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Capital do furto de bicicletas

19 de novembro de 2018

Berlim é o paraíso dos ladrões de bicicleta. A cada 17 minutos, em média, uma é furtada, e apenas 3,9% dos casos são elucidados pela polícia. Vendas em mercados de pulgas impulsionam esse "negócio".

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Polícia berlinense recomenda usar dois cadeados de modelos diferentes para evitar roubosFoto: picture-alliance/dpa/F. Gentsch

Não fazia nem um ano que eu tinha comprado minha primeira bicicleta nova em Berlim. Na época andava com a grana curta, mas mesmo assim economizei os cerca de 500 euros necessários para o modelo que pude comprar. Não era das mais baratas, mas também estava de longe de ser uma "máquina" entre as magrelas. Minha bicicleta era simples, mas cumpria muito bem suas funções, de transporte pela cidade e também para passeios de longa distância.

Eu estava satisfeita com seu desempenho. Investi também aproximadamente 50 euros num cadeado, pois já tinha ouvido falar sobre os perigos da cidade para ciclistas. Mas esse cuidado de nada adiantou. Estava em Bonn quando recebi a notícia de que minha bicicleta havia sido furtada dentro do jardim interno do prédio onde morava. Ela foi levada na calada da noite. Nem o cadeado sobrou.

Primeiro veio o sentimento de raiva e revolta, mas depois, com calma, acionei o seguro – sim, em Berlim faz muito sentido assegurar bicicletas. Depois de fazer o boletim de ocorrência pela internet, foi só enviar uma cópia da nota para a seguradora. Poucos dias depois o seguro foi pago e uma nova magrela, adquirida. Depois do furto, passei a deixar minha bicicleta na rua, presa em algum poste em frente ao prédio. Assim é mais fácil alguém perceber se estão tentando furtá-la.

Meu caso não é exceção em Berlim. Estima-se que a cada 17 minutos uma bicicleta seja furtada na capital alemã. São cerca de 30 mil por ano (esses foram apenas os casos registrados na polícia). Em 2017, o valor das magrelas furtadas chegou a 18,6 milhões de euros, ou seja, mais de 79 milhões de reais.

O crime é muito popular porque há mercado. Na cidade, há várias feiras das pulgas onde bicicletas em boas condições são vendidas por apenas 50 euros sem nenhuma documentação. Quem compra bicicletas baratas de origem suspeita também tem culpa no cartório por financiar esse negócio criminoso. As leis alemães punem também o receptor de objetos roubados. Caso a pessoa com uma bicicleta furtada seja parada pela polícia, ela terá a bicicleta aprendida e será indiciada. Para o vendedor, a pena pode chegar a cinco anos de prisão.

A polícia de Berlim dá dicas para evitar o roubo. O uso de dois cadeados de tipos diferentes pode ajudar, pois geralmente os ladrões são especializados em arrombar apenas um tipo. Importante também é registrar a bicicleta na polícia. Para o registro é preciso apresentar a nota da compra, e um número é gravado no quadro. Além de assustar ladrões, pois o objeto furtado pode ser mais facilmente identificado, o registro auxilia a localizar o dono caso a bicicleta seja encontrada em algum lugar da Alemanha.

Meses depois do episódio, para minha surpresa, recebi uma carta da polícia informando que a investigação sobre o furto estava sendo encerrada sem resultados e poderia ser reaberta caso novas evidências surgissem. Acho que a carta era mais uma formalidade, afinal a polícia nem mesmo veio até o meu prédio para recolher possíveis pistas ou depoimentos.

As estatísticas mostram que apenas 3,9% dos furtos de bicicletas são elucidados na cidade. Em alguns destes casos foram os próprios donos que acionaram as autoridades após ver um anúncio da venda de sua bicicleta na internet ou localizá-la em algum mercado de pulgas.

Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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