Brasil aposta no futebol para promover expansão da energia solar
18 de outubro de 2012
O Brasil é um país de grande potencial em energia solar. Tem valores de radiação solar melhores que o sul da Espanha. Santa Catarina, região brasileira com menor índice de insolação, tem média cerca de 30% a 40% maior do que as áreas mais ensolaradas da Alemanha, atual líder mundial nessa modalidade de produção de energia. Mesmo assim, a opção ainda engatinha no Brasil, onde a parcela da produção fotovoltaica na matriz energética não chega a 1%.
Depois de uma crise nacional de eletricidade em 2001, quando o fornecimento elétrico foi fortemente prejudicado pela falta de chuvas e o consequente esvaziamento de represas das hidrelétricas, o governo brasileiro se esforça para diversificar a matriz energética do país para enfrentar o grande aumento previsto na demanda.
De acordo com o relatório World Energy Outlook, divulgado pela Agência Internacional de Energia (AIE), o consumo energético brasileiro deve aumentar 78% entre os anos de 2009 e 2035. A energia solar, entretanto, tem sido deixada à sombra.
Energia hídrica ainda domina
"Isso tem uma razão muito simples", afirma Mauro Passos, presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal). Há um potencial hidráulico quase inesgotável, que vem sendo explorado já há 40, 50 anos." Ele lembra que a tecnologia para produção de eletricidade a partir da água já conta com uma vasta gama de projetos e estudos consolidados no Brasil. Cerca de 80% da energia elétrica consumida no país são produzidos por hidrelétricas.
Ele frisa que isso se reflete também nas posições do governo. "A história energética do país foi toda calcada em hidrelétricas, tanto a engenharia, como as universidades e indústrias se envolveram junto com esse segmento, o que o tornou muito competitivo, dificultando a entrada de outro segmento", explica. Atualmente, só existem no país oito parques de produção fotovoltaica, na maioria, projetos-pilotos ou de pesquisa. É um número irrisório, se comparado às mais de 980 centrais hidrelétricas.
Impulso recente
Entretanto, o especialista ressalta que nos últimos três ou quatro anos vem ocorrendo um grande impulso no ramo de energia solar brasileiro. "Arrisco a dizer que há uma visível simpatia da opinião pública em relação à energia solar que irá influir em decisões de médio longo prazo do planejamento energético do país", opina.
Para Johannes Kissel, coordenador de Energias Renováveis coordenador Energias Renováveis do escritório brasileiro da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ, na sigla em alemão), os custos de geração de energia solar baixaram muito nos últimos cinco anos. "Mas a energia fotovoltaica ainda não consegue competir no mercado livre de energia com outras fontes", comenta. Desde 2009, a GIZ colabora em diversos projetos brasileiros de energia renovável, como parte de acordos governamentais entre Brasil e Alemanha. No segmento solar, uma das atividades da instituição é apoiar parceiros brasileiros na realização de projetos-pilotos.
Maior visibilidade na Copa
A estratégia da GIZ é apostar em projetos de grande visibilidade, como os eventos esportivos internacionais programanos no Brasil nos próximos anos. A ideia é que, com a visibilidade das iniciativas, investidores se animem a contribuir para que a modalidade de geração energética a partir do sol, ainda considerada cara, cresça de forma parecida com a energia eólica, cuja capacidade de geração no país saltou de 400 megawatts em 2008 para 1,5 gigawatts no final do ano passado.
Por isso, a GIZ colabora na construção de estádios de futebol com geradores fotovoltaicos para a Copa de 2014. Um dos projetos já finalizados é o do Estádio de Pituaçu, em Salvador, Bahia, que não será palco do Mundial. Sua usina fotovoltaica foi inaugurada em abril passado e lhe deu o título de primeiro estádio solar da América Latina. Os estádios da Copa localizados no Rio de Janeiro e Belo Horizonte também vão ser equipados com painéis fotovoltaicos, com participação da GIZ e do KfW, o banco de desenvolvimento alemão.
Investimentos de R$ 395 milhões
Entre os grandes impulsos dados pelo governo brasileiro à geração fotovoltaica, Kissel cita a aprovação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) da resolução normativa 482/2012 que estimula a geração pela fonte solar, reduzindo barreiras econômicas, técnicas e burocráticas para o desenvolvimento dessa modalidade. A resolução regulamenta a instalação de pequenos geradores residenciais de energia solar, com capacidade de até 1 Megawatt, possibilitando que consumidores injetem energia na rede de distribuição e abatam o preço de sua conta de luz − sistema de compensação também conhecido como net metering. "Apoiamos a Aneel trazendo exemplos internacionais bem-sucedidos", explica o especialista da GIZ.
Outra ação recente de incentivo da Aneel, foi a seleção de 17 projetos fotovoltaicos a serem realizados em várias regiões brasileiras até 2015, incluindo desde estádios com tetos cobertos por células fotovoltaicas até usinas solares. Os projetos totalizam mais de 23 megawatts e preveem um investimento de cerca de 395 milhões de reais.
Autor: Marcio Damasceno
Revisão: Francis França