Automóveis
25 de setembro de 2009Em tempos de crise financeira internacional, um único dado estatístico é suficiente para mostrar as diferenças no panorama da indústria latino-americana de automóveis. Enquanto o México exporta 80% dos veículos produzidos no país, no Brasil o mesmo percentual é dedicado a cobrir a demanda interna.
A conclusão daqueles que participaram do Dia Latino-Americano no Salão Internacional do Automóvel de Frankfurt é clara. O setor automobilístico na América Latina foi afetado pela crise de tantas formas quanto o número de países da região.
"Não é possível pensar a América Latina como um mercado homogêneo e consistente. Existem diferenças enormes", disse Andrew Coombe, diretor regional da Volkswagen para o México, América Central e Caribe.
Domínio brasileiro
Devido à extensão territorial e ao tamanho de seu mercado, o Brasil foi o caso que chamou mais atenção. O gigante sul-americano vivenciou uma queda de 15% de suas exportações de automóveis – um setor que representa 5% do Produto Interno Bruto (PIB).
Apesar disso, a indústria automobilística brasileira não foi a mais afetada pela crise. As exportações mexicanas de automóveis diminuíram cerca de 30% em comparação com o ano passado.
Isso se deve à alta dependência do México em relação ao mercado dos Estados Unidos, que absorve 80% dos produtos mexicanos de exportação. Mas a proximidade do grande mercado norte-americano não foi o único fator. Na Argentina, as vendas de carros diminuíram 25% devido à recessão.
Crescimento apesar da crise
Tudo isso não freou, no entanto, o otimismo moderado dos fabricantes de automóveis nem deteve os investimentos das grandes montadoras na América Latina. "Para nós, a América Latina é uma região de crescimento no futuro", disse em Frankfurt o diretor da Federação da Indústria Automotiva Alemã (VDA), Klaus Bräuning.
"Na América Latina, a produção de carros de marca alemã alcançou em 2008 um nível recorde superior a 1,2 milhão de automóveis", acresceu Bräuning. A Alemanha exportou 36 mil veículos a países latino-americanos em 2008, uma cifra sem precedentes.
Outros números confirmam essa tendência. O Brasil espera aumentar sua capacidade anual de produção para chegar, a médio prazo, à marca de cinco milhões de automóveis. O país produz atualmente três milhões de veículos e tem capacidade para fabricar um milhão a mais. A Volkswagen irá ampliar seus investimentos na unidade de Puebla, no México, disse Coombe.
Recuperação definitiva em 2014?
Os especialistas reunidos em Frankfurt esperam que o mercado automobilístico latino-americano se estabilize em 2014. "A crise trouxe consigo uma depuração do mercado", declarou Walter Erke, diretor de marketing e relações públicas da fabricante de autopeças ZF Sachs.
Apesar da crise, o "Brasil é hoje o sexto maior produtor mundial de automóveis, superando, por exemplo, a Espanha", afirmou por sua vez Theophil B. Jaggi, conselheiro do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
Para que essa tendência se consolide, será preciso superar problemas bastante concretos, também discutidos em Frankfurt. Um exemplo é o complicado sistema fiscal do Brasil, o maior problema mencionado pelos empresários alemães.
"Devido às variedades de encargos fiscais e outros problemas oriundos de impostos locais, o Brasil é uma selva de impostos", assegurou Peter Grunow, diretor do conglomerado Mahle AG.
No resto da América Latina, os pontos negativos para o crescimento dos investimentos no setor automobilístico também variam. Na Venezuela, existem dificuldades de se estabelecer o valor da moeda local, o bolívar, enquanto no México, há falta de mão-de-obra especializada.
Entrevista: Enrique López Megallón
Revisão: Simone Lopes