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Até que ponto juventude europeia impulsiona a ultradireita?

Ella Joyner
7 de junho de 2024

Cinco anos atrás, eleitores jovens promoveram uma "onda verde" na Europa. Em 2024, pesquisas mostram que muitos deles querem ver a extrema direita no Parlamento Europeu. Medo, voto de protesto, ou convicção real?

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Pessoa jovem coloca voto em urna
Jovens europeus tomaram lugar dos "velhos zangados" que elegem a extrema direita?Foto: Jan Woitas/dpa/picture-alliance

Allan Arnera, de 23 anos, pode contar nos dedos das duas mãos o número daqueles a quem contou sobre suas intenções de voto para as atuais eleições parlamentares europeias, iniciadas na quinta-feira e realizadas até este domingo (09/06). "Sendo de uma família de cinco, já é a metade", comenta o francês que vive e trabalha em Bruxelas.

Assim como um terço de seus compatriotas (de acordo com as consultas mais recentes), ele pretende votar na Reunião Nacional (RN), de extrema direita, cujo líder é o eurodeputado Jordan Bardella, de 28 anos. "Para mim, a questão é quem tem em vistas os melhores interesses da França", justifica Arnera.

Ele concorda com a abordagem nacionalista da RN para a integração da União Europeia, assim como com a política de Bardella de uma "dupla fronteira", que limitaria a livre circulação de imigrantes dentro do Espaço de Schengen ao reintroduzir controles sistemáticos nas fronteiras francesas.

Político francês Jordan Bardella, da Reunião Nacional (RN)
Na França, carismático Jordan Bardella da RN conta com as intenções de voto de um terço dos franceses – sobretudo jovensFoto: Michel Euler/AP Photo/picture alliance

Apesar de ser, ele próprio, um migrante dentro da Europa, o eleitor ultradireitista considera excessiva a imigração na UE: "Simplesmente chegamos ao ponto em que temos problemas demais na França, como desemprego elevado ou a crise do custo de vida."

Jovem, com background internacional e um emprego estável de colarinho branco, ele está ciente de que não se encaixa na imagem típica do apoiador da RN desfavorecido e negligenciado. Sabendo que suas opiniões políticas são impopulares junto a muitos de sua geração em seus círculos sociais, ele prefere ser discreto a respeito.

Onde estão os "velhos zangados"?

Na eleição parlamentar anterior na UE, em 2019, a forte participação jovem ajudou a promover o que muitos aclamaram como uma "onda verde", com os partidos centrados no clima, obtendo o recorde de 74 assentos no Parlamento Europeu. No presente pleito, embora ainda populares entre o eleitorado jovem, estima-se que os verdes sofrerão perdas graves, ficando provavelmente com 41 das 720 vagas disponíveis.

O número dos eleitores jovens de direita radical vem aumentando nas vésperas da eleição: uma pesquisa de intenção de voto do instituto Ipsos mostrou que 34% dos franceses pretendiam escolher o populista Bardella. Em seguida vinham a esquerdista França Insubmissa (LFI), com 14%; o Partido Socialista, de centro-esquerda, com 12%; e o Verde, com 11%.

Uma análise do veículo de imprensa Politico, de Washington, sugere apoio maciço e crescente da juventude a legendas igualmente ultradireitistas por toda a Europa, como a Vox na Espanha, a Chega em Portugal, Interesse Flamengo (VB) na Bélgica e Partido dos Finlandeses na Finlândia.

O pesquisador eleitoral holandês Josse de Voogd registrou a mudança do perfil típico dos adeptos da extrema direita em seu país: "Depois de 2016, o ano do Brexit e [da eleição do ex-presidente dos Estados Unidos Donald] Trump, discutiu-se muito o populismo de direita ou extrema direita como coisa de homens velhos zangados. Embora eu ache exagerado, concordo que havia uma correlação."

Agora muitos jovens, em especial quem foi expulso pelo custo de vida de cidades cada vez mais caras, como Amsterdã, se voltaram para o Partido pela Liberdade (PVV), de Geert Wilders. Ferrenhamente islamófobo e anti-imigração, ele foi o mais votado pela juventude na eleição parlamentar de 2023.

"O fato de esses partidos serem fortes entre os jovens nem sempre significa, em média, que suas ideias sejam mais populares entre eles. A razão pode também ser que o eleitorado jovem é mais volátil, enquanto os mais velhos ficam com as legendas tradicionais", sugere De Voogd.

"O mundo parece um lugar escuro"

Embora fazendo uma avaliação semelhante, Roderik Rekker, da Universidade Radboud, de Nijmegen, Holanda, está cético quanto ao que considera narrativa falsa da mídia sobre uma suposta onda jovem de extrema direita: "A conta não fecha. Toda pesquisa que se tem feito mostra que nunca houve uma geração mais progressista."

A seu ver, a juventude ainda está mais voltada para as siglas verdes e esquerdistas, enquanto os jovens eleitores de direita estão basicamente alinhados com o resto da sociedade. "Não vejo uma tendência estrutural marcante", argumenta Rekker, acrescentando tampouco ser esta a primeira vez que é alto o apoio jovem à ultradireita.

Rekker e De Voogd destacam, porém, que as questões culturais estão muito mais polarizadas para essa geração que está entrando para o mercado de trabalho: "Grande parte dos mais idosos cresceu numa época em que religião ou o eixo esquerda-direita da economia eram dominantes; enquanto para os mais jovens migração, globalização, políticas de diversidade, etc., são os temas relevantes.

Político holandês Geert Wilders, do PVV
Geert Wilders, do PVV, é declaradamente islamófoboFoto: Peter Dejong/AP/picture alliance

Em Bruxelas, Allan Arnera explica que sua intenção de votar na RN se deve em grande parte a sentimentos de insegurança: "Com 23 anos, não me sinto necessariamente motivado para sair pelo mundo. O mundo parece um lugar escuro; ele é duro, economicamente."

A Reunião Nacional foi fundada na década de 1970 pelo político declaradamente racista e antissemita Jean-Marie Le Pen. Sua filha Marine Le Pen tentou traçar um curso mais moderado, mas entregou a liderança ao carismático Bardella e pretende concorrer à presidência da França em 2027.

Arnera confessa que alguns políticos da RN lhe causam incômodo, e cita como exemplo o eurodeputado Thierry Mariani, que defende uma visão extremamente pró-Rússia. Ele vê a própria decisão eleitoral como uma espécie de voto de protesto: sua esperança é que o candidato Bardella vá provocar uma "terapia de choque" no modo como a UE funciona. Mas, ressalva: "Acho que vai chegar uma hora em que não vou mais votar assim".