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Crise palestina, preocupação européia

mw7 de setembro de 2003

Co-autora do plano de paz Road Map, União Européia teme nova escalada de violência no Oriente Médio após renúncia do primeiro-ministro palestino. Conselho dos Judeus na Alemanha quer maior engajamento alemão no conflito.

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Arafat é ainda o homem-forte na Palestina, apesar de boicotado por Israel e EUAFoto: AP

A renúncia no sábado do primeiro-ministro palestino, Mahmoud Abbas, não chegou de surpresa. Nem por isso a notícia deixou de abalar a União Européia. O orgulho de ser, pela primeira vez, um dos responsáveis pela elaboração de um plano de paz para o conflito israelense-palestino foi substituído pelo sentimento de estado de choque diante de um filho gravemente ferido num acidente.

"Não se trata de uma troca normal no comando do governo palestino. É antes de tudo um retrocesso à estaca zero, senão aquém dela", analisa o jornalista Peter Phillip, especialista em Oriente Médio na Deutsche Welle. Afinal, nomeado em abril, Abbas era o primeiro premiê da história da Palestina e o primeiro a dividir o poder do e com o presidente Yasser Arafat.

Papel cada vez maior para os europeus

Por casualidade, a renúncia encontrou os ministros do Exterior da União Européia já reunidos, em Riva del Garda, na Itália, onde tinham o Iraque como principal assunto. Os 25 representantes dos atuais e futuros membros da UE puderam assim reagir logo ao novo cenário. "Estamos muito preocupados e pensando numa iniciativa política que possamos tomar já. Concluímos que a Europa precisa estar mais presente no Oriente Médio", declarou o ministro Franco Frattini, da Itália.

Mahmoud Abbas Palästinesischer Premierminister Rücktritt
Mahmoud Abbas, perdedor da queda-de-braço com ArafatFoto: AP

"Estamos de comum acordo de que é preciso aplicar o Road Map. O processo político não pode fracassar, pois as alternativas são piores", advertiu o alemão Joschka Fischer, que vinha se empenhando em intermediar a queda-de-braço entre Arafat e Abbas. Em Berlim, o Conselho Central dos Judeus na Alemanha conclamou Fischer a engajar-se ainda mais por uma solução do conflito. Segundo o presidente Paul Spiegel, o ministro alemão desfruta de boa reputação tanto junto aos israelenses quanto aos palestinos.

Tiro pela culatra de Israel e dos EUA

Em sua renúncia, Abbas alegou falta de apoio do parlamento palestino. No entanto, as razões vão além. Israel e Estados Unidos teriam abandonado o premiê à própria sorte. O governo Bush estaria mais preocupado com o Iraque e o início da sucessão presidencial em seu país. A ministra do Exterior da Suécia, Anna Lindh, acusa de Tel-Aviv e Washington de também terem selado o destino de Abbas premiê ao ignorarem a importância de Arafat na região.

Fora isto, o ex-primeiro-ministro reclamava mais poder para levar adiante o plano de paz. Especula-se que ele esperava ser reconduzido ao cargo e com mais competências. Por exemplo, Arafat controla ainda hoje dois terços das forças de segurança da Autoridade Palestina, o que é fundamental para o combate ao terrorismo. Em Riva del Garda, Frattini disse que a UE está decepcionada com a situação e exige controle único. Ou seja, fora das mãos de Arafat. "Isto tem de ser alcançado agora", declarou o ministro italiano.

Mediar a paz e bloquear o Hamas

Além de lamentos, apelos e advertências, os ministros decidiram enviar o encarregado de Política Externa, Javier Solana, imediatamente ao Oriente Médio para tentar salvar o Road Map. Embora Arafat tenha declarado morto o plano de paz costurado pelas Nações Unidas, União Européia, Estados Unidos e Rússia com israelenses e palestinos, Solana mostra-se convencido do contrário. "Nós sabíamos que a estrada seria bem acidentada."

Gardasee Italien Außenministertreffen Joschka Fischer und Roman Prodi
Romano Prodi, presidente da Comissão Européia, e o ministro alemão Joschka Fischer, na reunião em Riva del GardaFoto: AP

A mais importante resolução vai atingir o grupo Hamas. Após longa resistência, a França concordou em incluir a organização islâmica radical na lista européia de grupos terroristas, como propunha a Grã-Bretanha. A Alemanha também já apoiava a medida, que ainda precisa ser oficializada, uma vez que o encontro à beira do Lago de Garda tinha caráter informal. Ela levará ao congelamento dos bens do Hamas na Europa e trará conseqüências para todas as organizações que ajudam a financiar o grupo.

O braço armado do Hamas já havia sido incluído na lista em dezembro de 2001. O grupo em si não, devido a seu caráter civil, mantenedor inclusive de instituições sociais e escolas na Palestina. No entanto, a organização vem assumindo a autoria dos últimos atentados em Israel, apesar do cessar-fogo previsto no Road Map. A gota d'água foi o de 19 de agosto, quando mais de 20 israelenses morreram.

Em dissonância com Israel e os EUA, os ministros europeus enfatizaram que a UE continuará reconhecendo Arafat como interlocutor para a solução do conflito na Palestina, assim como com o sucessor de Abbas, seja ele quem for.