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Biden desiste de candidatura e endossa vice Kamala Harris

21 de julho de 2024

Presidente de 81 anos vinha sofrendo pressão dentro do seu partido para se retirar da corrida após mau desempenho em debate gerar preocupações sobre sua idade. Em mensagem, Biden endossou sua vice como substituta.

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Joe Biden em púlpito
Biden durante cúpula da Otan em Washington: confusão com nomes de Kamala e TrumpFoto: REUTERS

O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou na tarde deste domingo (21/07) que desistiu de disputar a reeleição e declarou que apoia que sua vice, Kamala Harris, assuma a cabeça da chapa como candidata democrata à presidência.

A desistência ocorre após semanas de pressão sobre o presidente, que vinha enfrentando pedidos públicos de membros do seu próprio partido para deixar a disputa, após um desempenho desastroso no debate contra o rival republicano Donald Trump no final de junho ter levantado questionamentos sobre se Biden, de 81 anos, tinha capacidade para continuar liderando a campanha democrata.

"Foi a maior honra da minha vida servir como seu presidente. E embora tenha sido minha intenção buscar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me afaste e me concentre exclusivamente em cumprir meus deveres como presidente pelo restante do meu mandato", escreveu Biden em um comunicado publicado neste domingo na rede X. "Falarei à nação ainda esta semana com mais detalhes sobre minha decisão."

O primeiro texto publicado pelo presidente não indicava quem Biden deseja ver disputando a eleição no seu lugar, mas em uma mensagem posterior, Biden apontou que apoia que a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, assuma a candidatura.

"Minha primeira decisão como candidato do partido em 2020 foi escolher Kamala Harris como minha vice-presidente. E foi a melhor decisão que tomei. Hoje quero oferecer todo o meu apoio e endosso para que Kamala seja a indicada do nosso partido este ano. Democratas – é hora de nos unirmos e derrotar Trump. Vamos fazer isso."

Os democratas terão agora que oficializar uma nova chapa na convenção do partido, prevista para agosto, em Chicago.

Não está claro se todos os delegados democratas vão aceitar Harris como substituta. Muitos democratas que fizeram pressão pública para que Biden desistisse não citaram Harris necessariamente como uma substituta e há possibilidade de que outros nomes do partido tentem disputar a nomeação para a cabeça de chapa.

Nas semanas em que Biden sofreu pressão para desistir, outros nomes além de Harris chegaram a ser cotados, como os governadores Gavin Newsom (Califórnia), J.B. Pritzker (Illinois), Josh Shapiro (Pensilvânia) e Gretchen Whitmer (Michigan), além do secretário de Transportes, Pete Buttigieg.

Mas uma eventual candidatura de Harris tem uma vantagem considerável sobre outros potenciais democratas: na condição de vice, sua candidatura poderia continuar acessando as dezenas de milhões de dólares que já foram doados para a chapa quando Biden ainda pretendia concorrer. Qualquer outro candidato teria que recomeçar praticamente do zero.

Essa deverá ser a primeira convenção democrata "em aberto" desde 1968. Nas últimas décadas, as convenções foram limitadas a oficializar o nome dos pré-candidatos mais votados nas primárias, com o suspense se limitando à escolha do vice. Curiosamente, a convenção de 1968, tal como a prevista em 2024, também ocorreu em Chicago e foi marcada pela decisão do então presidente democrata Lyndon Johnson de não concorrer à reeleição.

Campanha de Trump reage ao anúncio

A desistência de Biden também deve levar a campanha do republicano Donald Trump a rever sua estratégia. Nas últimas semanas, Trump vinha concentrando seus ataques em Biden. Neste sábado, em seu primeiro comício após sobreviver a uma tentativa de assassinato, Trump chegou a insultar o presidente, afirmando que Biden era "estúpido" e tinha "baixo QI".

Neste domingo, após Biden desistir, Trump voltou a distribuir ataques, afirmando que Biden "não estava apto" a concorrer em uma publicação na rede Truth Social.

"Joe Biden não estava apto para concorrer à presidência e certamente não está apto para servir – e nunca esteve! Ele só alcançou a posição de presidente por mentiras, fake news e por não sair de seu porão. Todos ao seu redor, incluindo seu médico e a mídia, sabiam que ele não era capaz de ser presidente, e ele não foi – e agora, veja o que ele fez com nosso país, com milhões de pessoas atravessando nossa fronteira, totalmente sem controle e sem verificação, muitos vindos de prisões, instituições mentais, e números recordes de terroristas. Sofreremos muito por causa de sua presidência, mas vamos remediar o dano que ele causou muito rapidamente. Faça os EUA grande novamente!", disse Trump.

Debate desastroso foi estopim para pressão por renúncia

A decisão de Biden foi anunciada semanas após um desastroso desempenho em debate televisivo contra Trump. Durante o duelo, Biden falou com voz rouca, gaguejou várias vezes, teve que se corrigir repetidamente e, em alguns momentos, pareceu mais tímido e menos concentrado que seu rival.

A performance gerou especulações sobre se o democrata – que aos 81 anos é o presidente mais velho da história dos EUA – teria condições de exercer um segundo mandato como chefe de governo americano.

Durante o duelo na TV, a Casa Branca afirmou que Biden estava resfriado. Mas logo após o fim do debate, cada vez mais vozes diziam que os democratas não podiam mais ignorar a discussão sobre se Biden é mesmo o candidato certo para derrotar Trump.

Ao abrir uma mesa-redonda pós-debate, o apresentador da CNN John King disse haver "um pânico profundo, amplo e muito agressivo no Partido Democrata" após o desempenho "desanimador" de Biden.

A pressão foi crescendo no próprio partido do presidente, com diversos membros da legenda vindo a público pedir para que ele desistisse da campanha à Casa Branca. O governante teve que se pronunciar mais de uma vez, negando que fosse abrir mão da candidatura.

Tentando dar um fim aos rumores, Biden também chegou a agendar uma entrevista de imprensa logo após o fim da cúpula da Otan realizada em Washington. Por cerca de uma hora, Biden falou sobre diversos temas da política internacional e insistiu perante os jornalistas ser "a pessoa mais qualificada para concorrer à presidência", garantindo que derrotaria Trump mais uma vez e que queria "concluir o trabalho" que começou.

Mas a entrevista foi ofuscada por gafes do chefe de governo. Logo no começo ele trocou o nome de sua vice, Kamala Harris, pelo de Trump. Momentos antes, durante um evento na cúpula da Otan, apresentou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, como "presidente Putin", para se corrigir logo em seguida. Os lapsos acabaram dando mais combustível às especulações sobre o estado físico e mental do governante.

Jornais americanos chegaram a elaborar rankings contabilizando deputados e outros democratas com mandato que vieram a público para pedir que Biden desistisse.

Um deles foi o influente deputado Adam Schiff, da Califórnia. Ele pediu a Biden que "passe a tocha", em declaração ao jornal Los Angeles Times, tornando-se o democrata de maior peso a apelar para que o presidente desista da candidatura e o primeiro a tomar essa posição após a tentativa de assassinato contra Donald Trump.

O ex-presidente Barack Obama e a ex-líder da Câmara Nancy Pelosi, duas vozes muito influentes no Partido Democrata, também demonstraram insegurança com a continuidade da candidatura do atual presidente, embora não tenham pedido publicamente para que Biden desistisse.

A preocupação, segundo a mídia americana, também foi compartilhada por muitos outros membros do Partido Democrata que preferiram manter suas opiniões em privado. Já grandes doadores começaram a se perguntar se estavam investindo fortunas numa causa perdida.

O ator e diretor George Clooney, doador democrata altamente influente e um dos maiores apoiadores da reeleição de Biden, também chegou a publicar um artigo no jornal The New York Times pedindo a desistência do mandatário.