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CulturaChina

China terá réplica do Titanic em parque de diversões

Sarah Hucal
18 de maio de 2021

Cópia em tamanho real do navio naufragado será nova atração da florescente indústria de parques temáticos do país. Críticos consideram projeto insensível em relação a vítimas da tragédia.

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Mural perto do canteiro de obras de réplica do navio Titanic na China.
Mural perto do canteiro de obras da réplica do navio na ChinaFoto: Noel Celis/AFP/Getty Images

Em 1912, o Titanic, um navio de luxo rotulado como "o inafundável", atingiu um iceberg e naufragou no Oceano Atlântico. Mais de 1,5 mil passageiros morreram no que deveria ser uma viagem inovadora e uma demonstração da engenharia moderna.

Desde então, a história do Titanic se tornou lendária, em parte graças ao blockbuster de Hollywood de 1997, estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.

O investidor chinês Su Shaojun talvez seja um dos maiores fãs do navio – e do filme. Vários anos atrás, ele anunciou que financiaria uma réplica em tamanho real do navio malfadado, que em suas palavras manteria vivas as memórias do Titanic, conforme relatou a agência de notícias AFP. "Estamos construindo um museu para o Titanic", disse Su na ocasião.

O navio de 260 metros de comprimento será a principal atração do parque temático Romandisea, localizado na província de Sichuan, na China, e que deverá abrir ao público em breve. Por cerca de 2 mil yuans (cerca de R$ 1.600) , hóspedes poderão passar a noite no navio.

Su diz que um motor a vapor fará com que os hóspedes sintam que estão realmente no mar, embora o barco não tenha condições de navegar e tenha sido planejado para ficar atracado em um rio. Fora isso, porém, o navio de mentirinha copiou o Titanic original em tudo – das cabines às maçanetas das portas.

No mesmo espírito, os ônibus de turismo no parque de diversões irão tocar repetidamente a música tema do filme Titanic, My Heart Will Go On, de Celine Dion, informou a AFP.

Esta foto tirada em 27 de abril de 2021 mostra trabalhadores chegando ao local de uma réplica ainda em construção do navio Titanic no condado de Daying, na província de Sichuan, no sudoeste da China.
O navio será a atração principal de um parque temático na província chinesa de SichuanFoto: Noel Celis/AFP/Getty Images

O filme de James Cameron de 1997 foi um sucesso estrondoso de bilheteria na China, assim como nos Estados Unidos e na Europa.

Na China, um novo documentário colocou ainda mais a história do Titanic nos holofotes nacionais. Lançado em 2021 pelo diretor Arthur Jones, The Six conta a história de seis viajantes chineses que sobreviveram à viagem inaugural. O longa foi lançado em 16 de abril – um dia após o 109º aniversário do naufrágio do navio.

O Titanic em tamanho real do Romandisea é uma das mais recentes adições à florescente indústria de parques de diversões da China, que é líder global na indústria de parques temáticos. Em 2018, o Relatório Pipeline de Parques Temáticos da China, elaborado pela empresa de consultoria AECOM, previu que os parques temáticos chineses receberiam 230 milhões de visitantes em 2020 e gerariam aproximadamente 12 bilhões de dólares em vendas de ingressos, um aumento de 367% em relação a 2010, de acordo com a Administração de Comércio Internacional.

Embora a pandemia tenha desacelerado os negócios, a previsão para o setor é de crescimento, já que os cidadãos chineses têm menos opções de viajar para fora do país.

Foto aérea tirada em 26 de abril de 2021 mostra uma réplica ainda em construção do navio Titanic no condado de Daying, na província de Sichuan, no sudoeste da China.
A réplica chinesa do Titanic não terá condições de navegar e foi planejada para ficar atracada em um rioFoto: Noel Celis/AFP/Getty Images

Motivo de preocupação?

No passado, o projeto Titanic recebeu críticas dos que apontam como insensível transformar uma tragédia em que as pessoas perderam suas vidas em uma atração de parque de diversões. Em 2017, quando o investidor chinês compareceu a uma reunião da British Titanic Society (Sociedade Britânica do Titanic), alguns membros classificaram o projeto como de mau gosto.

O pai de Jean Legg, por exemplo, era um comissário de bordo no navio original. "Se ele soubesse que isso está sendo reproduzido, acho que se reviraria no túmulo", disse Legg à BBC na época. "Eles estão usando o Titanic por causa da tragédia – isso é triste."

Segundo a BBC, o plano original para a atração do parque temático incluía a simulação da colisão com um iceberg – ideia de Su. O intuito, porém, acabou sendo abandonado.

O investidor chinês Su Shaojun em frente a uma maquete do Titanic
O investidor Su Shaojun é fissurado pelo filme "Titanic", assim como pelo barco originalFoto: Noel Celis/AFP/Getty Images

Ainda assim, David Scott-Beddard, da Sociedade Britânica, disse recentemente à DW que "Su e sua equipe garantiram aos nossos membros que essas preocupações seriam levadas em consideração e, até onde sabemos, elas foram resolvidas".

"Será interessante ver o nível de autenticidade adotado quando o navio estiver pronto", acrescentou. "Como muitos outros entusiastas do Titanic, esperamos que isso ajude a manter viva a história do navio e as memórias daqueles que morreram no desastre."

Grande competição

Embora estivesse programado para ser concluído em 2019, o navio de Su ainda está em construção. O investidor espera que até 5 milhões de pessoas visitem o Titanic no parque temático, compensando seu custo exorbitante de 1 bilhão de yuans (cerca de 815 milhões de reais). "Espero que este navio ainda exista daqui a 100 ou 200 anos", disse Su. A construção começou há seis anos.

Foto tirada em 26 de abril de 2021 mostra uma réplica ainda em construção do navio Titanic no condado de Daying, na província de Sichuan, no sudoeste da China.
Réplica tinha conclusão programada para 2019, mas data teve que ser adiadaFoto: Noel Celis/AFP/Getty Images

Também houve quem expressasse preocupação de que o projeto pudesse ser abandonado, assim como a réplica de 2008 do porta-aviões americano USS Enterprise, que custou mais de 18 milhões de dólares e foi abandonada logo após sua inauguração, informou a AFP.

Há também outra réplica do Titanic em construção, esta financiada pelo bilionário australiano e polêmico magnata da mineração Clive Palmer. O Titanic II está em construção desde 2012, mas ao contrário de seu homólogo do Romandisea, pretende ser um navio em pleno funcionamento e capaz de fazer longas viagens. Espera-se que ele possa navegar a partir de 2022.