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MúsicaEuropa

Como "Ode à Alegria" de Beethoven se tornou o hino da UE

Anastassia Boutsko
8 de junho de 2024

Em 1972, famoso final da "Nona" foi escolhido para ser o hino oficial europeu. Na seleção, compositor alemão competiu com seu conterrâneo Georg Friedrich Händel e o barroco francês Marc-Antoine Charpentier.

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Pintura de Ludwig van Beethoven
"Sinfonia nº 9" de Ludwig van Beethoven estreou há 200 anosFoto: The Print Collector/Heritage Images/picture alliance

Durante toda a sua vida, o compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827) passou por dificuldades financeiras. Se ele estivesse vivo hoje em dia, seria provavelmente um dos músicos mais ricos do mundo apenas pelos direitos autorais da sua Sinfonia nº 9, que estreou há 200 anos.

O final da Sinfonia nº 9, denominado Ode à Alegria, é uma das composições mais conhecidas da história da música clássica. Sua versão instrumental foi declarada hino do Conselho Europeu em 1972, e desde 1985 é o hino oficial da União Europeia (UE).

Embora a versão original contenha um poema do filósofo e dramaturgo Friedrich Schiller (1759-1805), exaltando a paz e a harmonia entre os povos, o hino europeu optou apenas pela versão instrumental.

Mas por que, afinal, os europeus escolheram Beethoven para seu hino entre tanto outros compositores? A resposta para essa pergunta remonta mais de meio século.

No final da década de 1960, o Conselho Europeu começou a procurar um símbolo musical para a Europa que estava crescendo em conjunto.

"Sabemos que, mesmo antes da Comunidade Europeia, havia um movimento pan-europeu que escutava Beethoven com frequência", conta Malte Boecker, diretor da Beethoven Haus, em Bonn. Assim, o compositor alemão estava no topo da lista. "Mas havia alternativas que foram levadas seriamente em consideração", acrescenta.

Boecker afirma que se chegou rapidamente a um consenso de que não poderia ser uma composição contemporânea. "A ideia de um concurso foi descartada e foi buscado entre os velhos mestres."

Entre os candidatos estavam Georg Friedrich Händel, que nasceu em Halle, na Alemanha, e viveu em Londres, e o compositor barroco francês Marc-Antoine Charpentier (1643-1704) – um fragmento do seu Te Deum é o atual lema do Eurovisão da Canção (Eurovision Song Contest, ESC).

Sem palavras

Em 1972, Beethoven levou a melhor e acabou sendo o escolhido. "Beethoven é considerado uma personalidade europeia. E sua obra é associada a algo que ultrapassa a perspectiva puramente nacional", avalia Boecker.

Segundo o especialista, a Nona sinfonia é "a essência da música utópica". Uma música que "formula uma visão que une muitos".

Manuscrito da "Nona sinfonia" de Beethoven
Manuscrito autógrafo da "Nona" é patrimônio da humanidadeFoto: Andreas Altwein/dpa/picture alliance

Em 1972, a versão instrumental da Ode à Alegria foi declarada hino oficial da União Europeia. Ela não substitui os hinos nacionais dos países do bloco, mas expressa os valores – liberdade, paz e solidariedade – compartilhados entre os membros da UE, e reflete o lema "unidos na diversidade". O texto da composição original foi deixado de lado.

Simplesmente retirar o texto não cria um hino. O majestoso quarto movimento da Sinfonia nº 9 tem cerca de 25 minutos, sendo muito longo para cerimonias oficiais.

A tarefa de arranjar a música para eventos oficiais foi assumida pelo famoso maestro Herbert von Karajan (1908-1989). O então regente da Orquestra Filarmônica de Berlim era uma das figuras centrais da vida musical mundial e foi apelidado de "diretor musical da Europa". Ele escolheu os compassos de 140 a 187 e os arranjou para instrumentos de sopro.

Em algum momento, o nome de Karajan desapareceu do site oficial da União Europeia. Talvez porque o bloco quisesse se distanciar do maestro, cujo passado nazista estava cada vez mais em evidência. Outros arranjos foram encomendados, inclusive ao compositor francês Christian Guyard.

Beethoven como europeu

Uma questão permanece: o que teria dito Beethoven sobre a ideia europeia e sobre sua Sinfonia nº 9 se tornar hino da Europa?

Beethoven foi uma figura influente do movimento político emancipatório de sua época, aponta Boecker. "No mundo de hoje, ele seria definitivamente um europeu convicto".

E ele também não teria recusado os direitos autorais.

Por que a Nona Sinfonia de Beethoven ultrapassa gerações