Crônica de um fiasco anunciado
28 de junho de 2018"A responsabilidade é minha", disse o técnico da Alemanha, Joachim Löw, após a eliminação para a Coreia do Sul. Foi nobre. E uma declaração necessária de um homem que sempre comandou seu país com classe e não com pouco sucesso: a Copa das Confederações, o título mundial e tendo sido ao menos semifinalista das três últimas Eurocopas.
Mas a renovação de contrato assinada por Löw antes da Copa parece agora algo ainda mais estranho. O desempenho contra a Coreia do Sul foi fraco, mas esteve em linha com as outras duas apresentações da Alemanha na Rússia.
Os medalhões têm sua parcela de culpa - Sami Khedira, Mats Hummels, Mesut Özil, Manuel Neuer e Thomas Müller. Mas, no fim, a responsabilidade é do técnico.
Durante muito tempo considerada um ponto forte, a lealdade sem fim de Löw à espinha dorsal de seu time acabou virando seu tendão de Aquiles. Hummels, Özil e Kedira foram jogados do nada de volta ao time na quarta-feira e, apesar de terem ido melhor do que contra o México, não foram capazes de ser a sombra do que foram quatro anos antes.
Durante o torneio, a Alemanha foi um time titubeante, com Timo Werner como o único homem no ataque no nível similar mostrado pelos adversários. Julian Brandt deu lampejos de velocidade ao time nos poucos minutos em que não esteve no banco, e a ausência do atacante Leroy Sané é algo estranho desde o início.
Sané sozinho não teria curado as feridas do time alemão, mas poderia ter ajudado com algo diferente e ser uma alternativa para Löw não ter que forçar Leon Gortzka aberto na direita, negando as investidas centralizadas que o fizeram ser contratado pelo Bayern de Munique.
E esse não foi o único erro de Löw. Neuer foi promovido às pressas de volta após lesão e ainda parecia enferrujado. A bola rebatida após cobrança de falta sul-coreana logo no início do jogo mostrou que sua segurança não estava mais lá como antes da lesão.
As substituições de Löw também dizem muito sobre a sonolência desse time. Contra o México, ele trocou um Khedira já em dificuldades por Marco Reus, expondo ainda mais o já aberto centro do meio de campo.
Sua seguinte alteração – Mario Gomez por Marvin Plattenhardt – esperou até 35 minutos do segundo tempo. E Brandt só entrou em campo a quatro minutos do fim, para logo acertar a trave do gol adversário. A história foi similar nos outros dois jogos: as trocas foram ora tardia, ora taticamente questionáveis, ora ambos.
As horas seguintes ao jogo talvez não sejam o melhor momento para repensar o futuro, mas, olhar para frente é inevitável em momentos sísmicos como este. Há questionamentos sobre a maioria das estrelas da Alemanha. E, com jovens como Sané, Brandt, Süle e Goretzka pedindo passagem, é hora de uma chacoalhada.
"Preciso de algumas horas para entender isso melhor, a decepção é grande. Vamos discutir amanhã", disse Löw após o jogo, antevendo a pressão que ele deve sofrer nos próximos dias.
É , sem dúvida, um capítulo triste numa excepcional trajetória de 12 anos, mas mesmo os melhores precisam de novos ares. Infelizmente para ele e para a Alemanha, Löw demorou para ver isso. Quando viu, já era tarde demais.
"Nossa última atuação convincente foi no outono de 2017. Isso é bastante tempo atrás", disse Mats Hummels. "Foi uma noite muito amarga."
Não era o fim que Löw imaginava – nem talvez o fim que ele merecia. Mas era o que a Alemanha precisava.
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