Anvisa autoriza retomada de testes da Coronavac
11 de novembro de 2020A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou nesta quarta-feira (11/11) que os testes da Coronavac, a vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, poderão ser retomados no Brasil.
"A Anvisa informa que acaba de autorizar a retomada do estudo clínico relacionado à vacina Coronavac, que tem como patrocinador o Instituto Butantan", disse a agência, em nota. "A Anvisa entende que tem subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação e segue acompanhando a investigação do desfecho do caso para que seja definida a possível relação de causalidade entre o EAG [evento adverso grave] inesperado e a vacina".
Os testes haviam sido suspensos na segunda-feira após a agência informar que recebeu a notificação de um evento adverso grave em um participante do estudo. Tratava-se da morte de um voluntário da vacina. De acordo com o Instituto Butantan, a morte não teve relação com o teste. Posteriormente, investigadores revelaram para veículos de imprensa que a suspeita é de que a morte tenha sido causada por suícidio ou overdose.
Apesar de a Anvisa ter informado que a suspensão dos testes se deu por critérios técnicos, o caso logo se tornou uma batalha política por causa de uma manifestação do presidente Jair Bolsonaro que levantou suspeitas de interferência do governo no órgão.
Oficialmente, a Anvisa apontou inicialmente que desconhecia a causa da morte do voluntário e, por isso, segundo a própria agência, suspendeu o estudo para garantir a segurança dos outros voluntários. A Anvisa ainda apontou que o boletim de ocorrência relacionado à causa da morte foi enviado pelo Instituto Butantan às 23h43 de terça-feira.
Após o anúncio da suspensão pela Anvisa na segunda-feira, Bolsonaro comemorou publicamente a decisão no dia seguinte. A reação de Bolsonaro ocorreu no Facebook, em resposta a seguidores que fizeram perguntas sobre o imunizante.
"Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", escreveu, referindo-se a seu desafeto João Doria, governador de São Paulo.
Há meses Bolsonaro vem fazendo uma campanha aberta contra a "vacina chinesa de Doria", como seus apoiadores chamam o imunizante da Sinovac. Em outubro, Bolsonaro chegou a desautorizar publicamente o seu ministro da Saúde após a pasta anunciar um acordo com o estado de São Paulo que previa a compra de 46 milhões de doses da Coronavac.
A Coronavac está sendo testada em dez países. No Brasil, os estudos começaram em 21 de julho, a partir de uma parceria da Sinovac com o Instituto Butantan, firmada diretamente com o governo de São Paulo e que prevê a produção da vacina no Brasil.
O diretor do Butantan, Dimas Covas, considerou a suspensão dos testes desnecessária e afirmou que ela estava causando dor e insegurança nos voluntários que participam do estudo. "Fomentaram um ambiente que não é muito propício pelo fato de essa vacina ser feita em associação com a China. Fomentaram esse descrédito gratuito. A troco de quê?", disse.
O diretor contou ainda que o instituto foi pego de surpresa com a decisão, mas evitou criticar a agência, a qual descreveu como "técnica e independente", ou considerar que a decisão tenha sido ideológica. Covas ressaltou que atribui a suspensão a "uma dificuldade de comunicação ou preocupação exagerada".
JPS/ots