Berlinale abre com Clooney e irmãos Coen
12 de fevereiro de 2016Já antes do início da 66ª Berlinale, realizada de 11 a 21 de fevereiro na capital alemã, o diretor do Festival de Cinema de Berlim, Dieter Kosslick, anunciou que a mostra apresentaria filmes sobre a temática dos refugiados e sobre outras crises mundo afora, mas que ela também deveria divertir. Agora já se sabe o que ele queria dizer. O filme de estreia, Ave, César, diverte. E muito.
Filmes de abertura de grandes festivais sempre carregam consigo a grande responsabilidade de garantir o bom humor logo no início do grande evento e, ao mesmo tempo, atender às exigências estéticas dos cinéfilos. Os diretores americanos Joel e Ethan Coen são mestres nesse quesito.
Em Ave, César, os irmãos Cohen enfocam os bastidores de Hollywood no início dos anos 1950. A trama gira em torno de Eddie Mannix (Josh Brolin), diretor de produção de um grande estúdio hollywoodiano. Mannix não faz mais nada a não ser ajudar todos a superar problemas. Ele se preocupa com tudo que dá errado nos vários projetos cinematográficos do estúdio. E muita coisa não funciona.
Têm início, então, as filmagens do grande filme bíblico Ave, César, com a estrela Baird Whitlock (George Clooney), mas, de repente, Whitlock desaparece das filmagens. Ele foi raptado, e o estúdio passa a ser chantageado por comunistas americanos – uma referência à era McCarthy nos EUA da década de 1950. Mannix começa a cuidar do caso.
Problemas e mais problemas
Mannix também é chamado quando se trata de esconder algo da vida privada de estrelas. Entra em cena a mimada Diva (Scarlett Johannson), que tem um filho ilegítimo – algo que não deve se tornar público em nenhuma circunstância.
Como se não bastassem os problemas, Mannix também tem que lidar com duas repórteres da imprensa marrom hollywoodiana (Tilda Swinton, em duplo papel), tenta parar de fumar e recebe uma oferta de trabalho da fabricante de aviões Lockheed.
Para atrair Mannix para outro ramo de negócios, o gerente da empresa aeroespacial afirma que, devido à concorrência da televisão, a indústria do cinema logo seria algo do passado.
Em Ave, César, até os coadjuvantes são estrelas do cinema, e o papel de muitos atores vai deliberadamente de encontro à sua real imagem. "A figura de Baird Whitlock é talvez o personagem mais estúpido que eu encenei para eles [os irmãos Cohen]", disse George Clooney sobre seu papel. "Ele é somente uma estrela confusa, o que na vida real naturalmente não existe, não é verdade?", acrescentou ironicamente.
Homenagem ao cinema
Ave, César consegue a façanha de ser, por um lado, um filme impiedosamente engraçado sobre as profundezas da indústria do cinema. Ele mostra o lado ridículo do setor, as vaidades das estrelas e a obsessão dos chefes de estúdio. A película destrincha as cintilantes fachadas do mundo do cinema, atrás das quais se escondem a ganância, a hipocrisia e o narcisismo.
Ao mesmo tempo, os irmãos Coen conseguem se curvar diante da perfeição dos estúdios da grande era de Hollywood. Vários clássicos da sétima arte são citados em Ave, César, e nota-se como é grande o apreço dos diretores pelo bom trabalho cinematográfico. O filme dos irmãos Coen traz maravilhosas sequências de diferentes gêneros: do faroeste ao melodrama, de filme de guerra a musical, de cinema noir a épico.
Talvez Ave, César não tenha a pretensão de ser um filme profundo, trazendo algumas passagens simplesmente tolas. De qualquer forma, produzir um filme tão espirituoso, divertido e agradável não é para qualquer um.