Como vão a igualdade e justiça sociais na Alemanha
21 de agosto de 2017O debate em torno da pobreza e desigualdade na Alemanha segue acalorado. O país tem a economia mais forte da Europa, o desemprego bate recordes negativos e os salários crescem; ao mesmo tempo, cada vez mais cidadãos estão sendo deixados para trás.
Em seu relatório anual, a associação nacional de previdência Paritätischer Wohlfahrtsverband afirmou que a percentagem de alemães vivendo na pobreza é de 15,7%, a mais alta desde a Reunificação. Aposentados, pais e mães solteiros, crianças e desempregados de longo prazo são os grupos de maior risco.
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A associação mede a chamada pobreza relativa, ou seja, o percentual de pessoas que vivem com menos de 60% do orçamento médio de uma família. E isso, por si só, já mostra por que o debate sobre pobreza na Alemanha é tão controverso. O país, afinal, continua tendo um sistema de assistência social forte, que garante um padrão de vida básico aos mais pobres, assim como uma estrutura tributária com taxas progressivas para redistribuir a riqueza.
Economistas e críticos têm apontado falhas no relatório da Paritätischer, ressalvando que, em geral, estudantes se situam abaixo da linha da pobreza relativa, o que distorce as estatísticas. A associação, por sua vez, rebate que não incluiu os milhares de sem-teto em suas sondagens.
Agenda 2010 como culpada
A resposta à questão de quão justa e igualitária a Alemanha é hoje em dia depende muito de a quem se pergunta. No entanto, a maioria dos analistas concorda que o país tem visto um incremento do setor dos trabalhadores pobres: gente que tem trabalho, mas mesmo assim precisa lutar para subsistir.
Diversos sindicatos e críticos responsabilizam a Agenda 2010 pela situação. O abrangente pacote de reformas trabalhistas adotado em 2005 pelo então chanceler federal, Gerhard Schröder, liberalizou o mercado de trabalho, reduziu o auxílio-desemprego e impulsionou o surgimento de um novo setor de trabalho flexível e temporário, argumentam.
Frank Nullmeier, especialista em igualdade social do instituto de pesquisa Socium, da Universidade de Bremen, ressalva que os economistas divergem se a Agenda 2010 contribuiu para a desigualdade atual, mas que "ninguém pode negar que ela certamente não trouxe mais igualdade".
Contra a apatia eleitoral
Economistas e sociólogos se dividem sobre a melhor maneira de enfrentar a desigualdade social crescente na Alemanha. Alguns propõem um sistema de renda básica garantida, em que cada pessoa teria assegurado um salário mínimo mensal, independentemente de a pessoa estar empregada ou não.
O pastor Harald Schröder, que trabalha para uma organização cristã de ajuda aos sem-teto e necessitados, conta entre os defensores dessa ideia. Segundo ele, muitos pobres e desempregados têm vergonha de recorrer aos benefícios das agências de trabalho estatais, e o contato com as autoridades lá é muitas vezes desencorajador.
Ele acredita que uma renda básica ajudaria a reduzir a desigualdade social e "transformaria os necessitados em cidadãos em pé de igualdade", os quais se sentiriam, por exemplo, incentivados a votar nas eleições gerais deste 24 de setembro.
Com a desigualdade social e econômica como tema mais premente para o eleitorado de todo o país, não é de surpreender que o social-democrata Martin Schulz, que concorre contra a chanceler Angela Merkel pela chefia de governo, tenha colocado a igualdade e justiça sociais no centro de sua plataforma eleitoral.
Ainda assim, a apatia eleitoral é especialmente pronunciada nas regiões e bairros mais pobres da Alemanha. Em Bremen, onde um quarto dos adultos e um terço das crianças são considerados pobres, apenas metade dos eleitores habilitados foi às urnas no pleito municipal de 2015.
Desse modo, nem os eleitores dos democrata-cristãos de Merkel nem os do Partido Social-Democrata (SPD) obtiveram a vantagem, mas os abstinentes: uma tendência preocupante, que pode trazer sérias consequências para a votação federal de setembro.