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EconomiaSuíça

As consequências da crise do Credit Suisse

Brigitte Scholtes
16 de março de 2023

Crédito de até 54 bilhões de euros prometido pelo BC suíço serviu para acalmar os mercados, mas incertezas permanecem. Instituição financeira está entre as 30 mais sistematicamente importantes no mundo.

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Logotipo do banco suíço Credit Suisse é refletido em uma poça d’água em Zurique.
A questão agora é se o principal banco suíço conseguirá recuperar a confiança dos investidores, avaliam especialistasFoto: Michael Buholzer/KEYSTONE/picture alliance

Qual é a possibilidade de o Credit Suisse, grande banco suíço que está cambaleando há meses, desencadear uma nova crise financeira? Desde o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) no início desta semana, esse tipo de preocupação tem sido recorrente entre investidores e corretores.

O Credit Suisse está entre as 30 instituições financeiras consideradas sistematicamente importantes no mundo. Conforme a teoria too big to fail (grande demais para quebrar), o colapso de um banco tão intimamente ligado ao sistema financeiro mundial teria consequências também para outras instituições financeiras.

Além disso, as instituições de crédito precisam amortecer a rápida reviravolta nas taxas de juros dos bancos centrais do mundo todo. Tudo isso depende, portanto, de como eles se prepararam para o risco de mudanças nessas taxas, ou seja, se construíram uma suficiente reserva de capital próprio ao qual possam agora recorrer.

Imagem de homem de óculos e cabelos brancos, usando terno e gravata e diante de púlpito do banco Credit Suisse aparece em duas telas sobrepostas.
Ulrich Köhler, chefe do Credit Suisse desde agosto de 2022Foto: Michael Buholzer/KEYSTONE/picture alliance

É por isso que os investidores aguardavam ansiosamente o pronunciamento do Banco Central Europeu (BCE) nesta quinta-feira (16/03), que, conforme o esperado, aumentou as principais taxas de juros em 0,5 ponto percentual para 3,5%.

Um desvio em relação à linha adotada até agora poderia, por outro lado, ser visto pelos mercados como sinal de preocupação em relação à estabilidade dos bancos, segundo especialistas como Clemens Fuest, chefe do Instituto de Pesquisa Econômica (Ifo) de Munique.

Credit Suisse "não fez o dever de casa"

"A boa notícia é que o Credit Suisse ficou menor", avalia Hans-Peter Burghof, especialista em instituições bancárias e financeiras da Universidade de Hohenheim. Ele lembra que os ativos totais do banco suíço encolheram para pouco mais de 500 bilhões de euros, dois quintos de seu tamanho anterior, equivalente também ao de outras grandes instituições financeiras na média.

Nos últimos anos, o Credit Suisse esteve envolvido em alguns grandes escândalos, como a falência do fundo de hedge Archegos e também do empresário australiano Lex Greensill, com quem havia cooperado. Como consequência, os investidores já haviam sacado 123 bilhões de francos suíços (cerca de 700 bilhões de reais) no ano passado, algo que o banco inicialmente conseguiu contornar com um aumento de capital.

O Saudi National Bank também teria ajudado, mas não pôde dar continuidade por razões regulatórias, disse na quarta-feira o presidente da entidade, Ammar Al Khudairy, provocando ainda mais incertezas e uma queda de 30% no preço das ações do banco.

Painel exibe o nome do Credit Suisse no pregão da Bolsa de Valores de Nova York, em 15 de março de 2023
Painel exibe o nome do Credit Suisse no pregão da Bolsa de Valores de Nova York na quinta-feiraFoto: Seth Wenig/AP Photo/picture alliance

"A peculiaridade do Credit Suisse é que, ao contrário de muitas outras instituições, o banco suíço demorou muito para se reestruturar", avalia Burghof. "Outros, como o Deutsche Bank ou o Commerzbank, fizeram sua lição de casa mais cedo", afirma, atribuindo a isso uma menor vulnerabilidade dessas instituições no momento atual.

As autoridades fiscalizadoras também contribuem para isso. Na televisão alemã, o ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner (FDP), garantiu que o sistema de crédito alemão, com seus bancos privados, caixas econômicas e instituições cooperativas, é estável e que as devidas precauções continuarão sendo tomadas.

Confiança do investidor é fundamental

Christoph Schalast, especialista bancário da Escola de Finanças e Administração de Frankfurt, também está convencido de que não há ameaça de crise financeira ou bancária na Alemanha. Como argumento, ele também cita a "reestruturação há muito adormecida" do Credit Suisse.

Para Schalast, o SVB, que causou agitação no início da semana, é um caso especial. O banco americano quebrou por não conseguir lidar com a reviravolta nas taxas de juros: grande parte dos depósitos de seus clientes haviam sido investidos em títulos do governo de longo prazo, que de fato eram seguros. Mas quando os investidores sacaram grandes quantias de dinheiro ao mesmo tempo, o SVB se viu obrigado a vender títulos, que, por sua vez, haviam perdido valor por causa do aumento das taxas de juros.

A questão importante agora, avaliam especialistas, é se o principal banco suíço conseguirá recuperar a confiança dos investidores. Na início desta quinta-feira, após a promessa do BC suíço de que irá garantir a liquidez do Credit Suisse, o preço das ações do banco conseguiu se recuperar da forte queda do dia anterior, mas ainda é cedo para dizer se isso irá se sustentar.

"É sempre um problema quando os investidores perdem a confiança num determinado banco", diz o especialista bancário Schalast. "A Alemanha, por outro lado, está bem protegida pelos três pilares, que muitos parecem achar antiquados. Além disso, nossas grandes instituições encolheram após a crise de 2008 e são supervisionadas de perto pelo BCE, pela autoridade de supervisão bancária (Bafin) e pelo Bundesbank (banco central alemão)." Isso pode inclusive virar uma oportunidade para serviços bancários made in Germany/EU.