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Após ataque do Hamas, europeus cortam ajuda a palestinos

9 de outubro de 2023

Congelamento de recursos para projetos de desenvolvimento em território palestino é reação a eventos em Gaza. "A escala do terror é tão terrível. Não pode haver 'negócios como sempre'", adverte comissário da UE.

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Bandeira de Israel em Berlim
Alemanha tem divulgado seguidas manifestações de solidariedade a Israel desde o ataque de sábadoFoto: Fabian Sommer/dpa/picture alliance&

A Comissão Europeia, a Alemanha e a Áustria anunciaram nesta segunda-feira (09/10) que vão suspender o envio de ajuda financeira para projetos de desenvolvimento em territórios palestinos. A decisão é anunciada dois dias após o grupo fundamentalista palestino Hamas, classificado como terrorista pela União Europeia (UE), ter realizado uma ousada e sangrenta ofensiva-surpresa contra Israel, que resultou no massacre de centenas de civis.

No caso da Comissão Europeia, o braço executivo da UE, o congelamento afeta imediatamente um portfólio de ajuda no valor de 691 milhões de euros (R$ 3,7 bilhões). "A escala de terror e brutalidade contra Israel e seu povo é um ponto de inflexão", comentou o comissário da União Europeia para Ampliação e Política de Vizinhança, Oliver Varhelyi, na rede social X (ex-Twitter).

"Não pode haver 'business as usual'", acrescentou. "As bases para a paz, a tolerância e a coexistência devem ser abordadas agora. A incitação ao ódio, à violência e a glorificação do terror envenenaram as mentes de muita gente. Precisamos de ação e precisamos dela agora."

A UE é um dos maiores fornecedores de ajuda financeira aos territórios palestinos. Entre 2021 e 2024, o bloco planejava alocar um total de cerca de 1,2 bilhão de euros (R$ 6,5 bilhões) em investimentos para os palestinos, especialmente nas áreas de saúde e educação.

Alemanha e Áustria também suspendem repasses

Nesta segunda-feira, o Ministério da Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha também anunciou que está congelando novos repasses para os palestinos. "Está em análise, ou seja, suspenso temporariamente”, disse uma porta-voz.

No domingo, a titular da pasta, a social-democrata Svenja Schulze, já havia anunciado que os repasses seriam reexaminados, mas o governo alemão também vinha sendo pressionado por aliados e pela oposição a congelar a ajuda por completo até segunda ordem.

Em 2020, a Alemanha transferiu 193 milhões de euros (R$ 1 bilhão) para gastos em ajuda humanitária e desenvolvimento econômico para áreas palestinas. Em 2023, os compromissos assumidos pela Alemanha com os palestinos somavam 250 milhões de euros.

Segundo Schulze, a Alemanha sempre tomou cuidado para assegurar que os valores não fossem desviados para outros fins e que o dinheiro fosse gasto apenas para fins pacíficos, "mas esses ataques a Israel marcam uma terrível ruptura". Ainda segundo Schulze, a Alemanha pretende discutir com Israel como os projetos de desenvolvimento na região podem vir a ser mais bem atendidos e coordenados com parceiros internacionais.

Alemanha e Áustria unidas em prol de Israel

A Alemanha tem divulgado seguidas manifestações de solidariedade a Israel desde o ataque de sábado. No dia seguinte, o chanceler federal Olaf Scholz afirmou que Israel tem o direito "de proteger seus cidadãos e perseguir os agressores". Em conversa com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o social-democrata teria assegurado que seu país está "firme e inabalavelmente ao lado de Israel".

"A segurança de Israel é de interesse nacional da Alemanha. Isso é especialmente verdadeiro em momentos difíceis como este. E nós agiremos de acordo", disse Scholz.

Além da Alemanha, a vizinha Áustria também anunciou suspensão de novos repasses: "Vamos suspender todos os pagamentos de ajuda ao desenvolvimento por enquanto", disse o ministro das Relações Exteriores austríaco, Alexander Schallenberg, à rádio Ö1.

A decisão deve resultar no congelamento de 19 milhões de euros em assistência. A Áustria também pretende reanalisar todos os projetos destinados a regiões palestinas por meio de consultas com União Europeia e outros parceiros internacionais "A escala do terror é tão terrível. É uma fissura tão grande que não se pode voltar ao 'negócios como sempre'", disse o ministro Schallenberg.

A Europa é uma das principais fontes de ajuda aos territórios palestinos ocupados por Israel, onde as Nações Unidas estimam que cerca de 2,1 milhões dependem de assistência humanitária, entre elas 1 milhão de crianças.

Os anúncios da UE, Alemanha e Áustria não deixam claro se o congelamento de recursos também se aplicará à ajuda humanitária. Nos seus anúncios de suspensão, a Comissão da UE, a Alemanha e a Áustria tampouco distinguiram a Faixa de Gaza, o enclave palestino dominado pelo Hamas, da Cisjordânia, bem mais populosa, administrada pela Autoridade Palestina, atualmente liderada pelo presidente Mahmoud Abbas, tido como mais moderado e cujo grupo político se opõe aos fundamentalistas islâmicos do Hamas.

Muro que separa Israel de parte dos territórios palestinos da Cisjordânia
Muro que separa Israel de parte dos territórios palestinos da CisjordâniaFoto: Beata Zawrzel/NurPhoto/Getty Images

Vozes dissonantes

Na Alemanha, nem todos estão de acordo com o corte de repasses. A Sociedade Teuto-Israelense (DIG), que promove a aproximação das relações entre Israel e Alemanha, limitou-se a pedir ao governo alemão que estabeleça condições claras para os pagamentos aos palestinos.

"Terrorismo e antissemitismo não podem ser financiados com impostos alemães", disse o presidente da DIG, Volker Beck. No entanto ele não defendeu a suspensão da ajuda financeira, mas sim condições e controles mais rígidos., o que "requer decisões claras do comitê de orçamento e do Parlamento para o orçamento federal de 2024".

Outros políticos alemães rechaçaram qualquer corte da ajuda fornecida aos palestinos. O deputado Gregor Gysi, importante veterano do partido de oposição A Esquerda, argumentou que o Hamas foi responsável pelo ataque, não todos os palestinos: "As organizações palestinas podem e devem ser apoiadas, mas o Hamas não pode", disse à revista Der Spiegel.

jps/av (Reuters, AFP, DW, DPA, ots)