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Críticos da globalização

Christine Elsaesser (rr)24 de abril de 2007

Defensores do meio ambiente, associações religiosas, sindicatos – os críticos da globalização têm várias faces, mas um objetivo comum: limitar o poder dos conglomerados e aumentar a influência dos cidadãos.

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Manifestantes exigem igualdade e bem-estar para todosFoto: AP

Quando dezenas de manifestantes saíram às ruas de Seattle em 1999 carregando faixas com frases como "Não à globalização sem participação" e "O mundo não está à venda", Maria Mies estava presente. Na época, sindicatos, associações ligadas à Igreja, defensores do meio ambiente, representantes do movimento feminista e grupos de países em desenvolvimento protestaram contra uma nova fase da liberalização do comércio mundial.

Nas ruas de Seattle, a professora aposentada de Sociologia e membro da organização Attac se deu conta de quão multifacetado é o movimento antiglobalização. "Lá havia pobres, operários e trabalhadores rurais, que haviam decidido participar espontaneamente. Eram grupos muito distintos, mas todos estavam descontentes e sabiam o que não queriam mais", conta.

Nações pobres têm mais a perder

Para o movimento, a promessa de que a globalização traz paz, igualdade, liberdade e bem-estar para todos não passa de uma mentira. Especialmente os países mais pobres são prejudicados diante das ambições de crescimento dos grandes conglomerados e levados à pobreza e à dependência. Empresas reduzem cada vez mais conquistas sociais como a proteção ao trabalhador e o salário mínimo com a desculpa de manter a competitividade.

Südafrika Minenarbeiter aus Angola
Péssimas condições de trabalho nas minas de multinacionais na ÁfricaFoto: AP

Por isso, o movimento cobra a garantia ao direito de autodeterminação nacional e a padrões sociais mínimos e pleiteia alterações em acordos internacionais de comércio em prol de nações em desenvolvimento.

A reivindicação do movimento continua a mesma até hoje: os cidadãos devem participar mais ativamente do processo de decisão política. "Isso não é mais possível num mundo globalizado e controlado por conglomerados multinacionais. Basta que alguns deles façam lobby em Bruxelas para que leis nacionais sejam simplesmente eliminadas", critica Maria Mies. Para ela, a democracia é a primeira vítima da globalização e o meio ambiente é a segunda. Pois para os grandes conglomerados só o crescimento é que conta.

Críticos querem conter globalização

O cientista político Claus Leggewie chama de "críticos da globalização" ao grupo dos que consideram a economia global de mercado aceitável e reformável, que fazem sugestões de melhoramento e acreditam que é possível humanizar o processo de globalização. Já "adversários da globalização" como Maria Mies duvidam do sistema capitalista em geral. Mas o movimento há tempos não se divide mais apenas em duas correntes.

Leggewie, autor do livro Die Globalisierung und ihre Gegner (A globalização e seus adversários), distingue cinco facções distintas no mesmo movimento. Esquerdistas e radicais de esquerda lutam pela justiça social e querem desenvolver um outro sistema social. Já a esquerda acadêmica assume em parte as idéias do movimento ecológico e promove uma crítica marxista.

Reformistas empresariais possuem um grande conhecimento específico e querem tornar o capitalismo mais social-democrático, enquanto críticos de motivação religiosa advêm da tradição de reformas sociais da Igreja. Por último, críticos de direita procuram reforçar o estado nacional.

Proteste gegen IMF in Prag
Manifestos violentos são minoria no movimento antiglobalizaçãoFoto: AP

Além de grandes organizações, como Attac e Greenpeace, de sindicatos e de associações ligadas à Igreja, há também inúmeros pequenos grupos que operam em nível local e regional.

Igreja tem papel extraordinário

Para Leggewie, não há problema em tratar as diversas correntes do movimento de forma unificada. "Um movimento destaca-se especialmente por um alto grau de heterogeneidade e articulações menos rígidas", explica. Isso faz com que surja uma divisão do trabalho. Grupos reformistas possuem seu público-alvo, assim como facções mais radicais e militantes.

Leggewie considera extremamente importante o papel da Igreja. Pois, em um movimento pobre em recursos, ela é que fornece capacidade de organização, verba e infra-estrutura – mais ainda que sindicatos e partidos. "Através da Igreja é que o movimento ganha capacidade de ação", explica.

No entanto, os grupos precisam compreender que seu trabalho, apesar das mais distintas orientações, é parte de um contexto mais amplo, alerta Maria Mies. Se, por exemplo, meio ambiente e economia forem tratados separadamente, não haverá progresso.

Leggewie, pelo contrário, acredita que o movimento já pode ser considerado bem-sucedido. "Não há mais ninguém no mundo que prossiga com a globalização como se fazia no na década de 90", diz. "Toda a crítica que se fez é hoje parte do mainstream, como por exemplo a crítica às conseqüências ecológicas da globalização desmesurada." Este é, segundo ele, o maior mérito do movimento.