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Como novas eleições na Alemanha podem impulsionar a AfD

10 de novembro de 2024

Antecipação de eleições agrada à ultradireita, que se projetou em meio à atual crise alemã. Após triunfos recentes nas eleições europeias e em pleitos regionais, partido pode virar fiel da balança no Parlamento.

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Alice Weidel e Tino Chrupalla, colíderes da AfD
Rindo à toa: AfD pressionava há meses pela antecipação de eleições gerais na Alemanha. Na foto, os colíderes da AfD, Alice Weidel e Tino ChrupallaFoto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

A Alternativa para a Alemanha (AfD) tem pressa: "O chanceler federal [Olaf] Scholz perdeu a confiança do povo alemão há muito tempo, e tem que liberar já o caminho para novas eleições", exigiu Alice Weidel, colíder do partido de ultradireita, após o anúncio da desintegração da coalizão de governo.

Diferentemente do que propôs Scholz, a AfD quer que ele se submeta a um voto de confiança no Parlamento já a partir desta segunda-feira (11/11), em vez de em 15 de janeiro. "Ele deve ao país uma saída o mais rápido possível."

Novas eleições podem aumentar a influência da AfD na política nacional. No último pleito, em setembro de 2021, o partido obteve 10% dos votos. Agora, em novembro de 2024, pesquisas projetam que esse número pode chegar a 19%, o que faria do partido a segunda maior bancada no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento.

Até agora, o partido de retórica anti-imigração e crítico ao apoio militar à Ucrânia segue isolado pelos demais membros do Bundestag.

Mas eles têm cortejado partidos tradicionais. Na quinta-feira (07/11), ao reagir ao anúncio do fim do governo de coalizão, Weidel dirigiu publicamente um apelo aos conservadores na CDU e CSU e aos liberais do FDP: "Assumam responsabilidade cívica aqui e entrem em acordo conosco. Afinal, temos milhões de eleitores".

Migração e política externa no topo da agenda

Dois dos principais temas que projetaram a AfD são migração e política externa.

Assim como o recém-eleito presidente americano Donald Trump, o partido defende o controle de fronteiras e o combate à imigração ilegal.

"Precisamos pôr um fim à migração ilegal, executar ordens para deportação de criminosos, fechar as fronteiras", exortou o também colíder Tino Chrupalla na quinta-feira.

A sigla é ainda veementemente contrária ao envio de armas à Ucrânia. Tanto que esnobou o presidente ucraniano Volodimir Zelenski em junho de 2024 quando ele foi ao Bundestag, recusando-se a participar da sessão plenária.

O presidente ucraniano Volodimir Zelenski discursa no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão
AfD é contra o apoio da Alemanha à Ucrânia e crítica do presidente ucraniano Volodimir Zelenski (foto)Foto: Axel Schmidt/REUTERS

Após o fim da coalizão de governo, a AfD agora quer também o fim da ajuda militar e financeira à Ucrânia. Chrupalla defende que a questão seja votada e decidida ainda nos últimos meses antes da eleição, já que esses gastos, uma vez aprovados, "arruinariam" o Orçamento do próximo governo.

"Chega de cordão sanitário!"

A AfD pressiona principalmente os conservadores da CDU/CSU a deixarem de lado sua recusa categórica em trabalhar juntos. O partido lidera as pesquisas, chegando a até 34% da preferência do eleitorado.

"É hora de finalmente acabar com os cordões sanitários", disse Chrupalla, em referência ao isolamento que outros partidos impõem à sigla no Parlamento. "Os cidadãos na Alemanha esperam que os problemas aqui sejam finalmente resolvidos e essa crise do país também possa ser superada."

Tal coalizão, porém, parece improvável diante da trajetória de radicalização da AfD. O partido é atualmente monitorado pelo serviço secreto alemão por suspeita de extremismo.

E embora a AfD tenha no Partido Verde seu inimigo preferencial, a sigla não poupou críticas aos conservadores no passado. Em 2023, Maximilian Krah, então principal candidato da AfD ao Parlamento Europeu, declarou que a CDU era seu principal oponente e pediu a "destruição" da sigla. Diversos outros altos cargos da AfD rejeitam fazer concessões políticas à CDU.

Em agosto de 2024, em entrevista à agência Redaktionsnetzwerk Deutschland, o presidente da CDU, Friedrich Merz, negou categoricamente a possibilidade de quaisquer cooperação entre os dois partidos, alegando que isso "mataria a CDU".

Fiel da balança

Mas ainda que os partidos tradicionais continuem empenhados em ignorar a AfD, essa tarefa pode se tornar cada vez mais difícil. O crescimento da sigla e a dispersão do eleitorado no país, impulsionada também pelo surgimento da sigla populista de esquerda Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), ameaça transformar os dois partidos, juntos, em fieis da balança capazes de travar o Parlamento.

Esse cenário comprometeria a governabilidade do país, que já ficaria prejudicada caso as próximas eleições não tragam partidos populares o suficiente para construir coalizões fortes e harmônicas – esse era o caso do governo formado por social-democratas, verdes e liberais, divididos por diferenças na administração do Orçamento.

Conexões com a extrema direita

Ainda não se sabe se e como os diversos escândalos em que a AfD está envolvida afetarão seu desempenho nas próximas eleições nacionais.

No início deste mês, três membros do partido foram presos sob suspeita de apoiar um grupo que planejava um golpe nazista. A AfD prometeu expulsá-los, mas há outros casos de suspeitos com conexões em redes extremistas.

Um ex-deputado da Baviera é investigado sob suspeita de incitação ao ódio, e uma ex-parlamentar do Bundestag está em prisão preventiva por suspeita de ajudar a planejar um golpe de estado.

A radicalização cada vez maior da AfD levou um grupo de parlamentares do Bundestag a apresentar um requerimento pedindo a proibição do partido. A proposta ainda terá que ser levada a votação, mas uma eventual proibição dependeria do aval do Tribunal Constitucional.

Deutsche Welle Pfeifer Hans Portrait
Hans Pfeifer Ele é um repórter multimídia apaixonado, especializado em extrema direita.