Velhos comunistas
22 de janeiro de 2009Em dezembro de 1989, a fronteira entre os dois estados alemães já estava aberta havia um mês. O Muro de Berlim caíra, e com ele todo um sistema político-partidário. No início do mês, a Volkskammer – nome pelo qual era conhecido o Parlamento da Alemanha Oriental – riscara da Constituição do país comunista a prerrogativa de liderança do Partido Socialista Unitário (SED).
Reunidos num congresso partidário especial, os filiados discutiam o futuro do SED. Havia duas opções: a dissolução ou uma renovação radical a partir das bases. A primeira opção foi descartada, e o partido foi renomeado e ganhou um novo programa. O SED passou a se chamar SED-PDS, sendo que a segunda parte da sigla significava Partido do Socialismo Democrático. Mas poucos acreditavam no futuro da agremiação. Das cerca de 4 mil pessoas que trabalhavam para o partido na época comunista, restavam apenas 200.
Partido regional
Quase 20 anos depois, o partido, hoje conhecido como A Esquerda, atua em toda a Alemanha e é a quarta maior agremiação partidária do país, atrás apenas de SPD, CDU e Partido Liberal Democrático.
No Leste alemão, disputa a preferência dos eleitores com a CDU e está à frente do SPD em alguns parlamentos estaduais. "Praticamente do nada criou-se um partido que alcança até 10% dos votos nas eleições parlamentares nacionais. Isso é extraordinário", afirma o cientista político Tim Spier, da Universidade de Göttingen.
Muitos analistas políticos consideravam o SED-PDS (que a partir de 4 de fevereiro de 1990 passou a se chamar apenas PDS) um fenônemo passageiro. De fato, em dezembro de 1990, nas primeiras eleições parlamentares da Alemanha reunificada, o PDS alcançou 11,1% dos votos no Leste e apenas 2,4% em todo o país. Com a equiparação da situação econômica e das condições de vida entre os dois lados, o "partido regional" perderia importância, afirmavam muitos observadores.
Ascensão em alta velocidade
Mas a ascensão do PDS foi contínua e inabalável. Nas eleições parlamentares de 1990 no estado da Turíngia, o partido alcançou 9,7% dos votos. Quatro anos depois, chegou a 16,6%. Em 1999, passou para 21,3% e, em 2004, já eram 26,2% dos votos. Demais para um partido tido como regional ou de protesto.
Em 1994, na Saxônia-Anhalt, formou-se o primeiro governo regional vermelho-verde numa aliança do SPD com o Partido Verde informalmente apoiada pelo PDS. A primeira coalizão vermelho-vermelha, entre SPD e PDS, foi criada em 1998 em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. E desde 2001 a capital Berlim é governada por uma aliança vermelho-vermelha. Para Spier, uma "evolução em alta velocidade".
Mas a participação no governo de Berlim não trouxe apenas flores, como também espinhos. Nas eleições legislativas de 2006, o partido perdeu até 20% dos votos nos seus bastiões no leste da cidade, administrada antigamente pelo regime comunista. Culpa, segundo os analistas políticos, da falta de um perfil definido.
A solução foi se aliar ao pequeno WASG (Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social), uma união de políticos egressos do SPD e sindicalistas que havia criado um partido em 2005, em protesto contra as reformas políticas do então chanceler federal Gerhard Schröder, do SPD. Assim como o PDS, o WASG também defendia o socialismo democrático. Os dois partidos se uniram e passaram a se chamar A Esquerda.
Pequeno, mas consolidado
Em maio de 2007, em Bremen, A Esquerda conseguiu pela primeira vez ingressar num parlamento estadual do lado ocidental do país. Hoje o partido está representado também nos legislativos de Hessen e da Baixa Saxônia.
Para Spier, o partido desenvolveu sensibilidade para falar aos sentimentos de uma parte da população alemã. Aparentemente, A Esquerda supre uma necessidade de justiça social melhor do que o SPD, o tradicional defensor das questões sociais. "Com isso, A Esquerda garantiu sua existência por um certo tempo", avalia Spier.
Sobre nenhum outro partido na Alemanha discute-se de forma tão acalorada e emocional. A Esquerda fez ressurgir velhas tendências anticomunistas dos partidos tradicionais. Mas também estes tiveram de reconhecer: no momento, e aparentemente ainda por muito tempo, o tradicional sistema alemão de quatro partidos políticos ganhou um quinto elemento.
O que ainda não está claro são os objetivos de A Esquerda. Nem o seu programa: membros do partido dizem defender a economia de mercado ao mesmo tempo que pregam o fim do capitalismo.