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Avanços da Ucrânia aumentam pressão por tanques alemães

13 de setembro de 2022

Partidos da coalizão se juntam ao coro da oposição para que governo alemão envie mais armamento a Kiev, como ajuda na retomada de territórios. Chanceler federal Olaf Scholz e ministra da Defesa seguem inflexíveis.

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Tanque Leopard 2
Especialistas consideram tanques Leopard 2 fundamentais para Ucrânia retomar territóriosFoto: Csaba Krizsan/dpa/picture alliance

Os grandes avanços da Ucrânia contra os invasores russos nos últimos dias aumentaram a pressão sobre o governo alemão para enviar aos militares ucranianos tanques Leopard 2 de última geração.

Os equipamentos, construídos pela empresa de armas Krauss-Maffei Wegmann, com sede em Munique, poderiam ser vitais para apoiar as tropas que libertam as regiões do leste da Ucrânia, de acordo com Rafael Loss, especialista em defesa do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

"As equipes que tripulam os tanques ucranianos mostraram que são capazes de conduzir uma guerra de manobra e operações combinadas de forma muito eficaz", disse Loss à DW.

Segundo o especialista, os avanços da Ucrânia no campo de batalha foram alcançados coordenando "tanques com veículos blindados com apoio de artilharia para perfurar as defesas russas, identificar fraquezas e explorá-las, movendo forças rapidamente". 

"E é isso que a Ucrânia terá que fazer nos próximos meses e, talvez, no próximo ano, para libertar as partes ocupadas de seu território". Segundo ele, a artilharia é apenas uma peça desse quebra-cabeça.

Políticos pedem envio de tanques

Membros de partidos da coalizão que governa a Alemanha se juntaram ao coro de demandas da oposição dirigidas ao chanceler federal, Olaf Scholz, e à ministra da Defesa, Christine Lambrecht.

"Gostaria que o chanceler mudasse sua linha", disse a presidente do Comitê de Defesa do Bundestag (Parlamento alemão), Marie-Agnes Strack-Zimmermann, do Partido Liberal Democrático (FDP), uma das legendas que compõem a coalizão de governo.

A entrega de tanques Leopard e mais veículos de combate de infantaria Marder foi "incrivelmente importante e deve acontecer imediatamente", disse em entrevista à emissora pública ARD na manhã desta segunda-feira.

Segundo Strack-Zimmermann, numa situação de guerra como esta "os sucessos da Ucrânia só podem ser sustentados se eles tiverem as armas de que precisam".

Até membros do Partido Verde, segunda maior sigla da coalizão governamental e até 2021, contrário ao aumento das exportações de armas alemãs para o exterior, têm pedido mais ajuda militar para a Ucrânia. "Todo mundo no governo sabe que seria possível mais", disse o colíder verde Omid Nouripour ao jornal Augsburger Allgemeine.

Soldado alemão acena de um tanque. Ao fundo, o pôr so sol
Ministra da Defesa alega temer desabastecimento da BundeswehrFoto: Killian Bayer/DW

Resistência de Berlim

Apesar disso, o governo alemão segue inflexível. Em evento organizado pelo Conselho Alemão de Relações Exteriores na manhã desta segunda-feira, Lambrecht disse que a Alemanha tem inerentemente um papel de liderança na Europa.

No entanto, também lembrou que seu primeiro dever como ministra da Defesa é garantir que a Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) esteja equipadas o suficiente para defender o país.

"Não é tão simples dizer: vou arriscar não podermos nos defender entregando, tudo. Não, não vou fazer isso. Mas temos outras possibilidades, da indústria, com nossos parceiros."

Lambrecht admitiu que treinar soldados ucranianos para lutar com tanques Leopard 2 levaria semanas, enquanto as entregas de tanques soviéticos, como os usados ​​em outros países do Leste Europeu, poderiam ser feitas imediatamente.

Ela acrescentou que todas as decisões sobre as exportações de armas seriam tomadas em coordenação com aliados da Otan, especialmente os Estados Unidos e o Reino Unido.

"É um processo", disse Lambrecht. "Continuar falando sobre o que está sendo entregue e, assim, deixar Putin saber o que está por vir, talvez não seja a ideia mais inteligente."

Garantir a sobrevivência da Ucrânia

Mas há contra-argumentos para todos os pontos de Lambrecht, diz o especialista em defesa Rafael Loss. "É mais uma questão de vontade do que de restrições formais ou informais que estão sendo impostas ao governo alemão por aliados ou pela situação na Ucrânia. Minha impressão é que Christine Lambrecht e Olaf Scholz estão procurando novas razões para não fazer determinada coisa."

O próprio secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, reiterou no fim de semana que a sobrevivência da Ucrânia é, atualmente, mais importante do que garantir que os estoques militares da aliança militar estejam cheios.

"É claro que isso prejudicaria as próprias capacidades da Bundeswehr e atrapalharia os planos de treinamento para novas tripulações de tanques, mas é uma decisão política", afirma Loss.

Tanques em estoque

Além disso, a Alemanha está numa posição excepcionalmente importante para liderar o fornecimento de tanques para a Ucrânia, em parte porque tanto a Bundeswehr quanto a indústria alemã têm alguns disponíveis em estoque.

Fora isso, atualmente também existem cerca de 2 mil desses tanques – em várias configurações e estados de prontidão – em uso ​​por outros 12 exércitos europeus, o que significa que o fardo pode ser compartilhado entre esses países.

Se os tanques Leopard 2 fossem disponibilizados agora, ainda assim levaria pelo menos dois meses para estarem prontos para a batalha e nas linhas de frente no leste da Ucrânia. Mas o uso dos tanques nos próximos meses de inverno pode ser crítico, explicou Loss.

Apesar de concordar que existam preocupações legítimas sobre equipamentos militares de ponta – como o Leopard 2 – caírem nas mãos da Rússia, de qualquer maneira, são as versões mais antigas dos tanques que estão mais prontamente disponíveis, lembra Loss.

Embora poucos no poder digam isso abertamente, para muitos críticos a relutância do governo alemão em enviar o Leopard 2 é mais para evitar a ótica desagradável de tanques russos enfrentando diretamente tanques alemães.