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Bombardeios contra civis continuam no 11º dia da guerra

7 de março de 2022

Militares russos mantêm ataques em diversas cidades, inclusive Kiev, e ucranianos resistem. Número de refugiados supera 1,5 milhão. Putin reafirma exigências e reprime protestos, com mais de 4 mil presos neste domingo.

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Ukraine-Russland Krieg Angriff auf Irpin
Bombardeio com obuses leva destruição a cidade de Irpin, a oeste de KievFoto: Oleksandr Ratushniak/AP/picture alliance

O décimo primeiro dia da invasão russa em território ucraniano, neste domingo (06/03), foi marcado pelo prosseguimento de bombardeios pelas forças armadas russas contra cidades ucranianas, incluindo áreas residenciais e a população civil

Oleksiy Arestovic, assessor do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou à agência de notícias AP que houve intensificação dos ataques nas periferias de Kiev e nas cidades de Chernihiv, no norte do país, e Mykolaiv, no sul.

Kharkiv, no nordeste, a segunda maior cidade ucraniana, também foi novamente bombardeada. Os explosivos atingiram áreas residenciais e uma torre de televisão, segundo Arestovic. Não foi possível confirmar o relato de forma independente. 

De acordo com a agência de notícias Reuters, houve pesados ataques de artilharia em Irpin, a 20 quilômetros de Kiev, que atingiram civis. Homens, mulheres e crianças fugindo dos violentos combates na região tentaram se esconder, e imagens feitas pelo jornal The New York Times mostram o exato momento em que um grupo de pessoas em fuga é atingido por uma explosão. Uma mulher, seu filho adolescente, a filha criança e um amigo da família morreram.

Um relatório do serviço de inteligência do Reino Unido divulgado no domingo também relatou que os russos estavam atacando áreas residenciais, como uma possível reação à resistência dos ucranianos.

Segundo a inteligência britânica, bombardear áreas habitadas é uma tática que já havia sido utilizada pela Rússia na Tchetchênia em 1999 e na Síria em 2016: "A escala e a força da resistência ucraniana continua a surpreender a Rússia, (...) [que] respondeu atacando áreas habitadas em diversos locais, incluindo Kharkiv, Chernihiv e Mariupol." O relatório afirma que "a Rússia usou antes táticas similares na Tchetchênia em 1999 e na Síria em 2016, usando tanto ataques aéreos como por terra". 

Além de prédios residenciais, também foram atacados diversos hospitais e postos de saúde na Ucrânia desde o início da guerra, confirmou a Organização Mundial de Saúde. "Ataques contra estabelecimentos ou profissionais de saúde desrespeitam a neutralidade médica e são violações ao direito internacional humanitário", afirmou o diretor da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Muitas pessoas em camas de campanha alojadas em um grande pavilhão.
Polônia é o país que mais recebeu refugiados da UcrâniaFoto: Hesther Ng/ZUMA/Imago

O prosseguimento dos ataques serve de estímulo para o aumento do número de refugiados da Ucrânia, que neste domingo superou os 1,5 milhão desde o início da guerra, segundo a Organização das Nações Unidas. Apenas a Polônia já recebeu mais de um milhão de refugiados, segundo a guarda fronteiriça do país. Muitos, porém, seguem viagem para outros países da União Europeia.

Evacuação fracassa pela segunda vez

O plano de estabelecer um corredor humanitário para evacuar cerca de 200 mil pessoas da cidade de Mariupol, no sul do país, que está cercada por militares da Rússia, falhou pelo segundo dia seguido.

A criação dos corredores humanitários para retirar moradores e permitir a entrada de medicamentos e comida em cidades cercadas havia sido combinada em uma reunião entre representantes ucranianos e russos na quinta-feira, em Belarus. Mariupol está sem energia elétrica, mantimentos, água e gás, em uma situação humanitária definida como "catastrófica" pela organização Médicos Sem Fronteiras.

A prefeitura de Mariupol chegou a informar que ônibus tinham deixado Zaporíjia rumo à cidade para buscar os civis que quisessem sair no domingo, e que a tentativa de evacuação se realizaria entre 12h e 18h (07h a 13h em Brasília). Mas novamente ataques das forças russas teriam interrompido os planos de evacuação. 

Foto mostra soldados russos carregando uma pessoa. Ao fundo, uma fila de pessoas passa por uma ponte improvisada.
Soldados ucranianos carregam uma pessoa em frente a ponte destruída em Irpin para retardar ataque russoFoto: Aris Messinis/AFP/Getty Images

"A segunda tentativa de um corredor humanitário para civis em Mariupol terminou novamente com bombardeios pelos russos", afirmou o assessor do Ministério do Interior do país, Anton Gershchenko. Já o presidente russo, Vladimir Putin, culpou Kiev pelo fracasso da operação humanitária.

Uma nova rodada de conversas entre representantes dos dois países deve ocorrer na segunda-feira.

Zelenski pede mais apoio

Zelenski, afirmou no domingo, em um discurso em vídeo, que as sanções atualmente impostas por diversos países à Rússia não são suficientes. "A audácia do agressor é um claro sinal para o Ocidente que as sanções impostas contra a Rússia não são suficientes", afirmou. "Não ouço um único líder mundial reagir a isso."

A declaração foi feita depois de a Rússia ter anunciado que iria atacar um complexo militar e industrial da Ucrânia e pedir aos funcionários de indústrias militares que abandonassem seus postos de trabalho.

Mais cedo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, confirmou que os Estados Unidos estão negociando com a Polônia o possível envio de caças para a Ucrânia. 

A proposta em discussão seria a Polônia enviar para os ucranianos alguns de seus caças russos MiG29 e Su-25, para os quais os pilotos da aeronáutica da Ucrânia já têm treinamento. Em troca, os EUA enviariam aos poloneses jatos americanos F-16. "Não posso me reportar a um cronograma, mas estamos examinando a questão muito, muito ativamente", afirmou Blinken.

Putin mantém exigências

A depender das sinalizações enviadas por Putin, a possibilidade de um cessar-fogo ainda está distante. Em conversa telefônica neste domingo com o presidente da França, Emmanuel Macron, o russo disse não ter intenção de renunciar a nenhum dos quatro objetivos que estabeleceu para o que denomina como "operação militar especial".

As quatro reivindicações russas são a "desnazificação" da Ucrânia, a desmilitarização do país vizinho, a renúncia de entrada na Otan e de manter um Exército e o reconhecimento da independência da Crimeia e da região do Donbas.

Outro líder que conversou por telefone com Putin neste domingo foi o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Ele pediu um "cessar-fogo imediato" na Ucrânia e se ofereceu para buscar soluções para o conflito. "Vamos abrir o caminho para a paz juntos", afirmou o mandatário turco. Putin teria dito a Erdogan que está disposto a dialogar, com a condição de que a Ucrânia aceite as demandas russas.

Rússia prende mais de 4 mil manifestantes

O governo russo continua a reprimir fortemente os protestos de cidadãos contra a guerra na Ucrânia. Neste domingo, foram detidas pelo menos 4.640 pessoas em 65 cidades da Rússia, segundo dados do projeto de mídia russo OVD-Info, que monitora detenções em protestos oposicionistas. Desde o início da guerra, foram mais de 13 mil detenções em passeatas consideradas ilegais pelo governo.

Vídeos postados em redes sociais por opositores do regime do Kremlin e blogueiros mostram milhares de ativistas entoando "Não à guerra!" e "Tenham vergonha!". Vê-se também a polícia de Ecaterimburgo, no distrito dos Urais, espancando um manifestante caído no chão. Um mural protagonizado pelo presidente russo, Vladimir Putin, foi pichado.

"Os parafusos estão sendo apertados até o fim; essencialmente estamos testemunhando censura militar", afirmou a porta-voz da OVD-Info, Maria Kuznetsovam. "Estamos vendo protestos bastante grandes hoje, mesmo em cidades siberianas onde só raramente há tais números de detenções", completou.

Na quarta-feira, o crítico do Kremlin, Alexei Navalny, que está preso, conclamou seus compatriotas a se manifestarem diariamente contra a guerra de agressão, sem medo de encarceramento, frisando que a Rússia não podia ser uma "nação de covardes assustados" e tachando Putin de "czar insano". Na sexta-feira, o chefe do Kremlin assinou uma lei prevendo penas de prisão de até 15 anos para quem publique "notícias falsas" sobre as forças armadas russas.

Mais empresas decidem sair da Rússia

Outras companhias anunciaram neste domingo que irão desativar suas operações na Rússia, juntando-se a uma vasta lista de empresas que fizeram o mesmo nos últimos dias, como Apple, Microsoft, Visa e Mastercard.

A Netflix afirmou que irá suspender todas as suas operações no país. A empresa lançou o serviço local em russo há pouco mais de um ano e tem mais de um milhão de assinantes na Rússia, assim como quatro projetos originais em língua russa em preparação.

A operadora de cartões American Express também suspendeu suas operações na Rússia e em Belarus. "Os cartões American Express emitidos globalmente não funcionarão mais em comércios ou caixas eletrônicos na Rússia. Além disso, cartões emitidos localmente na Rússia por bancos russos não funcionarão mais fora do país", disse a empresa em comunicado.

Duas grandes empresas de auditoria e consultoria, a KPMG e a PricewaterhouseCoopers, também anunciaram que iriam encerrar suas operações na Rússia. A KPMG também afirmou que fará o mesmo com Belarus. A empresa tem 4,5 mil empregados nos dois países e disse que que o fechamento das duas sucursais será "incrivelmente difícil". 

A PricewaterhouseCoopers tem 3,7 mil empregados na Rússia e estava trabalhando para uma "transição organizada" para encerrar sua operação no país. As duas empresas pertencem às chamadas Big Four, as quatro maiores companhias de auditoria do mundo. 

bl (AP, AFP, Reuters, ots)