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Como, em quatro anos, o golpismo foi construído no Brasil

11 de janeiro de 2023

O discurso golpista no Brasil nasceu ainda na campanha de 2018. E, ao longo de quatro anos, foi sendo naturalizado, culminando no ataque em Brasília.

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Quando vemos as imagens da invasão e da destruição golpista no centro do poder em Brasília, a pergunta de muitos foi: "Como a gente chegou neste ponto?" A DW fez um levantamento de alguns marcos que foram importantes neste escalada que culminou nestes ataques. Para este grupo de golpistas, o caos virou o método e eles usam táticas de terrorismo doméstico pra tentar provocar uma intervenção militar.

"Nos últimos dois anos, bolsonaristas têm realizado exercícios constantes e coordenados de mobilização de insurgência". Isso é o que aponta a coordenadora do Observatório da Extrema Direita Isabela Kalil.

Ela diz que o "marco deste processo ocorreu em março de 2020, quando Jair Bolsonaro e seus apoiadores passaram a atacar os governadores e o Supremo Tribunal Federal, em atos que passaram a ser chamados de 'manifestações antidemocráticas'".

É bem verdade que o bolsonarismo desde o início falava em rupturas institucionais. Mas a coisa foi esquentando. Eles começaram com sugestões, às vezes até em tom de piada, como uma de Eduardo Bolsonaro, que afirmou que para fechar o STF era necessário um jipe e um cabo.

E depois ganharam contornos bem mais radicais e concretos. Em diversas ocasiões, Bolsonaro atacou ministros do Supremo, o sistema eleitoral e deu a entender que não aceitaria o resultado das urnas.

Foram anos pregando uma ruptura institucional e ataques ao Estado democrático de direito. Nesse ponto, Isabela Kalil aponta ainda as motociatas como um exercício de insurgência.

Mas tem um elemento que é fundamental. A impunidade. O caso de Daniel Silveira foi importante. O deputado federal ameaçou o Supremo, inclusive de agressão física. Foi condenado pela Justiça e perdoado por Bolsonaro.

Pouco a pouco. Caso a caso, foi se normalizando um discurso extremista e criminoso. E atos e comportamentos violentos passaram a ser rotina.

Um deles aconteceu a uma semana do segundo turno das eleições, quando Roberto Jeferson resistiu à prisão e chegou a atirar e jogar uma granada contra policiais.

Veio o resultado das eleições e um grupo de pessoas foi para a porta dos quartéis para pedir uma intervenção militar. A linha entre liberdade de expressão, opinião e crime foi diversas vezes ultrapassada. O silêncio e a ausência do Bolsonaro alimentaram teorias da conspiração que eram exatamente o motor destes movimentos antidemocráticos.

De acordo com a pesquisadora Kalil, que observa estes grupos de perto, eles ficaram menores e mais radicais.

"[...] ganham proeminência apenas os que detêm maior habilidade com o uso da força e da violência, seja ela retórica ou física", escreveu no Twitter. "E as lideranças desses atos passam a ser mais prestigiados cada vez que avançam no seu 'extremismo estratégico' contra as instituições."

O ministro do Supremo, Gilmar Mendes, em nota lembrou dos crimes do dia 13 de dezembro, quando golpistas tentaram invadir a sede da Polícia Federal e resgatar um preso acusado de planejar atos golpistas. Na ocasião, nenhum dos vândalos foi preso. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, vale lembrar, sempre foi um bolsonarista declarado. Além disso, o ministro Gilmar Mendes cita também a tentativa de ato terrorista de explodir um caminhão tanque nas proximidades do aeroporto de Brasília.

Na ocasião, um homem foi preso e assumiu a autoria do crime. Disse que o plano era dar início ao caos e criar um estado de sítio no país.

O caos como método. As autoridades falam em um plano criminoso para abolir violentamente o Estado democrático de direito. As poucas horas de caos no centro de Brasília, na Praça dos Três poderes, depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF. Eles danificaram o espaço físico, mas as instituições continuam de pé e prometem punição exemplar a cada um dos envolvidos. Seja de quem participou, financiou ou foi omisso.