Certificadora defende análise técnica feita em Brumadinho
19 de agosto de 2019Quase oito meses após o rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho, a certificadora alemã TÜV Süd defendeu nesta segunda-feira (19/08) os engenheiros contratados por sua filial brasileira que estão sendo investigados por terem atestado a estabilidade da estrutura em setembro de 2018. O desastre deixou 270 mortos.
"Até agora ninguém sabe o que causou o acidente", afirmou o presidente da TÜV Süd, Axel Stepken, em entrevista à agência de notícias Reuters. "Não sabemos o que foi feito entre setembro de 2018 e janeiro de 2019, por exemplo, se foi trabalhado com equipamentos pesados ou se houve explosões. Nossa subsidiária brasileira recomendou expressamente aos operadores da barragem que proibissem ou evitassem esse tipo de atividade", acrescentou.
Em meio à pressão gerada com o desastre, em fevereiro, a TÜV Süd contratou dois escritórios de advocacia para investigar seu papel no rompimento da barragem. Até agora, não foram divulgados o resultado destas investigações.
Dois engenheiros terceirizados da certificadora TÜV Süd inspecionaram a barragem no final de setembro de 2018 e a atestaram como "estável". Após o desastre, autoridades investigam se houve fraude nas análises sobre a segurança da estrutura. Há suspeita de que a Vale possa ter pressionado a empresa alemã para declarar a estabilidade em troca de novos contratos com a mineradora.
Na entrevista, Stepken defendeu o trabalho dos engenheiros, destacando que o atestado de estabilidade faz parte de uma avaliação com mais de 200 páginas que incluem recomendações. "Com certeza não foi um relatório para fazer um favor. Esse tipo de barragem é uma estrutura muito complexa e está sujeita a influências externas", destacou o presidente da certificadora e acrescentou que a Vale é responsável pela barragem.
A certificadora estima que o desastre pode lhe custar cerca de 75 milhões de euros, cerca de 336 milhões de reais, em despesas legais. Em maio, um tribunal brasileiro congelou 60 milhões de reais em ativos da TÜV Süd para o pagamento de indenizações a famílias afetadas.
Apesar das perdas financeiras, segundo Stepken, o rompimento da barragem não afetou o faturamento da empresa. "Nossos clientes confiam em nós", afirmou. A certificadora, porém, interrompeu o serviço de avaliações de barragens no Brasil após o desastre.
Com sede em Munique, a TÜV Süd tem 23 mil funcionários pelo mundo e é especializada na realização de trabalhos de auditoria, inspeção e testes, consultoria e certificação. As origens da empresa remontam à década de 1860, quando indústrias alemãs decidiram formar uma entidade independente para avaliar a segurança de suas instalações. As áreas de atuação da empresa incluem desde a inspeção de dutos e minas até a análise de alimentos e próteses mamárias.
No Brasil, a empresa conta com 500 empregados, além de três escritórios e um laboratório. As operações são concentradas em São Paulo. A área de engenharia geotécnica da empresa no Brasil atua especialmente no gerenciamento de áreas contaminadas e no desenvolvimento de projetos para a desativação de ativos de mineração, como barragens de rejeitos.
CN/rtr
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