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Conflitos étnicos se intensificam no Sudão do Sul

Jutta Schwengsbier (md)20 de dezembro de 2013

Onda de violência entre grupos rivais leva a derramamento de sangue e ameaça jogar país recém-criado numa guerra civil. Etnia murle é um dos povos obrigados a fugir de suas terras, devido a seguidos massacres.

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Foto: picture-alliance/AP

Toda semana, a comunidade dos murles se reúne numa pequena igreja com telhado em chapa ondulada em Juba, capital do Sudão do Sul. Com cerca de 130 mil membros, os murles são um pequeno grupo étnico, em grande parte formado por agricultores tradicionais e pecuaristas do estado de Jonglei. Mas muitos deles foram forçados a fugir, devido a atos de limpeza étnica realizados nos últimos anos em sua terra.

Jacob Katinja, de 70 anos, também vai todos os domingos à igreja. Ele conta que fugiu de um massacre na região de Pibor, em Jonglei, no início do ano passado. De acordo com testemunhas, cerca de três mil pessoas foram mortas na chacina. Membros de dois dos maiores grupos étnicos do sul do Sudão, os dinkas e os nuers, foram acusados pelo crime.

Após o culto, Katinja, membro do conselho dos anciãos dos murle, e outros membros da comunidade, contam seu sofrimento. Os mais velhos entre eles ainda se lembram exatamente quando começou o conflito entre seu povo e seus vizinhos. "A disputa entre os nuers e os murles começou em 1962", lembra Katinja. "Naquela época, os nuers atacaram pela primeira vez, para roubar gado. Desde então, nossos rapazes lutam, roubando gado uns dos outros".

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Jakob Katinja teve que fugir de massacres em sua terra natalFoto: Jutta Schwengsbier

Política e tribalismo

O que começou como uma luta pelo gado e, em parte, como um teste de coragem entre os homens mais jovens, acabou virando ao longo dos anos uma luta sangrenta. Não só o murles e os vizinhos nuers, mas outros dos cerca de 60 grupos étnicos do país se digladiam frequentemente numa disputa por gado, terras e recursos minerais subterrâneos.

Os dois principais rivais na luta pelo poder no Sudão do Sul também pertencem a grupos étnicos distintos que se enfrentaram num conflito sangrento durante a guerra civil na década de 90. O presidente Salva Kiir pertence aos dinkas, o grupo étnico mais influente e numeroso do Sul do Sudão. Seu arquirrival e ex-assistente é um nuer, membro de um grupo étnico um pouco menor, que também está fortemente representado nas forças de segurança sul-sudanesas.

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Refugiados da etnia murle em Juba se encontram todo domingo na igrejaFoto: Jutta Schwengsbier

Ulrich Delius, especialista em África da Sociedade para os Povos Ameaçados (GfbV, na sigla em alemão) teme que a atual crise de Estado possa rapidamente se transformar em uma violência étnica em todo o Sudão do Sul. "Mesmo agora, nos últimos dias, houve assaltos contra os nuers. Há outros relatos de Jonglei, dando conta de que também houve ataques contra os murles", afirma Delius.

Jacob Katinja já experimentou essa escalada de violência na própria pele. Após o fim da guerra civil, que levou à independência do Sudão do Sul, em 2011, os ataques aos murles se intensificaram. "Em 2007, os nuers mataram pela primeira vez as mulheres e os velhos. Eles sequestraram e mataram nossos filhos", relata Katinja. Ele está convencido de que o governo, dominado pelos nuers e dinkas, está por trás dos ataques. "O governo quer expulsar os murles da região."

De roubo de gado a limpeza étnica

Segundo estudo da organização Human Rights Watch, só nos últimos 12 meses, cerca de 85 mil pessoas fugiram da província de Jonglei. Um relatório da entidade aponta que, em vez de assegurar a proteção dos civis, os soldados dos grupos étnicos dinka e nuer participaram das chacinas contra os murles.

Südsudan Juba Ausschreitungen Präsident Salva Kiir
Presidente sul-sudanês, Salva Kiir, pertence à influente etnia dinkaFoto: Reuters

Njei Karok Kolituk também teve de fugir de Pibor para Juba. "O tribalismo é o maior problema no Sudão do Sul", explica o jovem. Ele também está convencido de que seu povo foi vítima de campanha sistemática de limpeza étnica. "Eles querem nos expulsar, para dividir entre si a riqueza do país", acusa, acrescentando que, antes, quando os diferentes grupos étnicos em Jonglei roubavam gado uns dos outros, nenhuma criança era sequestrada ou mulheres e homens de idade eram mortos. "Agora, até os moradores da cidade são mortos, embora não tenham gado algum. Isso significa que há uma agenda diferente", diz Njei Karok Kolituk.