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Cortes na prevenção de cheias geram críticas em cidade alemã

Helen Whittle
7 de junho de 2024

Na turística Passau, nível das águas começa a baixar à medida em que a Baviera se recupera das enchentes. Moradores discutem possíveis erros do governo estadual, que investiu menos em medidas contra alagamentos.

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Um homem sorridente vestindo terno e gravata estende a mão para cumprimentar uma jovem brigadista. A cena é observada por outros brigadistas. Ao fundo, vê-se um rio e, mais distante, um bosque e casas antigas
O governador da Baviera, Markus Söder, em Passau: político visitou diversas vezes áreas afetadasFoto: Helen Whittle/DW

Empoleirado em um banco às margens alagadas do rio, na ponta da estreita península onde fica a cidade histórica de Passau, um morador observa voluntários que bombeiam água para fora dos porões das casas do entorno.

A praça que fica em frente ao apartamento onde ele vive está normalmente cheia de turistas, que chegam em navios que exploram destinos no estado da Baviera próximos da fronteira com a Áustria.

Há dois anos Robert vive ali, em um apartamento no primeiro andar. Professor em um jardim de infância, ele diz não ter planos de deixar o lugar.

"As pessoas saem de férias para ir para perto da água. Nós temos a água bem na nossa porta", brinca, enquanto sorri e aponta para a calçada, agora submersa, sobre a qual turistas estariam normalmente desfrutando de um sorvete e tirando fotos.

Um homem sentado à sombra de uma árvore em cima do encosto de um banco, os pés repousados onde normalmente ele se sentaria. Atrás dele vê se um rio, árvores e casas
O professor de jardim de infância Robert em uma praça em PassauFoto: Helen Whittle/DW

Conhecida como a "Cidade dos Três Rios", Passau está situada na confluência dos rios Danúbio, Inn e Ilz, e tem cerca de 54 mil habitantes. Ali, o estado de emergência foi declarado na última terça-feira (04/06), enquanto ruas e praças na pitoresca cidade antiga, famosa por sua arquitetura barroca, eram engolidas pelo rio cujo nível subiu a até 9,7 metros de altura – o nível normal é de 6 metros.

A indústria do cruzeiro de rios que opera no Danúbio, uma das vias fluviais mais famosas da Europa, atrai centenas de milhares de turistas à região todos os anos.

É por isso que, enquanto as pessoas trabalhavam para limpar a bagunça deixada pelas cheias, turistas e moradores tomando sorvete ou bebericando um Aperol já eram avistados em um centro histórico poupado pela subida do nível dos rios.

Enchente ainda não passou, alertam moradores

Dono de um restaurante grego, Stavros estima ter tido prejuízo de entre 80 mil e 90 mil euros. "Mas nós estamos bem cobertos por um seguro", afirma. "Se a seguradora cumprir o que prometeu, temos cobertura pelo menos para os dias em que não pudemos abrir."

"O nível água começou a estacionar desde ontem. Não está descendo. Agora, a previsão é de chuva de novo, e não sabemos se [o rio] vai voltar a subir", responde, ao ser perguntado sobre os sacos de areia que ainda cercam o restaurante às margens do rio.

Um homem diante de um imóvel cercado por lonas e sacos de areia. Atrás dele, vê-se o rio
O empresário Stavros diante do seu restaurante, ainda cercado por lonas e sacos de areiaFoto: Helen Whittle/DW

Em uma praça a poucos metros das áreas alagadas, a cabeleireira Susanne afirma que seu salão, inundado em 2013, desta vez escapou do pior. "Aquele foi um período muito difícil", afirma, apontando para o topo de um espelho para indicar a altura a que as águas chegaram. "Tudo foi resolvido muito mais rápido desta vez. Os preparativos realmente funcionaram."

Até agora, as autoridades dizem não ter havido danos ou rompimentos nos diques que cercam Passau.

Governador é alvo de críticas

Governador da Baviera, o conservador Markus Söder, do partido CDU, visitou áreas alagadas no estado diversas vezes nos últimos dias.

Em Passau, cercado por jornalistas, ele elogiou o trabalho "sobre-humano" dos 60 mil socorristas que atuaram no estado.

Nos últimos anos, o governo da Baviera diminuiu os investimentos em projetos de prevenção de cheias.

A criação de planícies de inundação, decidida em 2018, foi atrasada pelo parceiro de coalizão de Söder, o partido dos Eleitores Livres. O presidente da sigla e vice de Söder, Hubert Aiwanger, disse na época ao jornal Augsburger Allgemeine que criar pôlderes – áreas baixas cercadas por diques – era supérfluo e muito caro "porque um pôlder desses só é inundado uma vez a cada 100 anos".

Apenas um dos nove pôlderes planejados em 2018 foi realmente construído.

Líder local da bancada do partido dos Verdes, Katharina Schulze acusou Aiwanger de ter "sabotado" a proteção contra enchentes. Outros partidos de oposição também criticaram os atrasos e apontam falta de investimento.

Mas Söder argumenta que seu governo investiu um total de 4 bilhões de euros em proteção contra enchentes desde 2001, e prometeu um adicional de "100 milhões de euros" em ajuda emergencial à região – uma reviravolta, já que a Baviera não tem pago nenhuma ajuda às vítimas de desastres naturais nos últimos anos, com Söder argumentando que o estado não pode fazer as vezes de seguradora.

Agora, Söder está pedindo assistência financeira ao governo federal. "Esperamos que nos apoie de maneira semelhante a outras regiões da Alemanha", disse.

Por ter dito que "ninguém poderia ter esperado" as enchentes e o dano na escala em que aconteceu, Söder foi ridicularizado nas redes sociais – meteorologistas têm alertado há anos que tais eventos climáticos extremos vão aumentar.

A ativista Ronja Hofmann, da seção bávara do movimento climático Fridays for Future, reagiu à visita de Söder a Passau acusando-o de fazer "turismo de enchente" para "ganhar votos diante da catástrofe climática". Após meses fazendo "uma campanha eleitoral inteira ao Parlamento Europeu com uma mensagem pró-emissões de carbono, o premiê agora tenta se apresentar como estadista e responsável pouco antes da eleição", disse ela ao jornal local Passauer Neue Presse.