Brasil e China assinam 37 acordos, sem adesão à Rota da Seda
20 de novembro de 2024O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente chinês, Xi Jinping, assinaram nesta quarta-feira (20/11), 37 acordos bilaterais entre os países, que promovem o que o texto chama de "sinergia" entre programas brasileiros e a chamada Nova Rota da Seda, mas sem aderir formalmente à iniciativa.
O presidente chinês foi recebido no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência, onde se reuniu com Lula e outras autoridades para definir os termos dos acordos. Ele chegou ao Brasil no domingo, para participar da reunião do G20.
Considerada a peça central da política externa de Xi Jinping, a Cinturão e Rota, ou Nova Roda da Seda, apoia e constrói cerca de 21 mil projetos de infraestrutura em todo o mundo, em um investimento que já ultrapassa 1,3 trilhão de dólares (cerca de R$ 7,5 trilhões).
A China pressionava o Brasil a aderir a sua iniciativa global de investimento em infraestrutura, mas o Itamaraty acabou não chancelando plenamente o projeto.
Segundo especialistas ouvidos pela DW, a diplomacia brasileira considera que a relação com o país asiático já é bastante vantajosa e que a adesão traria ganhos mais simbólicos do que práticos. Isso porque um alinhamento ao modelo de investimento chinês poderia trazer um desgaste político com os Estados Unidos, já que China e EUA são, respectivamente, os dois maiores parceiros comerciais do Brasil.
Documento promete "sinergia"
Entre os acordos, porém, Lula abriu caminho para parcerias que se conectam ao objetivo chinês de ampliar sua influência econômica por meio da infraestrutura. O texto assinado prevê a criação de um plano de cooperação para que políticas brasileiras como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano Nova Indústria Brasil estejam integradas em "sinergia" à Iniciativa Cinturão e Rota.
"O país [China] figura como uma das principais origens de investimentos no Brasil. Empresas chinesas vêm participando de licitações de projetos de infraestrutura e têm sido parceiras em empreendimentos como a construção de usinas hidrelétricas e ferrovias. Isso representa emprego, renda e sustentabilidade para o Brasil", disse Lula em coletiva de imprensa após a assinatura do acordo.
O texto também prevê a inserção de indústrias brasileiras na China, como a WEG, a Suzano e a Randon, e cria parcerias em áreas como comércio, investimentos, indústria, energia, mineração e agricultura, com a criação de protocolos para importação e exportação de mercadorias.
"O agronegócio continua a garantir a segurança alimentar chinesa. O Brasil é, desde 2017, o maior fornecedor de alimentos para a China", afirmou Lula. "Em 2023, o comércio bilateral atingiu recorde histórico de 157 bilhões de dólares. O superávit com a China é responsável por mais da metade do saldo comercial global brasileiro", completou.
Telebras celebra acordo com rival de Space X
O acordo ainda estipulou um "memorando de entendimento" entre a Telebras, empresa vinculada ao Ministério das Comunicações, e a gigante de tecnologia chinesa Shanghai SpaceSail Technologies para o provimento de serviços e soluções de telecomunicações no Brasil.
O acordo abre espaço para a SpaceSail estudar a demanda e entrar no mercado brasileiro de internet por satélite, hoje dominado por sua concorrente direta, a Starlink, do bilionário Elon Musk. Em entrevista à rede de TV Bloomberg na terça-feira, o CEO da SpaceSail disse que pretende disponibilizar o serviço no Brasil até 2026.
O acordo pode frustrar o avanço da empresa de Musk no Brasil. O bilionário acumula embates com autoridades brasileiras, mas ganhou poder de pressão após ser nomeado chefe do Departamento de Eficiência Governamental de Donald Trump, cargo que assume a partir do ano que vem.
O acordo entre Brasil e China também avança em outros temas. Os dois governos assinaram, por exemplo, memorandos de entendimento para aplicação de tecnologia nuclear para geração de energia, desenvolvimento de inteligência artificial e cooperação nas áreas de turismo, esporte e cultura.
gq (dw, ots)