Jogos Olímpicos
1 de outubro de 2009Cada uma das quatro finalistas para sede dos Jogos Olímpicos em 2016 tem pontos fortes e fracos, segundo os quesitos avaliados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Na campanha do Rio de Janeiro, conta a favor o fato de os Jogos Olímpicos nunca terem sido realizados na América do Sul. No entanto, o Brasil já vai sediar a Copa de 2014, fator que poderia reduzir as chances cariocas.
Chicago se beneficia do fato de o carismático presidente norte-americano Barack Obama ter vivido quase 25 anos na cidade, antes de se mudar para a Casa Branca. Obama foi a Copenhague antes da decisão, para dar impulso à candidatura. O júri do COI se mostrou preocupado, no entanto com o vento frio que sopra na cidade à tarde e pode ser perigoso para alguns atletas, principalmente de tênis, remo, canoagem e tiro com arco. Além disso o COI não gostou nada da idéia da comissão organizadora norte-americana de oferecer uma emissora de televisão própria para as olimpíadas, já que a maior parcela da receita do Comitê vem da cessão de direitos de transmissão televisiva.
Juan Antonio Samaranch, espanhol de 89 anos e presidente honorário do COI é um ponto a favor de Madri. Ele ainda tem grande influência entre as pessoas importantes do comitê. Por outro lado, a reputação espanhola em relação ao controle antidoping fala contra Madri. Uma controversa lei espanhola proíbe o controle de doping entre 23h e 6h da manhã.
Além disso, o escândalo de doping descoberto em 2006, em que o médico espanhol Eufemiano Fuentes fornecia amostras do próprio sangue no lugar de estrelas do ciclismo profissional, nunca foi esclarecido totalmente. Outro fator desfavorável para a capital espanhola é o fato de as Olimpíadas de 2012 serem realizadas em Londres, e os Jogos de Inverno em Sotchi, Rússia. Isso reduz as chances de outra cidade europeia sediar grandes eventos esportivos tão cedo.
Tóquio está na frente das demais, quando o assunto é responsabilidade ambiental. A cidade tem uma proposta bastante atraente de "jogos verdes". Por outro lado, está localizada numa das zonas de mais acentuada atividade sísmica do mundo. Sismólogos preveem um terremoto de proporções devastadoras na capital japonesa, num futuro próximo. Em 1923 lá morreram cerca de 140 mil pessoas, devido a um forte abalo seguido de incêndios. Mas depois das Olimpíadas de Pequim em 2008, é improvável que outra cidade asiática seja eleita tão cedo. Além disso, Tóquio é o único dos concorrentes que já sediou uma olimpíada (1964).
Perfil das candidatas
Chicago, a terceira maior cidade dos Estados Unidos, é um pólo econômico localizado às margens do Lago Michigan, 180 metros acima do nível do mar, com 600 km2 de área, 2,9 milhões de habitantes.
O Rio de Janeiro é a segunda maior cidade brasileira, metrópole turística número um, capital federal até 1960, localizada às margens do Oceano Atlântico, com 1.200 km2 de área e 6 milhões de habitantes.
Madri é a capital da Espanha, sede do rei e do governo, a cerca de 650 metros acima do nível do mar, com 600 km2 de área e 3,3 milhões de habitantes.
Tóquio é a capital do Japão, sede da família imperial, localizada no oceano pacífico, com cerca de 2.200 km2 de área onde vivem 12,5 milhões de habitantes.
Locais de competição
No tocante aos locais de competição, a concorrente mais adiantada é Madri, onde aproximadamente metade dos 33 locais de competição planejados já estão concluídos. Outros 20% encontram-se em fase de construção. Todos se encontram em um raio de 20 quilômetros da vila olímpica. Exceção para as provas de vela, que precisam ser realizadas a 350 km de distância da cidade.
Em Chicago, 15 dos 31 locais de competição também já estão prontos, os demais ainda não começaram a ser construídos. Dois dos locais de prova devem ficar prontos só em 2016, fato que preocupa o COI. Dois terços de todos os locais de competição ficam num raio de apenas 10 quilômetros da vila olímpica. Porém as provas de ciclismo e mountainbike serão realizadas em Wisconsin, a mais de 250 km da sede.
No Rio de Janeiro, cerca de um terço dos 33 locais de competição planejados estão concluídos, e mais um quarto já está em obras. Todas as provas, (incluindo vela) serão realizadas em um raio de 50 quilômetros da vila olímpica e podem ser alcançados em menos de uma hora.
Tóquio tem a pior colocação no quesito. Menos da metade (15 de 34) dos locais de competição planejados estão concluídos. O júri do COI também reclamou que os demais projetos nem entraram em fase de obra ainda. O último deles ficaria pronto apenas em junho de 2016, quando já seria tarde demais para testar as instalações. A vantagem é que todos os jogos poderiam ser realizados num raio de menos de 40 quilômetros – e em alguns casos 20 quilômetros – da vila olímpica.
Infraestrutura
Em Chicago, o Aeroporto Internacional O'Hare, com 70 milhões de passageiros por ano, é o segundo maior do mundo em fluxo de passageiros, atrás apenas do aeroporto de Atlanta. A cidade oferece também o Aeroporto Internacional Midway como alternativa, embora seja pequeno. Ponto negativo são as estradas de acesso à cidade, frequentemente congestionadas. O transporte público com trens e metrô funciona bem e é um dos mais usados dos Estados Unidos. Ambos os aeroportos são interligados ao sistema.
Madri oferece um dos maiores aeroportos da Europa e uma das maiores linhas de metrô do mundo. No Rio de Janeiro, embora haja mais de um aeroporto de grande porte, o COI acredita que a capacidade precisa ser expandida. De um relatório do comitê consta ainda a existência de 300 famílias que vivem de forma ilegal na área do aeroporto e precisariam ser realocadas. Além disso, a cidade tem um problema sério de transporte para resolver. O metrô, inaugurado em 1979, precisaria obrigatoriamente ser expandido para os jogos.
Os dois aeroportos de Tóquio juntos têm capacidade para 100 milhões de passageiros. A rede de metrô da cidade é uma das maiores do mundo. Além disso, as linhas de trens intermunicipais e urbanos têm bom desempenho – cerca de 80% dos habitantes utilizam o sistema. Entretanto, o COI avaliou que o sistema de transporte público já está bastante congestionado, sem a demanda dos jogos olímpicos.
Hospedagem
O COI definiu um número mínimo de 45 mil quartos de hotel disponíveis para os jogos. Chicago já tem 57 mil, e a maioria fica nos arredores dos locais de competição. No Rio a demanda é por 48 mil quartos, meta que ainda não foi atingida. A comissão organizadora da cidade planeja oferecer também 8.500 quartos em navios.
Em Madri são oferecidos cerca de 52 mil quartos de hotel, dos quais a metade ficam em hotéis de quatro ou cinco estrelas. Em Tóquio a meta já foi quase atingida. Cerca de 38 mil vagas ficam num raio de 10 quilômetros, e outras 4 mil de 10 a 50 quilômetros dos locais de competição.
Segurança
O comitê reconhece o alto nível de profissionalismo das equipes de segurança dos Estados Unidos, entretanto em 2008 foram registradas 510 mortes em Chicago. Com isso, a cidade tem um dos mais altos índices de violência entre as cidades americanas. Também pesa o fato de que os Estados Unidos continuam sendo o principal alvo de ataques da organização terrorista Al-Qaeda.
O alto índice de criminalidade no Rio de Janeiro, principalmente nas favelas, é a maior pedra no sapato da candidatura carioca. Em 2008 foram registradas 5.700 mortes violentas na cidade. O governo e a câmara municipal iniciaram um programa de 50 milhões de dólares para reduzir a criminalidade. Nesse quesito, a organização tem um ponto positivo, por vender a candidatura do Rio como um projeto em que o esporte pode funcionar como elemento de integração social.
A Espanha já mostrou em 1982, durante a Copa do Mundo, e em 1992, nas Olimpíadas de Barcelona, que tem condições de acolher grandes eventos esportivos. No entanto, o grupo separatista ETA continua sendo um fator de insegurança, como mostraram este ano os atentados a bomba em Maiorca e Burgos. O ataque da organização terrorista Al-Qaeda a um trem em Madri, em 2004, com 191 mortos, também permanece como uma lembrança amarga.
As forças de segurança de Tóquio foram consideradas pelo COI bem treinadas e equipadas.
Finanças
O orçamento planejado pela comissão organizadora de Chicago é de 3,8 bilhões de dólares, bastante superior ao das concorrentes. O júri do COI considerou um orçamento "ambicioso", mas ressaltou faltarem algumas garantias financeiras, como para a construção da vila olímpica, por exemplo. Só no início de setembro a câmara municipal de Chicago aprovou essa garantia.
A comissão organizadora do Rio calcula um montante de 2,82 bilhões de dólares. A de Madri, 2,67 bilhões de dólares. E a de Tóquio, 2,86 milhões de dólares. Todas foram consideradas propostas equilibradas e com garantia.
Apoio popular
Segundo pesquisa realizada pelo COI, cerca de 85% dos habitantes de Madri e 86% dos demais espanhóis apoiam a candidatura da cidade. É o nível mais alto entre todos os participantes. O Rio vem em segundo lugar, com 85% de apoio da população carioca e 69% dos demais brasileiros.
Em Chicago a pesquisa registrou apenas 67% de apoio popular dos moradores da cidade e 61% dos demais americanos. Em Tóquio o nível de entusiasmo para sediar as Olimpíadas foi ainda mais baixo. Apenas 56% dos moradores de Tóquio e 55% dos demais japoneses aprovam a candidatura da cidade.
Autor: Stefan Nestler / Francis França
Revisão: Augusto Valente