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Como a população de Kiev se prepara para apagões

Oleksandr Kunyzkyj
16 de novembro de 2022

Há semanas a Rússia tem atacado a infraestrutura energética ucraniana, causando quedas de energia generalizadas. Prefeitura planeja estações de aquecimento, e moradores estocam baterias, botijões de gás e roupas quentes.

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Rua à noite, sem iluminação
Rua de Kiev sem iluminaçãoFoto: Danylo Antoniuk/ZUMA Wire/IMAGO

"Comprei baterias externas extras para recarregar o celular e uma lanterna que pode ser abastecida com luz solar, mas que também funciona com baterias comuns. Claro que também comprei muitas velas", conta Lyudmila Rosik, de Kiev, sobre sua vida desde que a Rússia invadiu a Ucrânia.

"Trouxe sacos de dormir e um botijão de gás da minha casa de campo para cozinhar. Mas se houver um apagão geral, vou de carro até o campo, onde consigo aquecer minha casa com lenha", acrescenta Rosik.

O exército da Rússia elevou os ataques contra a infraestrutura de energia elétrica ucraniana no último mês. Segundo as autoridades da Ucrânia, cerca de 40% das instalações já foram destruídas. Devido à falta de eletricidade em várias cidades, especialmente em Kiev, há cortes de energia generalizados, com milhares de moradias sendo afetadas.

Oleksandr Dyachenko, também de Kiev, preparou-se cuidadosamente para essa situação. Após os primeiros ataques maciços contra o sistema de geração de energia elétrica em outubro, ele comprou um conversor de voltagem para seu carro.

"É possível usar esse dispositivo para carregar o laptop no carro. Comprei também um fogão e um aquecedor a gás, além de lanternas e uma luminária para o quarto", conta. Ele também não esquece as botas de inverno. "Roupas quentes são a coisa mais importante. Afinal, pode ser que tenhamos que ficar num porão frio durante o alerta de um ataque aéreo", explica.

Sem acesso à internet

Um problema que Dyachenko não consegue resolver é a impossibilidade de acessar a internet durante os apagões. "Seria possível ligar o roteador a uma bateria se meu wifi fosse conectado à rede de fibra ótica. Mas infelizmente não temos um provedor com fibra ótica em casa, e há ainda muitas falhas na internet móvel. Por isso, vamos para um bairro onde há eletricidade e sentamos num café para usar a internet", conta.

As operadoras de telefonia móvel da Ucrânia disseram à DW que suas torres de celular possuem baterias que garantem a operação contínua por várias horas em caso de apagão. Mas afirmam que estão se esforçando para aumentar o número de baterias e geradores com o objetivo de evitar ao máximo as interrupções na internet móvel dos clientes.

Ao mesmo tempo, as autoridades ucranianas pretendem criar pontos com internet que também funcionem mesmo durante as quedas de energia. "Estamos considerando o uso de baterias da Tesla e terminais da Starlink para que tais pontos públicos ucranianos funcionem de forma independente da rede elétrica", disse o ministro da Transformação Digital da Ucrânia, Mykhailo Fedorov, em recente entrevista para a edição ucraniana da revista Forbes.

Ainda de acordo com Fedorov, esses pontos públicos de internet entrarão em funcionamento no próximo mês, mas ainda não está claro em quais cidades. É provável que alguns sejam instalados em Kiev.

Oleksandr Dyachenko mostra itens de primeira necessidade, como lanterna, bateria externa e vela
Oleksandr Dyachenko estoca itens de primeira necessidadeFoto: privat

Combustível, geradores e estações de aquecimento

Enquanto isso, a administração da capital se prepara para implantar cerca de mil das chamadas estações de aquecimento para seus cidadãos. Elas possuem equipamentos essenciais, como aquecedores, lâmpadas, banheiros, refeitórios, locais para descanso, roupas quentes e cobertores.

Além disso, elas serão equipadas com geradores e, por precaução, equipes de resgate estarão por perto. O prefeito Vitali Klitschko afirma que Kiev já tem estoque de combustível, geradores, alimentos e água.

No entanto, Klitschko admite que essas medidas não deverão ser suficientes se novos ataques russos deixarem a cidade sem abastecimento de eletricidade e água. Por isso, ele pede aos moradores que se preparem para o pior cenário.

"Se você tem parentes e conhecidos nos subúrbios de Kiev, onde há abastecimento próprio de água, um fogão e aquecimento, então fique temporariamente por lá. Por favor, tome providências de emergência para que você possa passar algum tempo na casa de amigos ou conhecidos", disse ele na televisão ucraniana.

A prefeitura de Kiev também está trabalhando num plano para retirar os três milhões de habitantes da cidade no caso de um apagão total, noticiou recentemente o jornal New York Times, citando Roman Tkatschuk, chefe do departamento de segurança. Ele mesmo confirmou posteriormente a informação, mas ressaltou que ainda não há motivo para a retirada da população.

"Estação de aquecimento" em Kiev, na Ucrânia
Kiev quer implantar cerca de mil "estações de aquecimento" para seus moradoresFoto: Kyiv City State Administration

"Não confie nas autoridades"

A retirada de três milhões de pessoas ao mesmo tempo é improvável, diz Ihor Molodan, chefe do Autonom Klub, uma escola de treinamento de sobrevivência. "Você tem que cuidar de si mesmo. Não confie nas autoridades", afirma.

Segundo ele, os moradores devem principalmente estocar roupas quentes, mas também comprar barracas e sacos de dormir. "Fogões portáteis e botijões, além de aquecedores de cerâmica a gás, também são úteis", acrescenta.

Volodimir Omelchenko, especialista em energia do Centro de Pesquisa Razumkov, também diz que é melhor confiar em si mesmo. "No caso de um apagão em Kiev, os geradores não serão capazes de fornecer eletricidade para a cidade de três milhões de habitantes. Eles são necessários principalmente em hospitais, lares de idosos, escritórios do governo e instalações militares", explica.

As estações de aquecimento têm capacidade para abrigar apenas cerca de 200 mil pessoas, diz Omelchenko. No entanto, ele enfatiza que as medidas tomadas pelas autoridades de Kiev estão corretas – e que nada mais pode ser feito. "A administração de nenhuma cidade do mundo consegue lidar com as consequências de um apagão total", frisa.

Em caso de emergência, o morador Oleksandr Dyachenko planeja deixar a capital e ir para sua casa de campo. "Já dupliquei o estoque de lenha, comprei fogão e botijões de gás. Assim, ali serei capaz de me aquecer e cozinhar."