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Antirretroviral apresenta proteção total contra HIV em teste

24 de junho de 2024

Resultado preliminar de estudo feito na África pela farmacêutica Gilead mostra que nenhuma das mulheres que tomou injeções de lenacapavir contraiu vírus da aids. Dados ainda não foram revisados por outros cientistas.

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Ativista em manifestação pela importância da prevenção à aids
Foto: Debarchan Chatterjee/NurPhoto/picture alliance

A farmacêutica americana Gilead anunciou na semana passada um enorme avanço na luta contra a aids durante testes de um medicamento antirretroviral contra o vírus HIV. Os resultados de um amplo estudo clínico de fase 3 realizado na África mostraram que a aplicação de duas doses anuais do medicamento lenacapavir proporcionou proteção total contra o vírus às mulheres que participaram dos testes.

"Com zero infecções e 100% de eficácia, o lenacapavir demonstrou o seu potencial como uma nova ferramenta importante para ajudar a prevenir infecções de HIV", afirmou o diretor médico da Gilead Sciences, Merdad Parsey, no anúncio dos resultados preliminares do teste na quinta-feira (20/06).

O estudo clínico foi realizado no Uganda e na África do Sul e contou com a participação de mais de 5 mil adolescentes e mulheres, com idades entre 16 e 25 anos. O teste dividiu as voluntárias em três grupos, que receberam três diferentes medicamentos.

Das 2.134 mulheres que receberam o lenacapavir, nenhuma contraiu o vírus da aids. Entre as 1.068 que tomaram diariamente a pílula Truvada – disponível há mais de uma década –, 16 foram infectadas com o HIV (1,5%). Já entre o grupo das 2.136 mulheres que receberam a Descovy, uma nova pílula diária, 39 contraíram o vírus (1,8%). Os dados do estudo ainda não foram submetidos à revisão por outros cientistas (revisão por pares).

Devido à eficácia mostrada nos resultados, um comitê independente de revisão de dados recomendou que o estudo clínico fosse interrompido precocemente e que o lenacapavir fosse oferecido a todas as participantes por proporcionar claramente uma proteção superior contra o vírus, afirmou a farmacêutica.

A empresa está testando ainda a eficácia do lenacapavir em homens que fazem sexo com homens, homens e mulheres trans e indivíduos de gênero não binário que têm relações sexuais com homens na Argentina, Brasil, México, Peru, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos. Os resultados são esperados para o final de 2024, início de 2025.

Se os resultados desse estudo forem positivos, a empresa pretende levar ao mercado nos EUA o lenacapavir como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) até o fim de 2025.

Nova alternativa à PRrEP

"O lenacapavir para PrEP, se aprovado, poderá fornecer uma nova opção crucial para a prevenção do HIV", afirmou Linda Gail-Bekker, que participou dos estudos. "Embora saibamos que as opções tradicionais de prevenção do HIV são altamente eficazes, se tomadas como o prescrito, o lenacapavir para PrEP pode ajudar a solucionar o estigma e a discriminação que alguns podem enfrentar ao tomar ou armazenar os comprimidos de PrEP, assim como potencialmente ajudar a aumentar a adesão a esse tipo de tratamento", acrescentou.

A PrEP é um método para prevenir o contágio pelo HIV. Essa terapia é recomendada para quem tem alto risco de contrair o vírus e consiste na ingestão diária de comprimidos antirretrovirais. No Brasil, ela é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017, com a utilização dos medicamentos combinados tenofovir e entricitabina.

Os pacientes que fazem esse tipo de terapia recebem ainda acompanhamento regular de saúde, com exames para o HIV e para outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A terapia começa a fazer efeito sete dias após o início do uso dos remédios.

Esse método é usado nos EUA desde 2012. No entanto, ele não mostrou ser uma ferramenta de prevenção potente na África, onde a adesão à terapia é baixa, principalmente entre mulheres – o grupo mais vulnerável à doença na região.

Especialistas acreditam que a aplicação de duas doses anuais do lenacapavir pode ampliar o acesso a esse tipo de terapia na África e reduzir significativamente as novas infecções da doença. Um problema, porém, é o valor do antirretroviral. Nos Estados Unidos, onde ele já foi aprovado para o tratamento de infectados com o HIV, a Gilead cobra 42.250 dólares (cerca de R$ 229 mil) por paciente por ano.

Em maio, mais de 300 políticos, especialistas em saúde e celebridades pediram à Gilead que permita a produção de versões genéricas do lenacapavir para que ele possa chegar a pessoas dos países em desenvolvimento mais afetados pela doença. O antirretroviral pode ser um "verdadeiro divisor de águas" na luta contra o HIV, de acordo com uma carta aberta ao CEO da Gilead, Daniel O'Day, assinada por vários ex-líderes mundiais, grupos de combate à AIDS, ativistas, atores e outros.

Os signatários pediram que a Gilead licenciasse o medicamento no Pool de Patentes de Medicamentos apoiado pelas Nações Unidas, o que permitiria a fabricação de versões genéricas mais baratas. A Gilead respondeu que está em negociações com governos e organizações sobre como expandir o acesso ao medicamento.

Ao jornal americano The New York Times, a farmacêutica afirmou estar comprometida a disponibilizar o medicamento a um preço acessível a países de baixa renda com altas taxas de incidência de HIV. Uma das estratégias seria firmar parcerias com fabricantes de genéricos em diversas regiões do mundo.

Dois terços dos 39 milhões de pessoas que vivem com HIV estavam na África em 2022, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).