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ArteBrasil

Curador brasileiro: Bienal de Veneza paga dívida histórica

19 de abril de 2024

Primeiro latino-americano encarregado da organização e seleção de obras do maior evento de arte do mundo, Adriano Pedrosa afirma: em 2024 o objetivo é descolonizar, diversificar e rever a história da arte do século 20.

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Brasileiro Adriano Pedrosa, curador da Bienal de Veneza 2024
Adriano Pedrosa é o primeiro curador latino-americano em 130 anos de história da Bienal de VenezaFoto: Gabriele Bouys/AFP/Getty Images

Com o título Stranieri ovunque – Foreigners everywhere (Estrangeiros por toda parte), a 60ª edição da Bienal de Veneza transcorre de 20 de abril a 24 de novembro. Por trás do tema, que busca dar visibilidade a artistas até então marginalizados pelo mercado da arte, está o brasileiro Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Pedrosa falou à DW sobre como buscou trazer um olhar verdadeiramente global para o maior e mais antigo evento de arte do mundo. Em 130 anos de história da Bienal, ele é o quarto curador não europeu e o primeiro latino-americano.

Mural colorido de 700 metros quadrados na entrada da Bienal de Veneza de 2024, pintado pelo Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), coletivo artístico indígena da Amazônia
Mural de 700 metros quadrados na entrada da Bienal de Veneza 2024, pintado pelo Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), coletivo artístico indígena da AmazôniaFoto: Felix Hörhager/dpa/picture alliance

Para ele "isso é de uma importância significativa, se a gente fala em processos de revisão, transformação e mesmo descolonização da história da arte, do panorama da arte moderna e contemporânea".

"Procurei trazer essa perspectiva. É claro que há muitas perspectivas, e frequentemente me perguntam: 'você traz a perspectiva latino-americana?'. Não, eu trago uma perspectiva que é minha, pessoal, formada pela minha história de vida, de trabalho, pela minha pesquisa, minhas leituras."

Descolonizar e diversificar

A mostra, com obras de mais de 300 artistas, se divide em duas sessões: uma para trabalhos contemporâneos e outra para produção do século 20. Na seleção, estão obras do tunisiano Hatem El Mekki (1918) e da paquistanesa Zubeida Agha (1922-1997), por exemplo.

Do Brasil, estão representados de Di Cavalcanti (1897-1976), Djanira (1914-1979), Cândido Portinari (1903-1962), Tarsila do Amaral (1886-1973), Ismael Nery (1900-1932) e dos artistas contemporâneos Joseca Yanomami e André Taniki, do povo Yanomami.

Letreiro "Estrangeiros por toda parte" em alemão, na Bienal de Veneza 2024
Título "Estrangeiros por toda parte" se baseia em instalação do coletivo parisiense Claire FontaineFoto: Galerie Neu, Berlin

"Achei revelante para o momento apresentar esses artistas que trabalharam no século 20 na América Latina, na África, na Ásia, no Oriente Médio. É muito curioso, porque muitos deles, na verdade, são figuras extremamente conhecidas e canônicas naquela própria cultura, naquele próprio território e contexto, mas que são totalmente desconhecidos no panorama internacional."

Uma exceção citada por Pedrosa é a mexicana Frida Kahlo (1907-1954), que, mesmo famosa em todo o mundo, só agora vai integrar a Bienal de Veneza, pela primeira vez. 

"Eu acho que, trazendo esses artistas históricos, tem essa ideia de descolonizar, diversificar e rever a história da arte do século 20 de uma maneira mais global. Nesse sentido, a Bienal, através do meu trabalho, paga uma certa dívida histórica em relação a tantos artistas que não tinham participado e mereciam ter participado, na minha opinião. Eu estou nessa posição e pensei de forma estratégica em como compor a lista nesse sentido."