Interesse chinês
7 de janeiro de 2011O vice-primeiro-ministro da China, Li Keqiang, visita a Espanha, a Alemanha e o Reino Unido no início de janeiro de 2011, acompanhado por uma comitiva de mais de uma centena de empresários, num grande tour da diplomacia chinesa movida por interesses econômicos.
Li é uma figura em ascensão na política nacional. Ele é membro do Comitê Permanente do Politburo, um pequeno punhado de homens que governam a China, e, como sucessor designado do primeiro-ministro Wen Jiabao, em breve poderá ser um dos homens mais poderosos do mundo.
Em Berlim, ele se encontra com a liderança alemã, incluindo a chanceler Angela Merkel e o ministro da Economia, Rainer Brüderle, assim como altos executivos do país.
Comprando a dívida europeia
A razão aparente para essa grande turnê é bastante óbvia. Menos de um ano atrás, a União Europeia superou os EUA como maior parceiro comercial da China, e este país tem grande interesse na estabilização do euro – atualmente em meio a uma crise que já engolfou a Grécia e a Irlanda e que ameaça Portugal e Espanha.
A equação é bastante simples: a confiança do investidor é fraca. A Europa precisa do dinheiro. A China tem. Ambos os lados saem ganhando.
Por isso, a China tem aumentado suas participações em títulos da dívida pública europeus desde o início da crise. Em um comunicado divulgado na quinta-feira, o vice-ministro do Comércio chinês, Gao Hucheng, que está acompanhando Li, disse que "a China mantém confiança nos mercados financeiros espanhol e europeu e acredita que eles irão superar a crise atual".
Eberhard Sandschneider, analista do instituto de pesquisa do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP), considera tudo isso bastante razoável. "O interesse da China é a estabilidade de todo o mundo, em quase todas as áreas, tendo como meta não só sua própria estabilidade interna, como também a regional, internacional e financeira", disse à Deutsche Welle.
Dividir para conquistar
Mas há um preço político a pagar. Recentemente, Wen Jiabao pediu aos líderes europeus para "não pressionarem a China sobre a valorização do iuane". A ajuda chinesa pode ajudar a cavar um fosso entre os EUA e a Europa.
Jonas Parello-Plesner, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, está certo de que a questão monetária é uma prioridade para a China. "Ao assumir um papel mais ativo na economia europeia, a China e a UE se tornam mais interdependentes", disse. "E há um efeito colateral político nisso. É uma apólice de seguro contra o protecionismo comercial na Europa, e desvia a atenção de outras questões como o câmbio, onde a UE já é menos insistente do que os EUA em pedir uma valorização da moeda chinesa".
Parello-Plesner está particularmente preocupado com a abordagem bilateral adotada por alguns Estados da UE, isoladamente. "Considerar as conexões com a China primordialmente como uma questão bilateral, e não como um assunto de nível europeu, significa adotar uma posição fraca frente a Pequim". Não se trata de uma espécie de perversa estratégia chinesa, mas sim de uma questão europeia, apontou em artigo recente.
Modelo alemão
Mas a visita à Alemanha pode apresentar um modelo de como a Europa gostaria de lidar com a China. Uma vez que as empresas alemãs investiram profundamente na China, esta não dispõe de tanta influência sobre o país quanto tem sobre a UE. "Com a Alemanha, o nível de relacionamento é muito mais equilibrado. 'Made in Germany' está em grande demanda na China", observa Parello-Plesner.
Em entrevista ao jornal de economia Handelsblatt, o ministro alemão da Economia, Rainer Brüderle, declarou serem necessárias melhorias no tocante acesso das empresas alemãs ao mercado chinês, citando, em especial os setores de seguros e bancário.
Parello-Plesner acredita que a China tem ouvidos abertos para tais reclamações. "A China está dizendo 'sabemos que você quer um melhor nível de igualdade para as empresas, e por isso estamos dispostos a melhorar algumas coisas'. Mas os chineses querem que, em contrapartida, haja maior abertura para as empresas chinesas desejosas de entrar no mercado alemão."
Autor: Ben Knight (md)
Revisão: Augusto Valente