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Alemães ainda guardam 12 bilhões de antigos marcos

Timothy Rooks jps
6 de junho de 2018

Transição do marco alemão para o euro ocorreu há mais de 16 anos, mas Banco Central do país europeu continua a trocar todos os dias antigas cédulas e moedas.

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Moedas do antigo marco alemão. Taxa de câmbio ainda é a mesma de 2001. Foto: picture-alliance/U. Baumgarten

Todos os dias pela manhã, dezenas formam filas em diferentes sedes do Bundesbank, o banco central da Alemanha. Essa miscelânea de idosos, jovens mães com filhos e estudantes tem algo em comum: quase 16 anos após a introdução do euro, eles estão esperando pacientemente para trocar alguns dos bilhões de antigos marcos alemães ainda em circulação.

Hoje, os obsoletos marcos são tudo – suvenires de viagem, pedaços de história esquecidos no fundo de uma gaveta ou escondidos em cofres –, menos alternativas antiquadas para as criptomoedas.

Não é nenhum segredo que os alemães adoram carregar e pagar com maços de dinheiro, e apesar de o país ser marcado por uma história sombria de hiperinflação, eles também estão acumulando uma moeda que nenhuma loja ou motorista de táxi aceitará. Surpreendentemente, essa praticidade limitada não parece incomodar o povo.

Em 31 de dezembro de 2001, último dia antes da introdução do euro, havia 162,3 bilhões de marcos em circulação, de acordo com o Bundesbank. Agora, mais de 92% das cédulas e moedas foram devolvidas ao banco. Mas no final de abril de 2018, ainda havia um saldo de 12,6 bilhões de marcos a ser trocado, provavelmente escondidos sob colchões, entre almofadas ou enterrados no jardim.

Valor mantido

Esses marcos não perderam o valor. Se emitidos depois de 20 de junho de 1948, podem ser trocados indefinidamente por euros em uma das 35 filiais do Bundesbank. E, ao contrário da maioria das moedas, a taxa de câmbio oficial de 1 euro para 1,95583 marco permaneceu inalterada desde que foi introduzida em 2001.

A política permanente de portas abertas do banco e a falta de flutuações nas taxas de câmbio reduzem a pressão para a troca. Para que fazer hoje o que pode ser adiado até amanhã?

Elmar, um aposentado do bairro berlinense de Neukölln, encontrou uma nota de 500 marcos entre as páginas de um livro há mais de um ano e finalmente decidiu ir ao banco.

Devagar, mas sempre, os velhos marcos alemães estão sendo trocados. Nos últimos 12 meses, o banco trocou 90 milhões de marcos, equivalentes a cerca de 45 milhões de euros, na taxa de câmbio oficial. Os 12,6 bilhões de marcos ainda estão em poder dos alemães valem por volta de 6,3 bilhões de euros (27,5 bilhões de reais).

Só que pouco mais da metade, 6,69 bilhões de marcos, está na forma de moedas, que provavelmente não compensam uma viagem ao banco: as lembranças devem valer mais do que os poucos centavos de euro a serem embolsados.

Mas há casos atípicos. Em 2017, a imprensa alemã relatou a história de um caminhoneiro que deixou como herança para a família 1,2 milhão de peças de um e dois pfennige, o centavo de antigo marco alemão. Um funcionário do Banco Central demorou seis meses para conferir todas as moedas, em parte enferrujadas ou coladas umas às outras, impossibilitando uma contagem maquinal. No fim, a família saiu com 8 mil euros.

Por que a Alemanha ainda mantém registros de todo esse dinheiro? Num comunicado, o Bundesbank ressalta para a confiança do povo nos marcos alemão e seu papel no passado como uma moeda de reserva internacional, particularmente na Europa Oriental e nos Bálcãs.

O banco e o governo alemão parecem dar grande importância em preservar essa percepção de confiança. No entanto a decisão original de manter a possibilidade de troca dos marcos tenha sido tomada quando a economia do país estava estagnada, ainda se recuperando do choque da unificação das Alemanhas Oriental e Ocidental.

Para alguns alemães, o marco ainda é mais do apenas dinheiro
Para alguns alemães, o marco ainda é mais do apenas dinheiroFoto: Public Domain

 

Cronograma de troca complicado

Cada país que agora usa o euro tem regras e cronogramas diferentes para a troca de suas antigas notas e moedas nacionais, numa colcha de retalhos complicada. Alguns bancos centrais já não aceitam as antigas moedas, mas ainda trocam notas, entre elas Bélgica, Luxemburgo, Eslováquia e Eslovênia. Para os cidadãos na Espanha, Portugal e Holanda o prazo está se esgotando.

Outros países já não aceitam suas antigas moedas de nenhuma forma: França, Finlândia, Grécia, Itália, Malta e Chipre. Qualquer dracma ou franco que forem encontrados atrás da estante de livros pode ser colado num álbum ou jogado fora.

Entre os países da zona do euro, apenas um pequeno grupo, incluindo Alemanha, Áustria, Irlanda, Letônia, Lituânia e Estônia, não estabeleceram um limite de tempo para a troca de suas antigas moedas.

Para muitos alemães, o marco consistia em muito mais do que papel ou pedaços de metal. Sua força foi um sinal da ascensão econômica do país. Não é exagero dizer que a transição para o euro foi um momento traumático. Mas o tempo cura todas as feridas e ninguém na fila do Bundesbank parece mais calcular os preços em marco para ter uma ideia melhor do quanto custa alguma coisa. Para finalmente limpar seus livros contábeis, o banco precisa agora convencer todos a entregarem seus marcos escondidos.

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