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Cinema e culinária se encontram no Festival de Berlim

10 de fevereiro de 2013

Em comédias, dramas e documentários, a comida é o astro principal da Kulinarische Kino, mostra da Berlinale dedicada a todas as vertentes da gastronomia. Além de filmes, os convidados participam de jantares e discussões.

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Foto: Jadoo Films Ltd

Em a Festa de Babete (1987), o diretor Gabriel Axel trata a comida como uma forma de elevação espiritual de seus personagens ao contar a história de Babete, uma empregada que ao ganhar na loteria oferece um verdadeiro jantar francês para a pequena comunidade onde vive.

O cinema sempre explorou nossa relação com a comida, ou como ela chega à nossa mesa. Do fantasioso mundo onde tudo é comestível em A Fantástica Fábrica de Chocolate, ao experimento, levemente sensacionalista, de só comer em uma cadeia de fast food em Super Size Me, o que e como comemos é parte vital de diversos filmes.

A Berlinale tem uma sessão dedicada somente aos filmes que tratam, não só de gastronomia, mas também do processo que envolve o que comemos, incluindo a preservação da natureza e de certas espécies. A mostra ainda oferece jantares inspirados em seus filmes, elaborados por renomados chefes, e discussões sobre o assunto.

Da horta à mesa

A Kulinarisches Kino (cinema culinário, na tradução livre do alemão) chega a sua décima edição celebrando as hortas e o caminho que a comida faz para chegar até às nossas mesas.

Cada vez mais comuns em espaços urbanos, as hortas, particulares ou comerciais, são uma conexão entre a natureza e a vida urbana, com suas construções e ruas pavimentadas.

Berlinale 2013 Make Hummus Not War
"Make Hummus Not War" propõe a paz através da culináriaFoto: Yarra Bank Films

"Se você procura alimentos frescos e sem conservantes, você deveria plantar uma horta. Se você quer tornar sua cidade mais verde, faça dessa horta sua guerrilha. Jogue sementes ao invés de bombas," declarou Thomas Struck, curador da mostra.

Em tempos de industrialização global, as hortas têm se tornado cada vez mais uma importante alternativa para quem quer comer produtos frescos e sem agrotóxicos, além de um lugar de convivência, descontração e educação, onde a jardinagem se torna um caminho para uma vida mais saudável.

Paz através do estômago

De uma ideia quase absurda do australiano Trevor Graham nasceu o documentário Make Hummus Not War. A partir de um olhar neutro, o diretor queria fazer um retrato charmoso e bem humorado da "guerra" do homus que aconteceu entre Israel, Líbano e Palestina.

Entre quem tem a melhor receita ou consegue preparar a maior porção das pastas mais adoradas do mundo,  o diretor faz não só uma homenagem ao prato, mas também tenta descobrir as origens do homus e como o amor por tal iguaria poderia ser um caminho para a paz na região.

Da possibilidade de mudança para a mudança real, Slow Food Story retrata uma revolução que começou há 25 anos, quando o italiano Carlo Petrini fundou uma associação gastronômica na Itália. Três anos depois, em Paris, ele começou o Slow Food, um movimento internacional que luta contra a industria do fast food.

Berlinale 2013 Kulinarisches Kino 2013 L'Amour des Moules Mussels in Love verliebte Muscheln
"L'Amour des Moules" retrata de maneira poética a vida sexual dos moluscosFoto: Shosho / Berlinale 2013

O filme mostra história de um grupo de amigos, de diferentes e pequenas cidades na Europa, que se mobilizou para manter viva, não só uma tradição, mas também uma paixão por antigas técnicas de cultivo e preparação, além da valorização do que comemos e o seu processo de preparo. Hoje, o movimento está presente em mais de 150 países.

Outros destaques entre os documentários é o filme belga holandês L'Amour des Moules do diretor Willemiek Kluijfhout que usa uma linguagem artística e belas imagens para falar da vida sexual dos moluscos.

Paixão pela cozinha

A comédia britânica Jadoo conta a história de dois irmãos, ambos chefes de cozinha. Os dois são tão competitivos, que dividiram ao meio o livro de receitas da tradicional família indiana e abriram, na mesma rua, restaurantes concorrentes.

Depois de anos de briga, sem nunca conseguir preparar a refeição indiana perfeita, já que um ficou com a parte de entradas e o outro de pratos principais, a filha de um deles resolve reunir os irmão em busca do banquete perfeito para seu casamento.

Em Kitchen Dreams, o diretor Felipe Ugarte  fala do amor pela culinária através do sonho de uma menina de oito anos em se tornar chefe de cozinha. Com poucos diálogos, ele mostra a garota cozinhando ao lado de uma profissional em um restaurante, onde as imagens e a música transformam sentimentos, como em sonhos. A história foi inspirada em sua própria filha, a atriz principal do filme.

Diariamente, após as sessões principais, os renomados chefes Nils Henkel, Michael Hoffmann, Kolja Kleeberg, Hendrik Otto e Tim Raue apresentam um menu inspirado no filme exibido. Durante a sobremesa acontecem as discussões com membros da equipe e especialistas nos temas abordados pelos filmes. Uma experiência para satisfazer todos os sentidos.

Berlinale 2013 Kulinarisches Kino 2013 Kitchen Dreams
Com poucos diálogos, "Kitchen Dreams" mostra o sonho de uma garotinhaFoto: Felipe Ugarte / Berlinale 2013

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Clarissa Neher