prisioneiro pelos nazistas em 1941, quando o exército alemão lançou sua ofensiva contra a União Soviética.

Ele foi deportado para Dortmund, no oeste da Alemanha, para executar trabalhos forçados, e sobreviveu aos campos de concentração de Buchenwald, Peenemünde, Mittelbau-Dora e Bergen-Belsen. Ele relatou ter sido libertado por forças britânicas e americanas em 1945, pouco antes de seus algozes executarem um plano para envenenar muitos dos prisioneiros restantes.

Após a guerra, ele se dedicou a manter viva a memória das atrocidades nazistas, e desempenhava um papel ativo em instituições

Macron conversa com Putin

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o presidente russo, Vladimir Putin, conversaram por cerca de uma hora pelo telefone e discutiram um possível cessar-fogo, mas nenhum acordo foi alcançado.

Macron continua "convencido da necessidade de continuar seus esforços" em busco da paz, informou o Palácio do Eliseu. Macron também conversou com Zelenski nesta terça-feira.

Insegurança alimentar

O ministro da Agricultura da Ucrânia, Roman Leshchenko, disse que espera que a área de cultivo de primavera da Ucrânia possa ser reduzida pela metade este ano para apenas 7 milhões de hectares, o que poderia contribuir para a insegurança alimentar mundial.

A invasão da Ucrânia pela Rússia resultará em uma colheita reduzida neste outono europeu e os efeitos em cascata serão sentidos nas exportações até o próximo ano. 

le (AP, AFP, dpa, Reuters,ots)