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Alemanha deve nomear general para liderar luta contra covid

29 de novembro de 2021

Novo governo alemão pretende criar comitê para lidar com a pandemia. Segundo novo ministro das Finanças, grupo deve ser comandado por um militar. Iniciativa é incomum e especialistas veem manobra de relações públicas.

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Foto mostra Carsten Breuer em farda militar
Major-general Carsten Breuer já atua no combate à pandemia e deve lider novo comitê de criseFoto: Nikolas Armer/dpa/picture alliance

O futuro governo federal da Alemanha quer criar um novo comitê de crise contra a covid-19 "o mais rápido possível", e "ele será chefiada por um general alemão", disse o líder do Partido Liberal Democrático e ministro das Finanças designado, Christian Lindner, no domingo à emissora pública de televisão ZDF e nesta segunda no Twitter.

De acordo com informações do jornal Süddeutsche Zeitung, a pessoa em questão é o major-general Carsten Breuer, que desde 2018 chefia o comando de tarefas territoriais da Bundeswehr, as Forças Armadas da Alemanha. Esse comando é responsável pela cooperação entre as forças militares e organizações civis.

Desde o início da pandemia, fontes da Bundeswehr dizem que o militar de 56 anos "já fez um trabalho notável", especialmente diante da avalanche de pedidos de órgãos públicos por assistência militar no combate à covid-19. A patente de major-general é equivalente à de um general de duas estrelas, e atualmente há 50 homens e uma mulher nesse nível na Bundeswehr.

Apoio dos militares

No início de 2020, a ministra da Defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, criou um contingente militar separado para prestar atividades de apoio ligadas à pandemia. Ela manteve esse contigente ativo mesmo durante o verão de 2020 no hemisfério norte, quando houve um refluxo da pandemia e muitos militares pediram que ele fosse desmobilizado.

É digno de nota que outro major-general já foi destacado, há mais de um ano, para a luta contra a pandemia. Trata-se do cirurgião Hans-Ulrich Holtherm, de 57 anos, ex-diretor do hospital da Bundeswehr em Ulm, no sul da Alemanha. Ele chefia desde março de 2020 o departamento de "Proteção da Saúde, Segurança da Saúde, Sustentabilidade" no ministério da Saúde, responsável pelo relatório diário sobre a situação da pandemia.

Foto interna mostra militares fardados em sala usando computadores
Militares alemães atuam desde o início da pandemia dando apoio a diversos órgãos públicosFoto: Marius Bulling/Ostalb Network/picture alliance

Decisão incomum

A nomeação de um oficial militar para chefiar um comitê de crise é incomum na Alemanha após a Segunda Guerra. Mesmo depois da tempestade de 1962 na costa do Mar do Norte, que ainda é lembrada na Alemanha e deixou 340 mortos, a Bundeswehr foi mobilizada, mas não estava significativamente envolvida nos comitês de crise.

Especialistas em assuntos militares veem a possível nomeação de Breuer como uma "manobra de relações públicas". E eles têm dúvidas se a hierarquia de comando do chefe do comitê de crise seria superior à do futuro ministro da Defesa, que será comandado pelo partido social-democrata SPD no novo governo. Em todo caso, o porta-voz do atual governo, Steffen Seibert, já deixou claro que o rumo a ser tomado na luta contra a pandemia continuará a ser decidido politicamente.

O líder do FDP, Lindner, confirmou na segunda-feira que o comitê de crise é necessário na logística para que a vacinação tenha sucesso o mais rápido possível. A Bundeswehr já vem fornecendo essa logística de imunização. Nos primeiros meses, as vacinas foram armazenadas em instalações do Bundeswehr e distribuídas pelos militares, em coordenação com empresas. O contingente de "assistência contra a pandemia", que era temporariamente de 25 mil soldados e ainda tinha dois mil no verão do ano passado, hoje tem cerca de oito mil soldados.

Em todo caso, a nomeação de um líder militar para chefiar o comitê de crise dará uma coloração militar à luta contra o coronavírus. O presidente da França, Emmanuel Macron, que usa a linguagem marcial mais do que qualquer político alemão, já havia convocado seu país em março de 2020, poucos dias após as primeiras mortes por covid-19 na Europa, com as palavras "estamos em guerra". Especialmente em países europeus que tiveram um alto número de mortes durante as primeiras ondas da pandemia, como a França e a Espanha, militares foram convocados temporariamente ou permanentemente.

No Brasil, o Ministério da Saúde sob o governo Bolsonaro foi comandado por um general - Eduardo Pazuello - entre maio de 2020 e março de 2021. No período, o país passou por uma explosão de mortes e casos de coronavírus e Pazuello, que não tinha experiência em gestão de saúde pública, acabou se destacando mais por demorar em comprar vacinas e promover tratamento sem eficácia. A passagem desastrosa do militar pela pasta acabou sendo um fator de desgaste nas Forças Armadas.

Mudança de rumo

Na Alemanha, o rumo político já havia se alterado recentemente após as eleições de setembro para o Bundestag. O instrumento de emergência epidêmica com o qual a coalizão da chanceler Angela Merkel conduziu o país durante a pandemia e decretou diversos lockdowns prolongados já expirou, mas os passos concretos do futuro governo ainda não foram decididos. Os parceiros da nova coalizão, formada por social-democratas, verdes e liberais, não querem mais lockdowns, mesmo que alguns políticos desses partidos agora não descartem mais essa medida.

A posse do novo governo deve ocorrer em 8 de dezembro. Mas há uma irritação crescente em esperar até essa data para tomar medidas. Agora, diz-se que o social-democrata Olaf Scholz, que será o novo chanceler, fará em breve uma declaração em conjunto com o major-general Breuer. Então uma equipe de crise poderia se reunir ou decidir antes que o novo governo esteja pronto.

Christoph Strack Repórter, escritor e correspondente sênior para assuntos religiosos@Strack_C