A volta do átomo
18 de março de 2009Nesta quinta-feira (19/03), o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) debate o destino da energia nuclear na Alemanha. Seu abandono gradativo fora definido há nove anos, porém os recentes movimentos da Itália e da Suécia em prol da construção de reatores deram novas forças aos defensores da energia termonuclear. Sobretudo os conservadores e liberais temem que a Alemanha se coloque em posição de desvantagem ao renunciar a essa fonte de energia.
A energia atômica é utilizada em 31 países, e calcula-se que até cem novas usinas poderão ser postas em funcionamento em todo o mundo nos próximos anos. Segundo dados do Ministério alemão da Economia, 444 instalações termonucleares espalhadas pelo mundo geram um total bruto de cerca de 390 mil megawatts. A energia atômica é responsável por 17% da produção mundial e por 31% da produção na Europa.
De volta ao futuro
A Itália era o único país do G8 a haver renunciado à energia termonuclear, após um plebiscito, mais de 20 anos atrás. Agora, após a virada energética do primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi, decidiu-se que até 2013 serão lançadas as pedras fundamentais de quatro a cinco novas usinas, cada uma com um desempenho de 1,8 mil megawatts.
Em 1980, após a catástrofe nuclear de Harrisburg, EUA, um plebiscito decidira que não mais se construiriam novos reatores na Suécia. Contudo, aqui também, a política do premiê conservador Fredrik Reinfeldt abre o caminho para a construção de dez unidades mais modernas e maiores, substituindo as antigas. No momento, dez usinas cobrem cerca de 46% da demanda elétrica sueca.
Saída do átomo ameaçada
Pioneiro no emprego do átomo em grande escala para fins civis, o Reino Unido colocou em 1956 seu primeiro reator termonuclear em funcionamento. Atualmente o país dispõe de 19 usinas. Devido à alta dos preços do petróleo e ao aquecimento global, Londres aposta forte na energia atômica. Uma nova legislação deverá facilitar a construção de unidades já planejadas.
A França depende da energia termonuclear como nenhum outro país da Europa: ela perfaz 77% de sua produção energética. Desde a crise do petróleo, em 1973, foram construídos numerosos novos reatores, com o fim de tornar o país autossuficiente em termos energéticos. Atualmente os franceses dispõem de 59 usinas, e mais uma está sendo construída. Além disso, o presidente Nicolas Sarkozy se engaja decididamente pela exportação da tecnologia termonuclear nacional.
Na Alemanha, 17 usinas produzem mais de um quarto da eletricidade consumida. Desde que, em 2000, o então governo formado por social-democratas e verdes decretou o abandono gradual da energia atômica, não podem ser construídas novas instalações no país. Até 2021 todos os reatores deverão ter sido desativados. Entretanto, a União Democrata Cristã, da premiê Angela Merkel, anunciou que pretende voltar atrás na medida, após as eleições parlamentares de setembro de 2009. Isso implicaria prorrogar o funcionamento das chamadas "usinas seguras", sem que esteja em discussão construir novas.
Rigor europeu e liberalidade
Para tornar-se independentes do petróleo e gás russos, também os países do Leste Europeu se voltam para o átomo. Assim, a Bulgária, 95% dependente do gás russo, quer reativar dois reatores de fabricação soviética na usina de Kozloduy. Os controversos reatores foram desligados em 2007, por razões de segurança: essa foi uma precondição para que o país pudesse ingressar na União Europeia.
A República Tcheca também se mostra aberta em relação à energia atômica, da qual depende em 45%. A usina de Temelin, distante cerca de 100 quilômetros das fronteiras alemã e austríaca, deverá ser ampliada de dois para quatro blocos. O país está até mesmo disposto a ignorar o fato de que, em sua forma atual, a usina já é séria fonte de tensões com a Áustria, que renuncia totalmente à energia nuclear.
Na opinião dos adversários do átomo, o futuro pertence ao uso econômico da energia, às fontes renováveis e à exploração mais eficiente das fontes convencionais, como o carvão, petróleo e gás.
AV/AS/dpa