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Acusado de assédio sexual, governador de Nova York renuncia

10 de agosto de 2021

Andrew Cuomo anuncia que deixará o cargo, cedendo à pressão inclusive de colegas de partido, como o presidente Joe Biden. Procuradoria de Nova York concluiu que o democrata assediou sexualmente 11 mulheres.

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Andrew Cuomo
Cuomo negou que tenha assediado mulheres de forma intencional e culpou "mudanças de geração ou culturais"Foto: Mary Altaffer/REUTERS

Sob forte pressão, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, anunciou nesta terça-feira (10/08) sua renúncia ao cargo após acusações de que ele assediou sexualmente 11 mulheres.

O político, que comandava desde 2011 o quarto estado mais populoso dos Estados Unidos, comunicou sua decisão após a Procuradoria-Geral de Nova York ter divulgado, em 3 de agosto, um relatório de sua apuração sobre o caso. Os investigadores concluíram que ele "praticou condutas configuradas como assédio sexual", segundo a procuradora-geral de Nova York, Letitia James.

Cuomo, que é do Partido Democrata, estava sob pressão desde a divulgação do inquérito. Colegas da legenda e até o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já haviam pedido que ele renunciasse.

Nesta terça, em um discurso televisionado de 20 minutos, o democrata de 63 anos voltou a negar que tenha assediado mulheres intencionalmente, mas disse que lutar contra o que chamou de ataque "politicamente motivado" contra ele sujeitaria o estado a meses de instabilidade – e "eu não posso ser a causa disso", afirmou o governador.

"Acho que, dadas as circunstâncias, a melhor maneira de ajudar agora é me afastar e deixar o governo voltar ao governo", completou.

Para se defender das acusações de assédio, Cuomo apelou para a alegação de que houve "mudanças de geração ou culturais" que ele não soube entender.

"Sempre fui muito íntimo com as pessoas. Eu abraço e beijo casualmente, mulheres e homens. Fiz isso a minha vida inteira", disse o político. "Na minha cabeça, nunca cruzei a linha com ninguém. Mas não percebi até que ponto a linha foi redesenhada."

De qualquer forma, ele disse que gostaria de "se desculpar muito profundamente" com qualquer mulher que possa ter se ofendido com suas ações.

A renúncia de Cuomo entrará em vigor em 14 dias, segundo ele mesmo afirmou no pronunciamento. A vice-governadora Kathy Hochul, uma democrata de 62 anos que já foi deputada federal, assumirá o estado. Ela será a 57ª governadora de Nova York e a primeira mulher a ocupar o cargo.

As acusações

O relatório apresentado pela Procuradoria na semana passada se baseia parcialmente em cerca de cinco meses de entrevistas, conduzidas por duas advogadas independentes, com 179 pessoas. Entre os entrevistados estão membros da equipe de Cuomo, policiais estaduais, funcionários do governo de Nova York e outros que interagiam regularmente com o governador.

"Essas entrevistas e evidências revelaram uma imagem profundamente perturbadora, mas clara", disse Letitia James, procuradora-geral do estado. "O governador Cuomo assediou sexualmente atuais e ex-funcionárias do estado, em violação a leis federais e estaduais."

A apuração concluiu que as 11 mulheres que o acusaram estavam falando a verdade ao dizer que Cuomo tocou nelas de forma inapropriada e fez comentários sugestivos sobre a sua aparência ou sobre a vida sexual delas.

Uma assessora do político disse que Cuomo apalpou seus seios na sua mansão, e uma policial que atuava na sua escolta disse que ele passou seus dedos na sua barriga e nas suas costas.

Os investigadores também concluíram que o gabinete de Cuomo criou uma "cultura de medo e intimidação, ao mesmo tempo em que normalizava os flertes frequentes do governador e comentários baseados no gênero".

James afirmou que essa cultura "influenciou as formas inapropriadas e inadequadas" com as quais o gabinete de Cuomo "respondeu às acusações de assédio". A investigação identificou, por exemplo, que Cuomo e assessores de alto escalão tentaram retaliar pelo menos uma funcionária.

Sua equipe buscou "desacreditar e depreciar" Lindsey Boylan, a primeira funcionária a acusar Cuomo publicamente de assédio. A estratégia da equipe do governador incluiu vazar dados pessoais confidenciais e escrever uma carta atacando a credibilidade de Boylan.

"Essas mulheres corajosas tomaram a iniciativa de falar a verdade a quem tinha poder e, ao fazer isso, expressaram sua confiança de que, apesar de o governador ser poderoso, a verdade é ainda mais", disse Joon Kim, uma das procuradoras que lidera a investigação.

Os investigadores afirmam que o político também assediou mulheres que não trabalhavam para o governo.

ek (AP, Reuters, AFP, DPA, Efe, Lusa)