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A guerra híbrida russa contra a Ucrânia

17 de fevereiro de 2022

Rússia não tem só estratégias tradicionais. Com mercenários, ciberataques e desinformação direcionada, Moscou visa desestabilizar país vizinho e quebrar apoio do Ocidente.

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Soldados com roupa de camuflagem em trincheira
Soldados pró-Rússia são fonte de tensão constante no leste da UcrâniaFoto: Kisileva Svetlana/ABACA/picture alliance

As ameaças aos ucranianos em seu país apenas na terceira semana de fevereiro: ataques cibernéticos contra o Ministério da Defesa e duas maiores instituições de crédito, PrivatBank e Oschadbank. Por algum tempo, os clientes não conseguiram usar seus cartões de pagamento, o banco online ficou fora do ar.

Está sendo relatada uma intensificação nos confrontos na linha de frente no leste da Ucrânia – entre os rebeldes pró-russos treinados pela Rússia e também apoiados por soldados de Lugansk e Donetsk e o Exército ucraniano. E há relatos de que a Duma russa reconhecerá as autoproclamadas repúblicas populares.

A lista pode ser facilmente expandida. Estas são apenas algumas ações individuais recentes da guerra híbrida que a Rússia vem travando contra a Ucrânia há oito anos. Muitas vezes, o mundo nem percebe. Para o povo da Ucrânia, é parte da vida cotidiana.

"No princípio da guerra híbrida, os meios não militares são particularmente importantes", diz Margarete Klein, pesquisadora especializada em Leste Europeu do think tank berlinense Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).

"O objetivo principal não é a conquista militar de território, mas garantir a influência. As demonstrações militares de poder, como o envio de tropas, o exercício militar em Belarus e também a comunicação cronometrada, por exemplo, ao anunciar a retirada, fazem parte de uma caixa de ferramentas Trata-se também de determinar a narrativa”, afirma a especialista, acrescentando que esses são artifícios que o presidente russo, Vladimir Putin, domina de forma “magistral”.

Preocupação mundial, serenidade em Kiev

Quem nesses dias observa as mídias sociais ucranianas, se surpreende com o que vê: enquanto a política mundial discute freneticamente a agressão russa contra a Ucrânia, muitos no país estão surpreendentemente calmos. Claro, também há famílias preocupadas e que agora estão pensando em deixar o país, para se juntar a parentes na Alemanha ou na Polônia. Diz-se até que Israel está preparando uma extensa campanha de retirada de judeus da Ucrânia.

Mas o clima é tranquilo em Kiev. O povo obviamente se acostumou com a guerra híbrida travada pela Rússia contra seu país, é possivelmente mais resistente que a excitada imprensa mundial. Tem sido assim há oito anos: desde a assim chamada "Revolução da Dignidade" na Praça da Independência (Maidan), na capital ucraniana.

"É uma estratégia de desgaste, com a qual se tenta pressionar a Ucrânia, principalmente internamente, e assim, no longo prazo, trazê-la de volta a um curso pró-Rússia", diz a pesquisadora do SWP. "Uma meta com certeza é também provocar uma fadiga do Ocidente em relação à Ucrânia."

Aviões da Ukraine International em pátio de aeroporto
Economia sob ataque: ameaça de guerra fez Ukraine International perder cobertura de seguroFoto: Maxym Marusenko/NurPhoto/picture alliance

A intensão é criar pressão: "Especialmente ao retratar a liderança dos EUA como paranoica. Isso inclui o anúncio da retirada no exato momento em que o chanceler federal alemão Olaf Scholz está visitando Moscou", exemplifica Margarete Klein.

"Ao mesmo tempo, ainda não vemos evidências suficientes de uma retirada substancial, especialmente em relação àquelas unidades que foram enviadas de longe, como da Sibéria ou do extremo oriente. Isso seria realmente um sinal de retirada. Em vez disso, são retiradas apenas tropas que podem ser enviadas novamente de forma rápida."

Putin mira a economia da Ucrânia

Esse show militar tem um impacto concreto na Ucrânia. Por causa do perigo de guerra – real ou não – a companhia aérea nacional Ukraine International perdeu sua cobertura de seguro de curto prazo e anunciou que transferiria suas aeronaves para o exterior. O governo teve que considerar a criação de um fundo de segurança para a companhia aérea de 500 milhões de euros (R$ 2,9 bilhões).

O rumo pró-europeu na Ucrânia, ressalta Klein, está recebendo apoio econômico do Ocidente, sobretudo da União Europeia. "Um dos objetivos de Putin na guerra híbrida é, portanto, atingir a economia da Ucrânia", ressalta, acrescentando que a Rússia não está preocupada em ter um amortecedor de segurança contra os países da Otan do Leste Europeu, mas com o fim completo do curso da Ucrânia em direção ao Ocidente. "A guerra híbrida cria incerteza, que também visa afugentar os investidores."

Recuperação rápida da pandemia

Economicamente, a Ucrânia está sendo surpreendentemente bem-sucedida em seu curso para o Ocidente. Em 2021, a balança comercial entre Alemanha e Ucrânia se recuperou em apenas um ano do choque da pandemia de covid-19 de 2020 e agora está de volta a 7,7 bilhões de euros (R$ 45 bilhões).

"Cresce a impressão de que a Ucrânia pode se recompor", comentou o chefe da Câmara de Comércio Alemanha-Ucrânia, Alexander Markus, durante uma conferência online em meados de fevereiro. E sobre a guerra híbrida de Putin: "Não acho que vai funcionar." Acima de tudo, ele vê "jovens que querem criar algo" no país.

O espírito da revolução pró-europeia da Maidan é o que torna a Ucrânia tão interessante para os investidores ocidentais. Na época, escolares e universitários, hoje muitos deles são fundadores de start-ups e jovens empreendedores.