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Censura no rock vira exposição

Maristel Alves dos Santos28 de março de 2005

"Nur für Erwachsene" – "Só para adultos" é o nome da exposição sobre censura no mundo da música rock e pop que acontece no Museu Rock’n’pop de Gronau.

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Elvis Presley, mesmo com visual bem comportado, o rei não escapou à censuraFoto: AP

O que Elvis, Beatles, Scorpions, Led Zeppelin, Robbie Williams e Prince têm em comum? Todos eles e mais uma porção de astros da música pop já passaram pelas malhas da censura.

A lista dos censurados é tão longa que deu para montar uma exposição. "Só para adultos – Música rock e pop: censurada, discutida, escondida". A mostra acontece no Museu do Rock e Pop em Gronau, no Estado da Renânia do Norte-Vestfália. Até o dia 1º de maio, o público poderá testemunhar que, mesmo para os rebeldes do rock, nem tudo é permitido.

Cintura satânica

No final dos anos 50, os rebolados de Elvis Presley não podiam ser mostrados em frente às câmeras e sua cintura "satânica" desapareceu da capa dos LPs. Em 1966, os californianos The Mama’s and the Papa’s tiveram que desistir da foto onde seus quatro integrantes, mesmo devidamente vestidos, apareciam deitados juntos numa banheira. E, da imagem do arbusto e de musas seminuas do LP Country Life, do Roxy Music, só restou a inofensiva planta.

Temas polêmicos, politicamente incorretos, erotismo, violência, sexo, drogas. A exposição "Só para adultos" mostra como os censores agiram com relação a todos eles e como os valores mudaram no decorrer dos anos.

Dixie Chicks
As garotas do Dixie Chicks. As críticas a Bush não agradaram as rádiosFoto: AP

Num período de ufanismo, as emissoras americanas boicotaram o grupo feminino Dixie Chicks por suas críticas ao presidente George W. Bush. E a dupla hiphopiana The Coup teve que substituir às pressas a capa de seu CD Party Music. Lançado pouco antes dos atentados de 11 de setembro, sua capa "nostradâmica" mostrava o World Trade Center em chamas.

Paul McCartney de cigarro apagado

Dos quatro Beatles, Paul McCartney sempre foi o mais comportado. Mas a cara de "genro que a sogra queria" não ajudou o roqueiro a escapar da censura. Em 2003, no relançamento do Abbey Road, o cigarro de Paul foi cuidadosamente "apagado" de sua mão direita. Se o moralismo diminuiu com a passagem do milênio, o movimento antitabagista ganhou amplitude e a bênção dos censores.

Die Ärzte - Die beste Band der Welt
Die Ärzte, um dos grupo alemães recordistas de censuraFoto: Hot Action Records

Os grupos de extrema direita são os atuais campeões de veto na Alemanha. Mas a banda Die Ärzte tem se esforçado bastante pelo primeiro lugar no hall da censura. O grupo tem atualmente sete títulos na lista negra, entre eles a Geschwisterliebe (Amor entre irmãos).

O primeiro museu de rock na Europa

A Alemanha sempre esteve pactuada com a história do rock. Os Beatles iniciaram sua carreira em Hamburgo, Elvis prestou serviço militar nas proximidades de Frankfurt e, desde o ano passado, o país abriu as portas do Museu do Rock e Pop. Primeiro do gênero na Europa, o museu fica em Gronau, no Estado da Renânia do Norte-Vestfália, próximo à fronteira com a Holanda.

Do gramofone até música computadorizada. De Josephine Baker a Madonna. Em Gronau, o público pode mergulhar na história do rock e pop. O museu tem ainda uma sala de shows com capacidade para 800 pessoas. E um banco de dados com informações não só sobre músicas, mas também sobre seus contextos sócio-culturais.

Popmuseum am Rand der Welt
O Museu do rock e pop, o primeiro do gênero na EuropaFoto: AP

O museu oferece uma vasta exposição permanente – que de permanente só tem o nome, pois se renova a cada dia. Fatos, fotos, gravações, filmes, pôsteres, raridades do universo musical podem ser vistas, ouvidas e degustadas. A idéia de uma exposição sobre censura na música vem complementar o amplo acervo com mais 140 capas, 30 músicas e 20 vídeos proibidos.

Proibido vende mais

Em Gronau, o público pode ver ainda como a censura que inibe criações infla bolsos de criadores.

Os Scorpions, grupo alemão de heavy metal, mostraram em seu LP, Virgin Killer, de 1976, uma adolescente nua atrás de um vidro quebrado. A imagem provocou uma onda de discussões sobre pornografia infantil. Impulsionado pela polêmica, o álbum vendeu 500 mil cópias somente na Alemanha.

Na década de 80, o músico austríaco Falco gravou a controversa Jeanny. A canção sobre um crime sexual causou indignação e muitas rádios recusaram-se a tocá-la. A produtora agradeceu – 30 mil cópias por dia. Melhor merchandising, nem por encomenda.

Vetos na Bíblia, Adão e Eva conheceram a censura

Censura não é uma novidade para conter os roqueiros desajuizados citados acima. Proibições e restrições à criação artística já faziam parte da história muito antes de Chuck Berry aprender seus primeiros acordes de guitarra. A censura deve ser inclusive anterior à própria humanidade. Visto que os "primeiros habitantes do planeta" já surgiram com folhas de videira cobrindo-lhes o corpo.

No Império Romano havia censura, no período medieval os pobres censurados eram condenados à morte na fogueira. Após o surgimento da imprensa, a repressão passou a ser preventiva, através dos vetos antecedentes ao lançamento de livros e jornais.

Ausstellungstipps vom 27. November 2009 Picasso
O pintor Pablo Picasso que teve suas gravuras proibidas no Brasil durante a ditaduraFoto: AP

No Brasil do século 20, a censura atuou principalmente no período Vargas e durante a ditadura militar. O governo instituído em 1964 chegou a proibir a exibição do balé Bolshoi e a venda das gravuras eróticas de Picasso.

Censura à flor da pele

Mas como mostra a exposição de Gronau, a censura do século 20 não foi exclusividade de regimes totalitários. A moderna e inovadora indústria fonográfica lança mão dos vetos sempre que nece$ário. As estratégias de marketing proíbem tudo que diminua as vendas.

Já nos anos 50, as Chantels, grupo americano de cantoras negras, testemunharam as exigências mercadológicas literalmente à flor da pele. As cinco integrantes tiveram que sumir da capa de seu disco. Foram substituídas pela imagem de um jovem casal branco e uma jukebox para garantir maior vendagem nos estados racistas do sul dos EUA.

Meio século depois, quem quiser finalmente conhecer a cara das Chantels, poderá vê-las no Rock’n’popmuseum de Gronau. Lá estão também os rebolados de Elvis, as garotas seminuas do Roxy Music, o cigarro de Paul McCartney e tudo – ou quase tudo – que nos foi privado pela censura.