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Cúpula da ONU volta ao formato presencial em mundo dividido

20 de setembro de 2022

Guerra na Ucrânia deve estar no centro dos debates, que também devem abranger a questão nuclear do Irã e defasagem na educação durante pandemia. Presidente Jair Bolsonaro fará o discurso de abertura nesta terça-feira.

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Fachada do prédio da ONU em Nova York, visto através de janela de edifício adjacente com símbolo das Nações Unidas (globo desenhado envolto com galhos de oliveira)
Líderes de cerca de 130 países devem estar presentes na Assembleia Geral da ONUFoto: Valery Sharifulin/TASS/picture alliance

A Assembleia Geral da ONU retorna de forma presencial nesta terça-feira (20/09), em um mundo dividido por múltiplas crises, sobretudo pela guerra na Ucrânia.

Após dois anos de restrições, formato híbrido e discursos em vídeo devido à pandemia de covid-19, a ONU pediu que, quem quisesse discursar, fosse pessoalmente a Nova York – a única exceção foi para o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

Logo após participar do funeral da rainha Elizabeth 2ª, em Londres, o presidente Jair Bolsonaro seguiu viagem para os Estados Unidos. Como é tradição desde 1949, o presidente brasileiro fará o discurso de abertura da cúpula nesta terça-feira. Antes do evento, Bolsonaro se reunirá com o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Apesar da presença de líderes de cerca de 130 países, Bolsonaro não terá outros encontros bilaterais relevantes. Depois do discurso, ele deve se reunir com o presidente da Polônia, Andrzej Duda, e com o presidente do Equador, Guillermo Lasso. Encontros com os líderes da Sérvia e da Guatemala foram cancelados.

A comitiva de Bolsonaro em Nova York conta também com a primeira-dama, Michelle, com os ministros das Relações Exteriores, Carlos França, e das Comunicações, Fábio Faria, com o coordenador da comunicação da campanha de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, e com o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.

Bolsonaro fala em um púlpito na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, com parede verde ao fundo.
Bolsonaro durante o discurso de 2021 na ONUFoto: Eduardo Munoz/AP Photo/picture alliance

Maiores potências da UE

Além do discurso de Bolsonaro, o primeiro dia do evento contará com falas do presidente francês, Emmanuel Macron, e do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, líderes das duas maiores economias da União Europeia (UE), que se mobilizou para impor duras sanções pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Este ano, a Ucrânia estará no topo da agenda. Será inevitável", disse o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, a repórteres em Nova York. "Existem muitos outros problemas, nós sabemos. Mas a guerra na Ucrânia está enviando ondas de choque ao redor do mundo", acrescentou.

Antes de partir para a cúpula em Nova York, a ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock , acusou a Rússia de atacar as fundações da ONU e enfatizou o papel da organização na gestão da crise global. 

"As Nações Unidas são necessárias para que possamos encontrar soluções comuns para os problemas globais. Que nenhum país tenha que viver com medo de que um vizinho mais forte o ataque", disse. 

A ministra voltou a enfatizar que a Alemanha está firmemente ao lado da Ucrânia e que continuará a apoiá-la "para que a guerra e o sofrimento incomensurável do povo ucraniano cheguem ao fim".

Apesar das atenções voltadas à Ucrânia, o secretário-geral Guterres tem pedido aos líderes mundiais que não se esqueçam de outras prioridades, como a educação, que foi tema de uma cúpula especial na segunda-feira.

"A educação está em uma crise profunda. Em vez de ser o grande facilitador, a educação está rapidamente se tornando a grande divisão", disse o secretário-geral da ONU, no evento prévio.

Ele alertou que a pandemia de covid-19 teve um impacto devastador no aprendizado, com alunos pobres e sem tecnologia em desvantagem, além de conflitos que atrapalham ainda mais o funcionamento das escolas.

Em um relatório no início deste mês, o Programa de Desenvolvimento da ONU disse que a covid-19 atrasou o progresso da humanidade em cinco anos.

Erdogan sob os holofotes

O presidente turco,Recep Tayyip Erdogan, também discursará nesta terça. Ele se estabeleceu como um intermediário entre a Rússia e a Ucrânia, inclusive em um acordo para permitir otransporte de grãos ucranianosextremamente necessários para diminuir o colapso alimentar no mundo.

Erdogan também deve se encontrar em Nova York com o primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, em uma dramática recuperação das relações entre os dois países após as críticas estridentes do líder turco ao tratamento de Israel com os palestinos.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, viajou aos EUA, apesar da reação hostil de Washington. Ele se reuniu na segunda-feira com sua homóloga francesa, Catherine Colonna, que instou a Rússia a permitir uma zona de segurança fora da usina nuclear de Zaporíjia, cuja ocupação por Moscou levantou preocupações crescentes de uma catástrofe nuclear.

O presidente turco, Recep Tayip Erdogan, sentado em frente a duas bandeiras da Turquia
Erdogan mediou acordo entre Rússia e Ucrânia para transporte de grãosFoto: DHA

Irã entre os destaques

Também no topo da agenda da semana da ONU estará o Irã, cujo presidente linha-dura, Ebrahim Raisi, participa pela primeira vez da Assembleia Geral. Nesta terça-feira, ele se reunirá com Macron.

Em entrevista antes de sua chegada a Nova York, Raisi disse que o Irã queria "garantias" antes de retomar um acordo nuclear que o ex-presidente Donald Trump destruiu em 2018.

"Não podemos confiar nos americanos por causa do comportamento que já vimos deles. É por isso que, se não há garantia, não há confiança", disse ao programa 60 Minutes da rede de televisão americana CBS.

Biden apoia o retorno ao acordo de 2015, segundo o qual o Irã reduziu drasticamente a atividade nuclear em troca de promessas de alívio das sanções. Apesar disso, o governo Biden afirma que é impossível no sistema americano prometer o que um futuro presidente fará o mesmo.

Raisi pode esperar ser perseguido por protestos durante sua visita aos EUA, inclusive por grupos de exilados que pediram sua prisão por execuções em massa de oponentes uma década após a revolução islâmica de 1979.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que por tradição é o segundo orador no primeiro dia, desta vez falará no segundo dia.

le/rk (AFP, ots)