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CPI da Pandemia convoca ex-mulher de Bolsonaro para depor

15 de setembro de 2021

Senadores querem apurar relação de Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan, com lobista ouvido nesta quarta pela comissão. Ele enviava à ex-esposa do presidente currículos de pessoas para ocupar cargos no governo.

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Jair Renan Bolsonaro
Lobista Marconny Albernaz de Faria também é amigo de Jair Renan BolsonaroFoto: EVARISTO SA/AFP/Getty Images

A CPI da Pandemia no Senado aprovou nesta quarta-feira (15/09) a convocação de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro e mãe de um dos filhos do presidente, Jair Renan Bolsonaro.

A decisão foi tomada na sessão do depoimento do lobista Marconny Albernaz de Faria, que atuou para a Precisa Medicamentos em tratativas para a venda de 12 milhões testes de covid-19 ao Ministério de Saúde, que não chegou a ser formalizada

Os senadores pretendem apurar qual é a relação entre Marconny e Ana Cristina. A comissão tem mensagens entre ambos mostrando que o lobista encaminhava à ex-mulher do presidente currículos de pessoas para serem indicadas a cargos no governo.

Uma dessa pessoas sugeridas por Marconny a Ana Cristina foi Leonardo Cardoso de Magalhães, para o cargo de defensor público-geral da União. A ex-mulher de Bolsonaro depois enviou e-mail ao então ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, recomendando Magalhães ao cargo e afirmando que ele era um "candidato alinhado com os nossos valores, técnico e apoiador do Jair".

Durante o depoimento, Marconny admitiu que conhece Ana Cristina, mas se manteve calado quando questionado sobre o encaminhamento de currículos. Apenas o senador Marcos Rogério (DEM-RO), que defende o governo Bolsonaro, foi contra a convocação dela para depor à CPI.

Amigo de Jair Renan

Aos senadores, Marconny confirmou também ser amigo de Jair Renan, e que ajudou o filho do presidente a abrir sua empresa. Ele disse ter conhecido Jair Renan há cerca de dois anos, por meio de amigos em comuns, e que ao saber que ele queria abrir "uma empresa de influencer" o apresentou a um advogado tributarista que poderia o ajudar.

Marconny reconheceu ainda que comemorou seu aniversário em um camarote no estádio Mané Garrincha, em Brasília, que pertence a Jair Renan.

Segundo troca de mensagens entre os dois relevada pelo jornal Folha de S.Paulo, Marconny escreveu para Jair Renan: "Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos a sua disposição para ajudar te ajudar". O filho do presidente, então, respondeu: "Show irmão. Eu vou organizar com Allan a gente se encontrar e organizar tudo."

O lobista também disse ter uma relação de amizade com Karina Kufa, advogada de Bolsonaro.

Relação com a Precisa

Um dos focos do depoimento de Marconny foi a sua atuação para a Precisa Medicamentos em uma tentativa de venda de testes para detecção de covid-19 ao Ministério da Saúde.

Os senadores suspeitam que ele teria desenvolvido um método para tentar formalizar a venda ao governo dos testes por meio de fraude, em conluio com ex-funcionários da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde.

A empresa também está no alvo da CPI por ter fechado a venda de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin ao governo, no valor de R$ 1,6 bilhão, mas nenhuma dose chegou ao país, devido a dificuldades de aprovação e outros problemas. A compra foi cancelada posteriormente.

Marconny Albernaz de Faria
Marconny negou-se a esclarecer conteúdo de mensagens sobre venda de testesFoto: Pedro França/Agência Senado

Marconny afirmou aos senadores que sua atuação profissional envolve a elaboração de "pareceres e estudos de viabilidade política e análise de cenário técnico-político", e que manteve tratativas com a Precisa por cerca de 30 dias, sem contrato formal, no caso da negociação dos testes de covid-19, mas que não participou da preparação e apresentação das propostas da empresa ao governo. Ele disse ter se reunido duas vezes com Francisco Maximiano, dono da Precisa.

"No início da pandemia, fui sondado para assessorar politicamente e tecnicamente a Precisa em concorrência pública que já estava em andamento perante o Ministério da Saúde e que tinha como objetivo a aquisição de testes rápidos para detecção do covid-19. Como a concorrência já estava em andamento, não participei da análise do edital, habilitação ou apresentação de proposta da Precisa", afirmou.

"O Ministério da Saúde cancelou essa concorrência em andamento e decidiu pela utilização de outros meios de testagem da população. Tendo aí terminado toda e qualquer participação no assunto, ou seja, tudo isso não passou de uma conversa de WhatsApp que durou aproximadamente 30 dias", disse. Ele afirmou que não atuou com a Precisa na venda da vacina indiana Covaxin.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou ter informações de que Marconny teria atuado para fraudar a licitação da compra dos testes em associação com Maximiano e Roberto Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, também investigado pela CPI.

Recusa em identificar senador

Em um dos momentos crítico do depoimento, Marconny foi confrontado a respeito de uma mensagem que ele havia enviado a Ricardo Santana, ex-funcionário da Anvisa, obtida por meio da quebra de seu sigilo em outra investigação e compartilhada com a CPI pelo Ministério Público Federal.

Na mensagem, Marconny diz a Santana que estava em contato com um senador que poderia "desatar o nó" da venda de testes para detectar covid-19 ao Ministério da Saúde.

Indagado pelos integrantes da CPI, o lobista disse "não se lembrar" quem seria o parlamentar mencionado na mensagem e que não conhecia nenhum senador. O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, reagiu dizendo que Marconny estava "faltando com a verdade".

Em outra mensagem, Marconny afirmou a Santana que existiria uma "arquitetura ideal para o processo dos kits prosseguir" e fazia referência a "Bob ou sucessor", no que alguns senadores interpretaram como uma referência a Dias.

A CPI aprovou requerimento para que a Polícia Legislativa do Senado forneça dados sobre eventuais visitas de Marconny ao Senado, indicando para qual gabinete ele se deslocou.

Ex-ativista do Vem Pra Rua

Antes de atuar como lobista, Marconny foi ativista do grupo Vem Pra Rua durante o movimento pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Questionado durante a CPI, ele disse que à época defendia, além da queda da petista, a moralidade, o combate à corrupção e pautas sobre a "família".

Ele disse também que foi filiado por seis meses ao Patriota, mesmo partido do senador Flávio Bolsonaro.

bl (ots)