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Como levar Putin à mesa de negociações com a Ucrânia?

Roman Goncharenko
30 de junho de 2024

Após conferência de paz na Suíça para a qual o líder russo sequer foi convidado, Kiev lança preparativos para nova reunião. Mas especialistas alemães ainda não veem perspectiva para acordo de paz.

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Montagem de fotos de Zelenski e Putin
Zelenski e Putin: especialistas não creem em acordo ainda este anoFoto: Olivier Matthys/AP/dpa/Mikhail Metzel/Sputnik/picture alliance

Será que negociações para o fim da guerra russa contra a Ucrânia ainda podem ocorrer neste ano? Talvez até mesmo antes da eleição presidencial dos EUA, em novembro?

Atualmente, a Ucrânia trabalha para convocar outra conferência de paz dentro de alguns meses. A mídia ocidental vem mencionando cada vez mais a possibilidade de a Arábia Saudita sediar evento.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, quer manter o ritmo de sua ofensiva diplomática e, portanto, anunciou "novas medidas concretas" para julho, que possivelmente incluiriam a formação de grupos de trabalho para produção de um plano de paz ucraniano.

Diplomacia para manter o diálogo

A primeira conferência de alto nível foi realizada na Suíça em meados de junho. Cerca de 90 países participaram, mas a Rússia não foi convidada, e a China ficou de fora, assim como o Brasil.

Os debates foram limitados a tópicos como rotas de livre comércio, segurança nuclear e intercâmbio de prisioneiros. Uma porta diplomática também foi aberta para uma futura participação russa.

A paz na Ucrânia exige "participação e diálogo entre todas as partes", de acordo com a declaração final. Existe agora uma chance de negociações de paz reais no terceiro ano de guerra?

"Foto de família" reúne participantes da conferência pela paz na Ucrânia realizada em maio na Suíça
Participantes da conferência pela paz na Ucrânia realizada em junho na SuíçaFoto: Moncloa/EUROPA PRESS/dpa/picture alliance

A DW conversou com dois importantes representantes da diplomacia alemã sobre o assunto: Rüdiger von Fritsch, ex-embaixador em Moscou e ex-vice-presidente do Serviço Federal de Inteligência. E Christoph Heusgen, chefe da Conferência de Segurança de Munique (MSC, na sigla em inglês) e ex-assessor da chanceler Angela Merkel.

"Putin não tem interesse em acabar com a guerra"

Ambos os diplomatas acham improvável que ocorram negociações rápidas com a Rússia. Já antes da conferência na Suíça, quando o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou sua visão para um cessar-fogo, as posições opostas ficaram evidentes.

De acordo com Moscou, Kiev deveria se retirar de quatro áreas no sul e no leste anexadas pela Rússia em 2022 e renunciar à adesão à Otan. Então, as armas silenciariam, de acordo com Putin.

O ex-embaixador Rüdiger von Fritsch não acredita nisso. Segundo ele, no momento, Putin não tem "absolutamente nenhum interesse em terminar essa guerra se sua agressão for recompensada no final", o que, de acordo com o diplomata, seria o caso se as ideias do líder russo fossem aceitas.

Em termos de conteúdo, a oferta de Putin "não tinha nenhuma intenção séria", diz o CEO da MSC, Christoph Heusgen. O presidente russo estava, segundo ele, mais interessado em "jogar areia nas engrenagens" da conferência suíça e observar a reação.

"Ucrânia entrar na Otan"

Diante desse cenário, os dois diplomatas duvidam que as negociações sejam possíveis em curto e médio prazo. Antes de mais nada, "Putin deve reconhecer o governo legítimo da Ucrânia e o presidente Zelenski como parceiros de diálogo".

Isso ainda não ocorreu. Recentemente, no final de maio, o presidente russo questionou a legitimidade de Zelenski, por ocasião do fim formal de seu mandato como presidente. No entanto, este foi automaticamente prorrogado de acordo com a lei ucraniana, já que sob lei marcial não pode haver eleições.

Além disso, a Rússia deveria respeitar a Carta da ONU, de acordo com Heusgen. O comunicado final da conferência suíça também destaca esse fato. "Vejo a única chance de paz se a Ucrânia for colocada novamente em uma posição de força nesse conflito", diz o diretor do MSC.

Heusgen avalia que a Rússia está muito distante da posição ucraniana e de um possível consenso. Por isso, ele não acredita "que teremos uma conferência com a participação da Rússia" ainda este ano. "A Ucrânia e seus parceiros no Ocidente precisam ter paciência", adverte.

Policiais de uniforme preto e capacetes levam mulher segurando uma bolsa, que tenta resistir
Mulher é presa em Moscou em protesto contra uma mobilização parcial, em setembro de 2022: Putin teme revolta popularFoto: Alexander Nemenov/AFP

"Putin tem medo de um levante"  

Heusgen diz o que ele acredita que muitos no Ocidente estão relutantes em ouvir. "No caso de um acordo com a Rússia, a Ucrânia precisaria de garantias de segurança mais fortes do que antes."

"Na minha opinião, um acordo com a Rússia só pode ser tolerável para a Ucrânia se for acompanhado pela adesão à Otan", diz Heusgen. A Ucrânia tem tido garantias de adesão à Otan desde 2008, mas não o status de candidata.

Rüdiger von Fritsch também não acredita em sucessos diplomáticos rápidos. O ex-embaixador em Moscou acredita que Putin só estaria preparado para entrar em negociações substanciais se seu poder dentro da Rússia for ameaçado.

"Vladimir Putin precisa constantemente comprar a aprovação da população local, ele governa seu país com repressão, propaganda e suborno constante", diz von Fritsch.

Ele destaca que não apenas a economia russa está sob pressão. O Kremlin também teme que ocorra algo inesperado, como um levante, que poderia colocar em risco seu poder.

Como exemplos, o diplomata citou os protestos das mães dos soldados soviéticos contra a guerra no Afeganistão na década de 1980 e as manifestações em massa do sindicato Solidariedade, sob o comando do líder sindicalista Lech Walesa, que derrubou o sistema comunista na Polônia – também na década de 1980.

"Putin tem medo de algo assim", diz von Fritsch. "E é preciso levá-lo a esse ponto. Se ele chegar a considerar algo do tipo, então estará disposto a conversar". Uma maneira de tentar chegar a esse ponto seria, conforme o especialista, fortalecer a Ucrânia e impor mais sanções contra a Rússia.