Briga em campo pela identidade nacional
5 de dezembro de 2005Os recentes eventos políticos na Alemanha mostraram claramente as dificuldades envolvidas na tentativa de unir uma nação com promessas de um futuro melhor. Cansados de cortes no orçamento, aumento do desemprego e outras previsões não muito animadoras, os eleitores deram aos políticos uma prova do que são capazes nas últimas eleições, ao derrubarem o governo.
Mesmo com a nova chanceler federal eleita e uma coalizão pronta para guiar o país nos próximos quatro anos, o ceticismo ainda é geral. O que não significa que os alemães não possam ser otimistas quando inspirados pelo incentivo correto. E o futebol é exatamente o que faz o povo sorrir.
Atração universal
Talvez uma das coisas mais fascinantes sobre este esporte é a sua capacidade de atração. Mas o que há de tão fascinante em dois times de 11 jogadores, um grande campo verde e uma pequena bola? O que é que causa tamanha atração na população do mundo inteiro?
O sociólogo Bero Rigauer diz que é a simplicidade do jogo que lhe garante uma base sólida de fãs. "As regras são fáceis de entender. Você tem dois times que atacam e defendem", explica.
Rigauer ressalta que "todos, do presidente a um homem qualquer, podem entender o que está acontecendo e isso facilita a identificação com o esporte".
Orgulho alemão
Por mais que um conjunto de regras simples não explique a habilidade do futebol de fazer com que as pessoas se esqueçam de seus problemas, construindo ao mesmo tempo um espírito de esperança, a identificação com o esporte ajuda a encontrar uma resposta.
O professor Eric Dunning, especialista em Sociologia do Esporte da Universidade de Leicester, na Inglaterra, afirma que os seres humanos têm uma necessidade inata de identificar-se com outros e unir-se em grupos. "Além da família e da cidade, o país é a unidade mais fundamental com a qual nos associamos", comenta.
Dunning acrescenta que os outros dois elementos de identificação nacional são a guerra e a religião, o que abre espaço para que o esporte – que é "fundamentalmente uma forma positiva de identificação" – se sobressaia. "A Alemanha ficará muito orgulhosa de sediar a Copa do Mundo", disse.
A seguir: os reflexos da Copa na Alemanha
Espetáculo de esperança
E esse orgulho já é visível. O reboliço em torno do maior evento mundial de futebol já começou há muito tempo e vai continuar até que o som do apito indique o fim do último jogo em Berlim e o retorno à normalidade em meados do próximo verão europeu. A não ser que, como sugere Rigauer, essa normalidade seja fundamentalmente alterada pela visita de tanta gente de tantos lugares do mundo.
Segundo ele, não somente fãs do esporte se beneficiarão com a excitação gerada pelo megaevento, mas o país todo. "Nações que sediam grandes torneios necessitam de tais eventos", acrescenta Rigauer. "São acontecimentos internacionais que ajudam o anfitrião a criar uma sensação de otimismo e esperança por um futuro melhor, e que agem como desencadeadores de mudanças políticas e econômicas."
Sem bola de cristal
Como não há como antecipar o resultado da Copa do Mundo, tampouco há como prever se o fato de a Alemanha sediar o torneio terá um efeito duradouro no ânimo nacional. Ainda assim, estar no centro das atenções já oferece ao país a chance de se concentrar no que tem de melhor a oferecer, em vez de lamentar o pior.
Abrindo caminho para jovens jogadores
Caso tudo corra bem – e Rigauer ressalta que uma boa organização é o essencial –, a Alemanha não precisará vencer a Copa para garantir o reconhecimento internacional.
Já para Rainer Zietsch, diretor administrativo da JugendD21, uma organização de apoio a jovens jogadores, não se deve subestimar o efeito que teria um bom desempenho da seleção alemã em campo.
"As gerações mais jovens querem ver a Alemanha fazer bonito. Se o país tiver sucesso nesta empreitada, isso os dará força para enfrentar o dia-a-dia", argumenta. E essa é uma vitória da qual a Alemanha precisa.