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Copa da Alemanha, um prato cheio de fortes emoções

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
20 de janeiro de 2022

Pela primeira vez em anos, times pequenos são maioria nas quartas de final do DFB Pokal. Diante dos muitos resultados surpreendentes até agora, é bem provável que o torneio termine com um campeão inédito.

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Vários jogadores celebrando um gol
Jogadores do St. Pauli comemoram surpreendente vitória contra o DortmundFoto: MIS/imago images

Fortes emoções definitivamente não faltaram nas oitavas de final do DFB Pokal (Copa da Alemanha) disputadas neste meio de semana a começar pelo aguardado confronto entre Borussia Dortmund, atual campeão da competição, e St. Pauli, o icônico clube com acentuado engajamento social, atual líder da Segundona.

Neste torneio, o St. Pauli está prestes a repetir sua linda história escrita na temporada 2005/2006, quando por muito pouco não chegou a disputar a final.

Naquela época, o clube da bandeira de pirata disputava a Liga Regional Norte, equivalente à terceira divisão, e desde o início do torneio só enfrentou times de maior envergadura. Cada jogo representava literalmente um confronto do tipo Davi x Golias.

Nas primeiras duas rodadas encarou Wacker Burghausen e Bochum, ambos da Segunda Divisão. Ganhou dos dois – do Wacker só na prorrogação. Em compensação, goleou o Bochum (4x0). A partir daí só veio chumbo grosso.

Nas oitavas de final, o adversário foi o Hertha Berlin, na época uma das melhores equipes da Bundesliga, que contava com dois brasileiros que deixaram sua marca: o lateral Gilberto (35 jogos com a seleção brasileira) e Marcelinho Paraíba, o xodó da torcida berlinense.

Garra dos "piratas"

No Millerntor, o histórico estádio do St. Pauli, o Hertha veio com tudo. Abriu 2x0 no primeiro tempo, mas o St. Pauli empatou, faltando quatro minutos para o fim. A torcida foi à loucura. Veio a prorrogação, e Marcelinho Paraíba deixou sua marca: 3x2. Não foi suficiente. O Hertha acabou levando a virada dos "boys in brown". Placar final 4x3, e o St. Pauli estava nas quartas de final.

O próximo adversário seria ainda mais difícil. O Werder Bremen, com Naldo na zaga, Frings de volante, Micoud na armação, além de Klose no ataque, não estava para brincadeira. Afinal, foi campeão alemão em 2004 e na época do confronto era o vice-líder da Bundesliga, em perseguição ao Bayern de Munique.

Toda essa bagagem não adiantou. Empurrado por sua frenética torcida, que superlotou as dependências do Millerntor, debaixo de neve e com bola laranja, num gramado que mais parecia uma pista de gelo, os "piratas" venceram por 3x1, mandaram a tropa comandada por Thomas Schaaf de volta para casa e já estavam à espera do próximo adversário que, para o seu azar, seria o Bayern de Munique.

De fato, o todo-poderoso elenco bávaro era muita areia para o pequeno caminhão do St. Pauli, que naqueles tempos disputava apenas a Liga Regional Norte. Foi derrotado, mas saiu aclamado de campo, não sem antes receber o carinhoso abraço de sua apaixonada torcida.

Clássico em Hamburgo

Timo Schultz, atual técnico do clube, se lembra bem daquela campanha, porque era então um dos principais protagonistas da equipe como meio-campista ofensivo.  Antes de mandar seu time a campo contra o Borussia Dortmund nesta terça-feira (18/01), confidenciou: "Na véspera de um jogo decisivo como esse, sempre vem à minha lembrança a nossa façanha de 2006 e o desejo incontido de repetir o feito."

Se vai repetir a façanha de 2006 e chegar novamente a uma semifinal do DFB Pokal ou, quiçá até a final, está escrito nas estrelas, mas que chegou mais perto depois da surpreendente vitória (2x1) sobre os aurinegros do Dortmund, atuais campeões do torneio, isso chegou.  

O prato cheio de emoções não foi apenas servido no Millerntor do St. Pauli. Foi servido também em Colônia, onde o visitante Hamburgo, depois de um renhido confronto, conseguiu superar o time do bode Hennes 9º na cobrança de penalidades máximas.

A cidade de Hamburgo terá, portanto, dois representantes na próxima fase do DFB Pokal. Na Segundona que ambos disputam, os dois, Hamburgo e St. Pauli, irão se enfrentar na próxima sexta-feira (21/01), lutando por vaga para subir à elite do futebol alemão.

Davi x Golias

Fortes emoções rondaram também outro clube da Segunda Divisão. O Hannover 96 recebeu o Borussia M'Gladbach em sua casa e deixou o visitante da elite de mãos abanando ao lhe impor uma derrota por 3x0. Mais um da Bundesliga fora do páreo.

E não faltou emoção também no dérbi berlinense entre Union e Hertha. Os "ferreiros" contra a "velha senhora". Do ponto de vista econômico-financeiro, a diferença entre os dois não poderia ser maior. O Hertha conta com um mecenas bilionário que já investiu mais de 300 milhões de euros no clube. Já o Union faz das tripas coração para sobreviver galhardamente nestes tempos conturbados.

De novo, Davi derrotou Golias. O modesto Union despachou o milionário Hertha (3x2) e segue na competição.

Pela primeira vez em muitos anos, times considerados pequenos formam a maioria na fase de quartas de final da Copa da Alemanha. São quatro equipes da Segunda Divisão (St. Pauli, Hamburgo, Karlsruher e Hannover) e quatro clubes da Primeira Divisão da Bundesliga (Bochum, Leipzig, Freiburg e Union Berlin).

Visto que resultados surpreendentes foram majoritários na atual edição do DFB Pokal, é bem provável que haja um campeão inédito desta vez. Dos oito clubes finalistas, apenas três já levantaram o belo troféu: Hamburgo, Hannover e Karlsruher.

Só conhecermos o campeão no dia da grande final em Berlim (21/05), mas de uma coisa já podemos ter certeza: um prato cheio de fortes emoções não vai faltar.    

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.