Ajuda nem sempre bem-vinda
3 de janeiro de 2009Desde 1994, policiais alemães participam de missões internacionais de paz, sob o comando de organizações como a ONU ou a União Europeia, assim como de projetos de apoio policial. Eles estão estacionados na Bósnia, na Libéria, no Afeganistão, na Geórgia ou nos territórios palestinos. Sua principal função é auxiliar na estruturação e formação das polícias nessas regiões de crise, sempre atentando para o respeito aos direitos humanos.
A teoria na prática
Durante o treinamento básico, os agentes alemães não aprendem apenas a lidar com as diferenças culturais nos locais de ação. Seu papel é também despertar, nos colegas de outras nações, a consciência para os direitos humanos. Uma tarefa nada fácil, comenta Ulrich Schiefelbein, encarregado de relações públicas do centro de treinamento do estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Entre maio de 2007 e início de 2008, ele próprio foi mobilizado para a Libéria, no oeste africano, onde ficou conhecendo os problemas locais, como, por exemplo, o fato de os detidos frequentemente serem mantidos nas celas por períodos excessivos.
A Organização das Nações Unidas tenta estabelecer, na Libéria e em outros países, que ninguém seja preso por mais de 24 horas sem ser apresentado a um juiz. Assim, uma das funções dos agentes alemães no exterior é cuidar para que os detidos sejam tratados condizentemente e liberados em tempo hábil.
O que parece tão simples na teoria pode revelar-se difícil de realizar. Justamente em países assolados pela guerra, como a Libéria, onde a estrutura urbana foi quase totalmente destruída, as delegacias muitas vezes situam-se em lugares quase inacessíveis, aonde só se chega após vários dias de viagem por estradas enlameadas ou de helicóptero. Uma fiscalização regular é quase impraticável.
Além disso, os policiais liberianos, afegãos, palestinos e de outras regiões são mal pagos, mal equipados e recebem má formação. Isso os torna pouco motivados e facilmente subornáveis: péssimas condições para o respeito aos direitos humanos.
O elemento feminino
A criação de contingentes policiais internacionais sob a égide das Nações Unidas pode igualmente ser problemática, observa Schiefelbein. "No sistema da ONU, também há gente que, em seus próprios países, não leva tão à risca assim a questão dos direitos humanos. É difícil para os policiais alemães encontrar sempre a medida exata, sem serem hostilizados mais tarde."
Outro ponto é que os agentes locais nem sempre estão dispostos a acatar ou colocar em prática os conselhos dos alemães ou de outros colegas internacionais. Aqui, Schiefelbein vê a chance na formação das gerações mais novas de policiais. Como na Libéria, onde há profissionais extremamente jovens. Estes "ficam muito gratos por qualquer observação, e também se esforçam para agir de acordo".
Não é tampouco fácil vencer a desconfiança das populações locais em relação à própria polícia. Com base na experiência de longos anos, em muitos lugares não se pode imaginar um policial que não seja corrupto e que preserve os direitos humanos, mesmo de um preso.
A solução encontrada na Libéria foi empregar cada vez mais mulheres nos serviços policiais. Segundo o jovem inspetor de polícia Alex Neewray, as pessoas costumam ouvir com mais atenção se há uma presença feminina no grupo. "No tocante a certos temas, os suspeitos, ou quem quer que seja, têm mais confiança na mulher. Sua presença pode ter efeito tranquilizador, evitando a eclosão de violência. Por mim, encorajaria todas as mulheres a que se unissem a nós."
"Diplomatas de uniforme"
E quem responde pelos treinadores internacionais? Quem garante, por exemplo, que os policiais alemães enviados ao estrangeiro manterão padrões aceitáveis de direitos humanos?
Schiefelbein afirma: "Os colegas alemães estão, na verdade, sempre sob a supervisão de seus superiores e dos das outras nações. Não se pode pôr a mão no fogo por ninguém. Mas nos esforçamos para ser diplomatas de uniforme e representar no exterior o Estado de direito".