Coalizão de Macri vence eleições legislativas na Argentina
23 de outubro de 2017O presidente da Argentina, Mauricio Macri, obteve nas eleições legislativas realizadas neste domingo (22/10) um forte apoio à sua gestão e, ao mesmo tempo, impôs uma derrota inédita ao peronismo – movimento político que nos últimos setenta anos e até então era o mais poderoso da Argentina.
A coalizão governista Cambiemos (Mudemos) conquistou o maior número de votos nas mais importantes províncias do país, consolidando o poder de Macri à frente do governo e pavimentando o caminho do líder argentino rumo às eleições presidenciais de 2019. Com 97,1% dos votos apurados, o "macrismo" dominava em 13 das 23 províncias.
Segundo o jornal El País, é a primeira vez desde 1985 que um não peronista consegue um resultado tão arrasador em eleições de meio mandato – o Parlamento argentino é parcialmente renovado a cada dois anos.
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Trata-se da confirmação de uma forte queda do peronismo e da ascensão do bloco conservador que levou Macri ao poder em 2015. A coalizão governista deverá ser, a partir do início de dezembro, a maior força da Câmara de Deputados, com 107 cadeiras de um total de 257 – 21 a mais em relação ao número atual, segundo os resultados preliminares. No Senado, o Cambiemos também aumentará sua presença com nove cadeiras a mais, e chegará a ter 24 das 72.
O analista Lucas Romero, da consultoria Synopsis, afirma que o resultado mostra que o governo de Macri foi "consolidado politicamente". No entanto, ele ressalta que "continua sendo um governo que não terá uma maioria, nem na Câmara dos Deputados nem no Senado, e que não convenceu os argentinos com sua política econômica".
Das adversidades à consolidação de poder
Na província de Buenos Aires, o distrito eleitoral mais populoso e mais importante da Argentina, o candidato governista Esteban Bullrich conquistou 41,3% dos votos, contra 37,2% da ex-presidente peronista Cristina Fernández de Kirchner (2007-2015) – mesmo assim, Kirchner conquistou uma cadeira no Senado argentino. O cargo lhe dá imunidade em relação a acusações por corrupção.
A coalizão de Macri também venceu na cidade autônoma de Buenos Aires – o que representa o triunfo mais forte do "macrismo" – e nas populosas provínicas de Córdoba, Santa Fé e Mendoza. Na capital federal, Elisa 'Lilita' Carrió, candidata a deputada pelo Cambiemos, arrasou nas urnas ao conquistar 50,93% dos votos
"Hoje, ganhou a certeza de que podemos mudar a história [do país] para sempre", discursou Macri diante de centenas de correligionários no quartel-general governista em Buenos Aires.
Desde sua eleição, em 2015, o político de 58 anos lançou iniciativas para "normalizar" o país que as políticas de seus predecessores peronistas haviam isolado dos mercados de capitais internacionais.
Macri anulou controles de câmbio, eliminou taxas para as exportações, resolveu uma disputa legal com credores e começou a cortar subsídios para gás e eletricidade no país. As medidas foram bem vistas por investidores, mas críticos, como a ex-presidente Cristina Kirchner, o acusaram de servir aos interesses da elite econômica argentina.
Uma contração econômica de 2,2% e uma inflação acima de 40% em 2016 também abalaram a popularidade de Macri num país onde cerca de 30% da população vive na pobreza, segundo números do Banco Mundial.
A economia argentina começou a se recuperar, com o Produto Interno Bruto crescendo 2,7% ao ano na primeira metade de 2017, também segundo o Banco Mundial.
Derrota do peronismo de Cristina Kirchner
Kirchner protagonizou uma espécie de volta ao palco político com a eleição ao cargo de senadora. A conquista da vaga pela líder da lista da Unidad Ciudadana tornou a sua nova frente a "oposição mais firme" ao governo de Macri, conforme disse a ex-presidente após a divulgação dos números apurados.
Kirchner pediu "unidade" às forças opositoras e disse que a vitória do movimento apoiando Macri é "a maior e inédita concentração de poder da que se tem memória desde a restauração democrática".
Ela foi a líder opositora que conseguiu mais apoio nas legislativas, mas sua derrota para Esteban Bullrich, do Cambiemos, foi um golpe duro contra a ambição da ex-presidente de liderar o movimento peronista fragmentado e de, eventualmente, voltar a governar o país em 2019.
Segundo o cientista político Diego Reynoso, o peronismo, criado pelo presidente populista Juan Domingo Perón (1895-1974), agora precisa "resolver como se renovar se quiser retornar ao poder".
Ameaça pré-eleitoral
Cerca de 33,1 milhões de argentinos estavam habilitados a votar nas eleições legislativas, as primeiras de Macri na presidência, razão pela qual o voto se transformou numa espécie de avaliação de seus quase dois anos de governo. Segundo o jornal argentino La Nación, a participação eleitoral foi de 76,3%.
Foram escolhidos, em todos os distritos, 127 deputados nacionais – a metade da Câmara – para o período 2017-2021, bem como 24 senadores – um terço do total de cadeiras –, representantes de oito das províncias, para os próximos seis anos. Além disso, em diversas regiões foram escolhidos novos membros para suas Câmaras parlamentares.
Na simbólica província de Buenos Aires, onde estavam em jogo três cadeiras para o Senado, o Cambiemos e a Unidad Ciudadana foram seguidos em número de votos pela lista da frente de centro-esquerda 1País (11,32%), encabeçada por Sergio Massa, e a do peronista Frente Justicialista (5,31%).
Antes da eleição, esperava-se que as forças que apoiam Macri perdessem votos devido a questões de direitos humanos, depois que, apenas cinco dias antes das legislativas, foi encontrado o corpo de Santiago Maldonado. O jovem de 28 anos havia desaparecido no início de agosto, depois de participar de um protesto pelos direitos indígenas.
A família de Maldonado acusou a polícia de tê-lo assassinado, mas uma autópsia realizada na última sexta-feira não revelou ferimentos em seu corpo, segundo um relatório preliminar emitido pelo juiz responsável pelo caso. A descoberta do corpo causou uma violenta manifestação em Buenos Aires no último sábado.
RK/efe/dpa/ots
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