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Consumo mantém inflação em alta mesmo com os juros maiores

Leticia Camargo von Wissell12 de dezembro de 2013

A inflação continua subindo e já está acima da meta oficial para 2013. Especialistas avaliam que, sem a intervenção do governo, a situação poderia estar ainda pior.

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Brasilien Konsum Kredite
Foto: AFP/Getty Images

Com o final do ano se aproximando, fica cada vez mais claro que o governo brasileiro não deve conseguir atingir sua meta de inflação para 2013. Mesmo depois de milhares de brasileiros terem tomado as ruas do país protestando – entre outras coisas – contra o aumento do custo de vida, o governo está enfrentando dificuldades para controlar a subida dos preços.

A inflação oficial registrou alta de 0,54% em novembro, em comparação com o mês anterior, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), publicado pelo IBGE. Em outubro, a alta registrada havia sido de 0,57%. No acumulado do ano, a inflação já atinge 4,95% – acima do centro da meta que havia sido estipulada pelo governo, de 4,5%, para o final de 2013.

O economista Roberto Padovani, da Votorantim Corretora, disse à DW Brasil que, além de a inflação estar muito acima do centro da meta, ela também está muito acima da registrada nos países com grau de investimento, que em geral apresentam taxas de inflação bem menores.

Para o economista Newton Rosa, da Sulamerica Investimentos, o aumento nos preços é resultado de uma política que estimula o consumo, o qual tem crescido acima da capacidade de oferta. É um descompasso que alimenta a inflação.

"Esse consumo mantém o mercado de trabalho extremamente apertado e isso tem levado à alta de salários acima da inflação", comenta. Além disso, a desvalorização do real nos últimos meses foi outro fator importante, assim como uma política fiscal "expansionista".

"Há vários anos que a inflação está rondando os 5,0% e 5,5%. Este ano, ela certamente estaria acima de 6,5% se não fossem as fortes intervenções que o governo fez em alguns preços, como energia elétrica e gasolina", disse Rosa.

Brasilien Nationalbank Alexandre Tombini
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tenta conter a inflação subindo a taxa SelicFoto: AP

Alta dos juros contra a inflação

O Banco Central também tem tentado controlar a situação subindo a Selic, a taxa básica de juros. No final de novembro ela atingiu 10%, comparado a 9,5% em outubro – o sexto aumento seguido, e a primeira vez que a taxa chega a dois dígitos em quase dois anos.

A Selic estava em constante queda e chegou a atingir 7,25% no final de 2012. Na época, a presidente Dilma Rousseff festejou, dizendo que aquele havia sido um dos passos mais importantes de seu governo, já que os altos juros prevaleceram por muito tempo e, com a redução, haveria um maior estímulo ao crédito.

Mas, desde abril, o Banco Central já aumentou a Selic em um total de 2,75 pontos básicos para tentar resolver o problema da inflação em alta. Foi nessa época que a moeda brasileira sofreu uma queda repentina, já que o Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, considerara a possibilidade de parar de injetar bilhões de dólares na economia americana todo mês. A notícia fez com que investidores ficassem mais cautelosos e começassem a tirar capital investido em países emergentes, como o Brasil, que geralmente apresentam mais riscos.

Desde então, o real conseguiu se recuperar um pouco, mas uma moeda mais fraca perante o mercado internacional põe mais pressão na inflação, já que o custo dos produtos importados sobe.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, confirmou, em discurso ao Senado, esta semana, que a instituição tenta manter a inflação dentro da meta por meio do aumento da Selic.

Segundo Padovani, a atitude do Banco Central é "absolutamente correta". Ele avalia que a taxa de juros de 7,25% estava estimulando muito a economia, e uma "normalização" da taxa era necessária.

"A verdade é que os juros foram mantidos muito baixos, além do que era suportado pela economia", disse Rosa. "Estes juros que a presidente Dilma festejou não era o que a economia suportava. Agora eles estão voltando para o patamar normal, que é exatamente aquele patamar em que, teoricamente, a economia pode crescer, sem que isso acelere a inflação."

Rosa argumenta que "o risco da inflação não pode ser desprezado, e, sem dúvida alguma, a alta dos juros é o menor dos males".

Inflação deve continuar em alta

Mesmo que a intervenção por meio da alta dos juros tenha ajudado, a inflação em 2013 deve ficar acima da meta para este ano, de acordo com o próprio Banco Central. Para os dois próximos anos, a instituição também tem uma meta de 4,5%.

"O que o Banco Central está fazendo é corrigir distorções para assegurar uma certa estabilidade da inflação ao longo dos próximos meses", disse Rosa. "Mas isso não é suficiente para trazer a inflação para patamares mais próximos da meta."

De fato, analistas acompanhando a economia brasileira estão menos otimistas que o governo. Eles preveem que a inflação vá alcançar 5,92% em 2014 e 5,70% em 2013, de acordo com um levantamento publicado pelo próprio Banco Central no começo de dezembro.