Conferência para paz na Líbia reforça embargo de armas
19 de janeiro de 2020Aliados internacionais do governo apoiado pela Organização das Nações Unidas na Líbia e forças rebeldes lideradas pelo general Khalifa Hafter entraram em acordo, neste domingo (19/01), para respeitar um cessar-fogo iniciado há uma semana e um embargo de armas decretado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, no contexto da guerra civil que assola o país há cinco anos.
O pacto foi selado na conferência em Berlim organizada pelo governo da Alemanha e pela ONU. Esta foi a primeira vez em que se reuniram todos os atores relevantes no conflito. Entre os presentes estavam o presidente do Governo do Acordo Nacional da Líbia (GNA), Fayez al-Sarraj, apoiado pela Turquia, e Hafter, homem forte do leste do país, liderando o autointitulado Exército Nacional Líbio (LNA) com apoio da Rússia.
"Podemos dizer que a Conferência da Líbia fez uma importante contribuição aos esforços de paz da ONU", afirmou a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, em entrevista coletiva. "Não há possibilidade de uma solução militar. Precisamos de uma solução política."
Apesar do otimismo, Merkel se disse ciente de que o acordo não resolve todos os problemas do país. Para a premiê, o resultado da reunião é um impulso para que as partes em conflito busquem uma solução diplomática para a crise: "Não me deixo iludir, será um caminho difícil." Merkel destacou que o embargo de armas deve ser fortemente fiscalizado para que seja efetivo.
Discrepâncias e crítica
Para que o acordo firmado tenha validade internacional, ele será levado ao Conselho de Segurança da ONU. O documento assinado por 16 Estados e organizações aposta no estabelecimento de uma trégua "duradoura e verificável", além de pedir que todos os atores envolvidos cumpram o embargo de armas e não contribuam para uma escalada do conflito na Líbia.
O texto defende que uma solução para a crise só pode passar por um processo político controlado e liderado pelos líbios. Além disso, a meta é manter a unidade territorial e a soberania nacional da Líbia. A conferência teve o mérito de reunir, pela primeira vez, todos os atores nacionais e internacionais envolvidos no conflito no país norte-africano, em especial por a Alemanha ser um mediador sem grandes interesses diretos no país.
Estiveram presentes os presidentes da França, Emmanuel Macron, Rússia, Vladimir Putin, Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e do Egito, Abdul Fatah al Sisi. Também viajaram a Berlim os primeiros-ministros do Reino Unido, Boris Johnson, e da Itália, Giuseppe Conte. Os Estados Unidos foram representados pelo secretário de Estado Mike Pompeo.
Após a cúpula, o secretário-geral da ONU, António Guterres, anunciou: "Todos os participantes se comprometeram a renunciar a interferências no conflito armado ou em questões internas da Líbia."
Na prática, contudo, o general Hafter conta com apoio militar de Rússia, Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos, assim como com o respaldo político da França e EUA; enquanto Al-Sarraj é política e financeiramente apoiado por União Europeia, ONU, Itália e Catar, além de receber ajuda militar da Turquia, em violação ao embargo de armas.
Por sua vez, o ministro russo do Exterior, Sergei Lavrov, criticou os dois protagonistas do conflito líbio: "A conferência foi muito útil [...], mas é claro que ainda não foi lançado um diálogo sério e estável" entre Hafter e o governo de Al-Sarraj, reconhecido pelas Nações Unidas, comentou.
Johnson confronta Putin
À margem da conferência internacional em Berlim, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, alertou o presidente russo, Vladimir Putin, que a posição do Reino Unido sobre o caso Skripal não se alterou, avisando-o para "não repetir tal ataque" em solo britânico.
O conservador inglês referia-se à tentativa de envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal, com o gás dos nervos Novichok, em 2018, na cidade de Salisbury. Segundo a Justiça britânica, os perpetradores seriam dois agentes do serviço de informação russo.
Johnson advertiu Putin que as ligações entre Moscou e Londres não voltariam ao normal até a Rússia abandonar tais práticas: "Não haverá normalização da nossa relação bilateral até a Rússia terminar suas atividades desestabilizadoras, que ameaçam o Reino Unido e nossos aliados, e comprometem a segurança dos nossos cidadãos e nossa segurança coletiva." Apesar disso, ambos os países teriam a responsabilidade de lidar com questões de segurança internacional como a Líbia, Síria, Iraque e Irã, salientou o premiê, citado pela agência France-Presse.
AV/ap,afp,efe,lusa rtr,dpa
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